sábado, 11 de abril de 2009

U2 bate na trave em novo albúm.

Foram 5 anos de espera. Desde o lançamento de How to Dismantle an Atomic Bomb, em 2004, o U2 vem prometendo mudar seus próprios rumos em seu próximo trabalho. A expectativa criada foi gigantesca, e não era para menos. Bono deu um tempo em seu trabalho messiânico pelo mundo e mergulhou em um estúdio no noroeste do Marrocos junto com seus três companheiros e o produtor Brian Eno. O lançamento, originalmente previsto para março de 2008 foi atrasado duas vezes e só pudemos ouvir ao primeiro single – Get on your boots – em janeiro deste ano. Mas enfim, No Line on the Horizon chegou.

Se for para analisar a carreira musical do U2, algo que é difícil em razão do tamanho assombroso da banda, veremos que ela pode ser claramente dividida em três fases, cada uma com seu ponto inicial e final próprios. A primeira é a década de 80, do rock pós-punk com forte carga política, sonoridade crua e um Bono cantando com mais energia e menos melodia. O ponto final desta fase é claramente o emblemático Joshua Tree. Considerado até hoje o maior álbum da banda, Joshua fez do U2 uma banda com sonoridade grandiosa, que se aventurava fora de sua zona de conforto. A prova definitiva disto veio em 1991, com Achtung Baby, um trabalho genial que pouco tinha a ver com aquele U2 de 2 anos atrás. O álbum deu um novo rumo à banda, que pisou forte na sonoridade pop, abusando de recursos eletrônicos. O lado bom é que a fase trouxe o ótimo Zooropa, o lado é ruim é que trouxe o péssimo Pop, justamente o ponto final de sua fase, em 1998.

Por fim, chegaram os anos 2000 e, com eles, All that you can leave behind. E uma surpresa: em seu primeiro single Beatiful day, vimos uma banda que retornou ao seu estágio entre os anos 80 e 90, com um álbum que remete diretamente à Joshua Tree, com letras fortes e uma capacidade absurda de trazer músicas que emocionam. How to dismantle an Atomic Bomb pode ser visto apenas como uma continuação direta deste álbum. Vale dizer, depois de ver todo este retrospecto da carreira da banda é que No Line é simplesmente mais um ponto de chegada. Um novo turning point, por assim dizer. E o álbum deve ser analisado com todo o cuidado que sua condição atual requer.

Antes de tudo, evite o preconceito despertado por Get on your boots. A música é a pior escolha de single que o U2 fez em muito tempo, não trazendo o espírito do álbum e tendo o grave defeito de ser facilmente esquecida. A melhor candidata seria justamente a música que dá nome e abre o álbum. No line on the horizon traz um vocal forte de Bono Vox, que parece cantar no limite em todas as músicas, conduzida pela grande marca deste álbum: uma bateria constante e forte de Larry Mullen Jr. Em doses homeopáticas, No Line apenas introduz levemente os elementos que veremos a seguir no álbum. Um leve deja-vu de Acthung Baby brota na mente quando a música termina. Magnificent, outro provável single, nos faz lembrar que ainda existe algo da década de 80 nos rapazes irlandeses. Com um refrão que fará o público cantar em coro e que vai emocionar os mais aficionados, talvez esta seja a música com a sonoridade mais óbvia do álbum (não que isso seja ruim).

A coisa continua nesse ritmo pelas músicas seguintes. Apresentado um ou outro conceito novo a cada música, com momentos altos e baixos. Entre os ápices temos a linda Moment of Surrender, uma música com a marca de Bono e Brian Eno, liderada novamente pela bateria e pela guitarra de The Edge. Este último, por sinal, traz alguns de seus melhores momentos nos últimos anos. Se a atenção nos trabalhos recentes recaiam sobre Bono e Larry, aqui ela fica o guitarrista.

Também merecem destaque White as snow e Stand Up Comedy. As músicas com maior teor político do álbum, mas com grande riqueza melódica, principalmente a introdução da primeira. Os pontos baixos são justamente os momentos que a banda pisa mais fundo no experimentalismo. Fez – Being Born soa quase afetada, com um inicio sem muito sentido. Breathe e Cedars of Leblon são perigosamente esquecíveis, enquanto “I´ll go crazy if i don´t go crazy tonight” soa levemente perdida.

Talvez o grande defeito de No Line on the Horizon seja não apontar um rumo para a banda. Em 1991, o U2 sabia qual caminho seguir, por mais que este caminho fosse perigoso. O que soa agora é que a banda de 30 anos de idade começa a enfrentar uma pequena crise de meia idade. Pode não ser nada demais, pode ser que o próximo álbum – anunciado para o fim do ano - determine de vez os rumos da maior banda do mundo. Mas ainda assim, o sentimento após No Line é de que a revolução prometida pela banda ficou no "quase".

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