Com um show de três horas de duração, o Dream Theater marcou sua sétima passagem pelo Brasil agradando gregos e troianos no dia 4 de outubro dentro do Espaço das Américas, São Paulo. Para os fãs da fase clássica da banda, músicas da era Mike Portnoy foram executados com precisão e respeito. Para os novos adeptos do gigante do metal progressivo, já com Mike Mangini na bateria, novas composições foram apresentadas com direito a videoclipes.
O show abriu com uma animação envolvendo as capas dos álbuns do grupo e "False Awakening Suite", a abertura instrumental pesada do novo disco "Dream Theater" (2013), seguida por "The Enemy Inside" tocada junto com o videoclipe original. A banda investiu em músicas recentes no começo da apresentação, abordando os atentados de Boston ocorridos nos EUA no ano passado e os problemas com veteranos das guerras do Afeganistão e do Iraque. Sete composições das nove tocadas inicialmente eram de 2011 para frente.
A banda fez uma coroação neste show, assim como está fazendo em toda a turnê: O novo líder do Dream Theater é o guitarrista John Petrucci. Com sua guitarra customizada JPS Majesty, da Ernie Ball Music Man, o instrumentista norte-americano com cara de Jesus Cristo barbudo abusou de solos encorpados e mais eletrônicos em um equipamento novo. O solo de Petrucci, que ocorreu logo após de "Looking Glass", misturou harmônicos e velocidade com um palco colorido que mudava de cor de acordo com suas improvisações. Suavemente, e dominando seu instrumento, John Petrucci transformou uma participação solo de sua guitarra elétrica na introdução de "Trial of Tears", música clássica do disco "Falling Into Infinity" (1997).
Mas a coroação de John Petrucci não seria completa sem a voz de James LaBrie, que cantou afinado os clássicos e as músicas da nova geração de fãs do DT. LaBrie trocou a palavra New York da letra de "Trial of Tears" por São Paulo. Um destaque especial foi a atuação do cantor em Space-Dye Vest, logo após de anunciar uma série de músicas em homenagem ao disco "Awake" (1994). James LaBrie sentou-se próximo do tecladista Jordan Rudess e usou suas cordas vocais com sentimento, em sincronia com o teclado e as explosões da guitarra.
A dupla LaBrie e Petrucci também mostrou garra e perfeccionismo em "The Mirror" e "Lie", músicas antigas que foram executadas com perfeição. James LaBrie saiu do palco todas as vezes em que as músicas instrumentais eram executadas, como foi o caso da novíssima "Enigma Machine". Nesta faixa, utilizando animações parecidas com as da turnê de 2008 do disco "Systematic Chaos" (2007), o Dream Theater criou animações que mostraram a banda enfrentando um enorme dragão negro das máquinas. A sequência parecia a de um jogo de videogame ao vivo.
Antes de tocar "Awake", álbum que completou 20 anos exatamente no dia do show em São Paulo, o Dream Theater tocou "Breaking All Illusions" de maneira bem high-tech, com animações que mostram a degradação das grandes cidades, do dinheiro e da tecnologia. A mensagem da composição estava em sintonia com a banda de metal progressivo, que mistura virtuosismo instrumental com comunicação contemporânea.
O tecladista Jordan Rudess teve uma participação fundamental em faixas como "Illumination Theory", que durou mais de 22 minutos assim como no disco "Dream Theater". Rudess é responsável pelo mergulho da banda nos efeitos digitais, sobretudo com solos que são executados tanto no seu teclado giratório, quanto em outro de mão ou em seu aplicativo no iPad. O instrumentista é responsável pelos temperos que dão ares futuristas ao som do DT.
O intervalo de 15 minutos que o Dream Theater deu no meio de seu show foi um dos melhores que vi em minha vida. A banda exibiu vídeos engraçados no YouTube, os melhores covers de seus clássicos na internet e até propagandas humorísticas com seus integrantes transformados em bonecos de ação.
O baterista Mike Mangini se manteve mais escondido na bateria, mas o som estava bem regulado e foi possível ouvir nuances em sua percussão, que é diferente do estilo ritmado de Mike Portnoy. Mangini se dá melhor em músicas de alta velocidade, dominando com maestria a cozinha com o baixista John Myung. E conquistou os brasileiros com seu calçado verde exótico após o final do show. E que final, devo dizer.
A banda tocou em sequência as músicas "Overture 1928", "Strange Déjà Vu", "The Dance of Eternity" (sem Liquid Tension Experiment) e "Finally Free", composições inesquecíveis do álbum "Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory (1999)".
Eu tenho uma relação pessoal com o Dream Theater. A banda surgiu em 1985, mas lançou seu primeiro trabalho, "When Dream and Day Unite", no ano em que eu nasci - 1989. Este é o quinto show que vou deles, depois de 2005, 2008, 2010 e 2012. Só não fui em duas apresentações do grupo em 1998.
Consigo afirmar com todas as letras que esta foi a melhor performance da banda mais famosa do heavy metal progressivo no Brasil. E isso certamente se deu graças à coroação de John Petrucci como novo líder do grupo, após a saída traumática do fundador e baterista Mike Portnoy em 2011.
Dream Theater é uma banda que desagradará os tios mais velhos que preferem punk rock, além dos moleques mais novos que preferem músicas mais simples no rock. No entanto, é um grupo que estará no coração dos guitarristas e bateristas de YouTube, que estudam música instrumental pesada para tocá-la até a perfeição.
Confira o setlist da apresentação em São Paulo:
False Awakening Suite
The Enemy Inside
Shattered Fortress
In The Back of Angels
Looking Glass
Solo de John Petrucci, com harmônicos, palco colorido e velocidade
Trial of Tears
Enigma Machine, com animação dos integrantes em cartoon
Solo de Mike Mangini
Volta de Enigma Machine
Along for the Ride
Breaking All Illusions
Pausa de 15 minutos
The Mirror
Lie
Lifting Shadows of a Dream
Scarred
Space-Dye Vest
Illumination Theory
Bis:
Overture 1928
Strange Déjà Vu
The Dance of Eternity
Finally Free
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