domingo, 18 de maio de 2014

Livro de Graciliano Ramos apresenta conflitos entre memórias

Por Ana Paula Souza, da Agência USP de Notícias
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Estudo elaborado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostra que a obra autobiográfica Infância, escrita por Graciliano Ramos, apresenta características ambivalentes: ao mesmo tempo em que expõe uma narrativa marcada por episódios de violência, o livro também apresenta uma sentimento de conciliação entre o romancista alagoano e suas memórias. De autoria da pesquisadora Cristiana Tiradentes Boaventura, a tese de doutorado “Viver em paz com a humanidade inteira”: Infância, de Graciliano Ramos, e a construção de si analisa a construção literária de si mesmo por meio da reconstrução das memórias de infância.


Ao longo de sua análise, Cristiana investigou como as experiências do narrador da obra, em grande parte relacionadas à violência, também foram reelaboradas em prol de um discurso favorável à paz e à cultura. Graciliano Ramos foi visto, ao longo de sua carreira, como um autor pessimista e incrédulo. No entanto, em Infância, segundo a pesquisadora, o escritor também apresenta um sentimento de conciliação com o seu passado. “Quando se lê as memórias do autor, o lado sombrio instituído nas relações entre as personagens domina as primeiras leituras. Porém, é muito surpreendente perceber que sua leitura sobre o passado em meio a tanta violência também é atravessada por outros sentidos, como a construção de uma identidade envolta por experiências e sentimentos conciliatórios, o resgate de momentos positivos e afetuosos e a procura pela compreensão do outro”.

Crítica à violência

Para Cristiana, embora Graciliano esteja, em grande parte, envolvido com a narrativa de histórias de hostilidade, opressão e brutalidade — e isso não apenas no livro Infância —, sua sensibilidade lhe permite olhar para o passado vislumbrando algumas experiências como possíveis produtoras de um si-mesmo mais justo e compreensível. “Acredito que o resultado estético da obra contribui para a crítica à violência e, ao mesmo tempo, promove a discussão por uma sociedade mais justa”, conta a pesquisadora.

Cristiana revela ainda que o estudo passou por mudanças ao longo de sua elaboração: “De início, eram discussões acerca da violência presente no livro, buscando perceber como Graciliano articulou de maneira literária essas memórias, sempre pensando em tais questões articuladas a uma perspectiva histórica. Porém, as questões se ampliaram para reflexões acerca das experiências de não violência presentes no livro. Com isso, a pesquisa ganhou outra dimensão, levantando também questionamentos sobre a ressignificação da infância e a construção literária de si mesmo envoltos por experiências de sentido formador”.

Orientada pelo professor Luiz Dagobert de Aguirra Roncari, Cristiana se debruçou sobre um processo de pesquisa que se desdobrou ao longo de cinco anos. Nesse período, houve a leitura apurada de Infância, com a análise de cada um dos capítulos, seguida do recorte e interpretação da obra. Em paralelo, foram feitas as leituras teóricas para a sustentação da linha interpretativa escolhida, bem como a leitura de estudos sobre o autor e de memórias e autobiografias de outros escritores brasileiros.

Um comentário:

teauthe disse...

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