sábado, 30 de julho de 2011

O que é o Capitão América?

Um pouco sobre o mais idealista de todos os super-heróis

É facil odiar o Capitão América. Símbolo máximo do patriotismo americano, ele personifica todo o sentimento descrito no utópico Destino Manifesto, cartilha criada no início do Século XIX que citava o dever norte-americano de zelar pelo bem do mundo. Em seu primeiro número, “Captain America Comics #1”, de 1941 e portanto auge da Segunda Guerra, o herói surge cumprindo o objeto pelo qual foi criado: socando fortemente Adolf Hitler. Então, como explicar a existência do Capitão América em uma década tão anti-americana como a atual, e a passada, e a anterior... e, basicamente, todas as décadas desde o fim da Guerra Fria?

Criado na segunda geração de super-heróis americanos, ao lado de Superman e Batman (a primeira é do Fantasma, em 1909!), o Capitão América é o espelho Marvel do alter-ego de Clark Kent, mas com os traços de seu criador, Jack Kirby. Ou seja, enquanto Superman é um alienígena superior desde que nasceu, mandado à Terra por seus pais, Steve Rogers sempre foi um garoto franzino, mas extremamente corajoso, que desejava mais que tudo servir ao seu país durante a Segunda Guerra Mundial. Quando participa do projeto do Super Soldado, ele se torna o Capitão América, e tudo em sua personalidade é exacerbada: sua coragem, lealdade, patriotismo. Sim, o Capitão América é tão puro e correto que chega a ser, e é, chato.

Mas justiça seja feita, Steve Rogers é mais que um chato. Afinal, ele é o primeiro Primeiro Vingador. O homem que lidera a super-equipe da Marvel, em nome da S.H.I.E.L.D. E antes de tudo, o Capitão América é leal. O que torna o personagem interessante e o que garantiu sua vida ao longo de tantas décadas, de tantas histórias diferentes, é justamente a característica pelo qual muitos o odeiam: seu apreço pelos valores americanos. Vale lembrar que estamos falando de um rapaz que nasceu em 1917 (A data de seu nascimento nunca foi alterada nos quadrinhos, um fato raro e significativo). Um jovem que passou a sua adolescência durante a Grande Depressão e se tornou um adulto quando a guerra estourou. Seus valores foram definidos neste período, e nunca se alteraram.

A partir daí, o Super Soldado viu seu país mudar, se tornar uma superpotência, subverter seus próprios valores, entrar em guerras sem sentido. O teor político de Capitão América nunca foi alterado, e de certa forma ele sempre foi usado por seus escritores como posicionamento político, e isto o fez nadar contra a corrente inúmeras vezes. Afinal, estamos falando da Marvel, uma editora que sempre teve ideias fortes e diversas vezes bateu em decisões do governo. A prova disso, está em sua morte.

A “Guerra Civil”, megaevento da Marvel publicado em 2007, marcou uma cisão no Universo Marvel. Após o governo americano criar uma lei que registraria cada super-herói, com o intuito de controlá-los, parte apoiou o governo, enquanto parte foi contra. A partir daí, a luta começou. Pois bem, o líder dissidente, o homem que brigou contra o governo e liderou uma verdadeira legião rebelde foi justamente Steve Rogers. Enfrentando a facção liderada por Tony Stark/Homem de Ferro, o Capitão América sobreviveu a uma guerra sem vencedor, mas em seguida foi morto por um simples manifestante. E assim, de forma simplória e simbólica, o maior simbolo na luta pelos valores norte-americanos morreu. De novo, isso foi em 2007, na Era Bush. Em seu momento final, o Capitão América foi mais patriota do que nunca, e isso, nem sempre, é um defeito.

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