quinta-feira, 4 de junho de 2009

Crise Financeira: Músicos em "formato compacto"

Leco Peres, pseudônimo de Alexandre Peres Rodrigues, é um músico paulistano, baixista, que estreou sua nova banda Klatu (http://myspace.com/bandaklatu) em 2008. Ele também escreve textos e peças de teatro. Disposto a falar sobre crise financeira, ele faz parte de uma série de pequenas entrevistas sobre esse assunto que serão divulgadas aqui no Bola da Foca, abordando profissionais de diversas áreas.


Por Pedro Zambarda

Bola da Foca: Leco Peres, como você trilhou o caminho até formar a banda Klatu? Como você se envolveu com poesia e música? A arte é o seu ganha pão?

Leco Peres: Eu sou funcionário público e é daí que eu tiro o meu ganha pão. Após alguns anos tocando na noite, desde 1994, eu percebi que não conseguiria me sustentar só com música e artes, tanto por causa do mercado, dos donos de bares, quanto pela pequena abertura a estilos que não são o mainstream. A opção que eu tinha para me sustentar seria deixar de lado a criação, a parte autoral, e passar a tocar covers e hypes, o que definitivamente não é o meu ideal de vida. Com isso, decidi arrumar um trampo que me desse condições de investir nos meus próprios projetos, de música e literatura. De dia, na repartição pública, de noite, nas entranhas da vida! (risos)

Juntei grana por um tempo, até conseguir bancar o disco de estréia do Klatu. Fiz em conjunto com a Carol Arantes, em produção independente e isento de restrições do mercado. O Klatu veio da idéia de gravar um disco solo, sem regras ou direcionamentos, o mais livre possível. O projeto ganhou corpo com a conceituação do "rock infinito" que vai dos temas das músicas até as letras engajadas. Lançamos o Cd em 2008 e estamos só começando a batalha.

Sobre poesia e escrita, é uma paixão minha desde adolescente. Eu venho focando mais isso desde 2006. Participei de uma coletânea de textos, escrevi peças de teatro e esquetes, e venho mantendo meu blog de crônicas. E, se com música é difícil, imagine com literatura? Não há uma opção de, por exemplo, "tocar na noite". Sempre é necessário montar uma grande estrutura para o teatro, ou investir bastante num livro que ninguém mais tem o hábito de ler...

Por isso é essencial manter uma estrutura: trabalhar todo santo dia na burocracia, para manter minha liberdade criativa. É o caminho dos que não têm "QI". O Klatu continua independente, estou montando meus esquetes teatrais, e vou levando.

E não tem jeito de não fazer assim no atual sistema. Quem tem essa veia artística, essa deliciosa maldição de querer se expressar pela arte, se não fizer, pira. No mal sentido.

BF: A banda Klatu prega o "rock infinito", um estilo musical que define a liberdade e a falta de regras como marca principal. Esse ecletismo na música também aparece nas letras? Vocês tentam inovar ou permanecem em temas familiares a outros gêneros do rock? Quais músicas apresentam a crítica do Klatu?

L: Então, a idéia do rock infinito é um estilo de vida. Pregamos a diversidade, para que a honestidade musical, a música feita com o coração, seja destacada na multidão daqueles que compõem simplesmente para ganhar uns milhões. Somos idealistas mesmo, ativistas, teimosos; afinal, de gente em cima do muro o mundo está cheio. E seguimos essa postura nas letras, no mesmo sentido.

Os temas, no final das contas, são os mesmos de sempre: o ser humano em luta contra o ser humano, em todas as suas implicações. Mas os problemas são novos, como o tema do aquecimento global na música Vai Acabar. Outros temas são velhos, numa abordagem mais inusitada, como é o caso do comodismo e da massificação, em Mais 8 que 80 e Zé Eurico. O tema da paranóia é tão antigo quanto o blues, mas os tipos de paranóias também são atuais em Opus 67.

De resto, nossas músicas falam de viagens psicodélicas, atitude, e do próprio rock infinito.

BF: Agora vamos falar da crise financeira. Você acha que pode ocorrer uma mudança no cenário musical? Houve alguma mudança drástica no mercado de criação, na sua opinião?

L: Bom, ou essa crise só mostrou os dentes, ou ela é pura tática sensacionalista. De qualquer forma, o mundo está precisando pisar no freio, tanto pelo planeta, como pelas relações humanas, sociais e espirituais. Não há como continuar do jeito que está, e me parece que essa é uma oportunidade de mudança de parâmetros. Eu torço para que esse consumismo selvagem, que rola hoje, diminua ou pelo menos fique mais consciente.

Em relação ao mercado artístico, de criação, eu acho que a longo prazo retornaremos ao formato de "compacto". Ou seja, os artistas abandonarão álbuns e conceitos, e haverá uma descentralização dos hits, com muitos artistas lançando apenas uma ou duas músicas, ao invés de um disco completo.

Esse cenário já está se formando. A cena independente também está fortalecida. Enquanto as gravadoras estão derretendo, os grandes estão se enfraquecendo e se engajando nesse movimento, vide o Rick Bonadio em seu Myspace.

Com menos grana, e a demanda do público persistindo, a cena terá que ser suprida pela massa dos heróis talentosos e criativos do "submundo". Isso a longo prazo, quando o público conseguir distinguir quem é honesto, quem quer dizer as coisas, de quem quer ficar apenas posando de popstar, às custas do papai rico.

Até lá veremos mais atos desesperados da indústria fonográfica, mais pseudo-artistas, mais críticos de música bipolares, mais aberrações pedófilas...

BF: Em tempos de crise, você acredita no investimento financeiro maciço na internet? No que a internet se distingue das outras mídias? Como um artista pode se beneficiar com investimentos em inovação?

L: Acho que nem é por causa da crise, mas sim porque a internet é a plataforma do momento. Isso pode parecer piegas, mas é o que rola; a TV, o jornal, rádio, tudo está aos poucos disponível na net. Tudo no mesmo lugar, tudo a princípio democratizado.

Para o artista, isso é fundamental, pois não temos que nos submeter aos antros do Bixiga para ganhar 50 reais por show, ou ficar distribuindo filipetas de shows na padaria da esquina. O espaço está lá, o público tem ele disponível, e tudo de forma livre. As pessoas procuram o que lhes interessa, e não o que lhes vomitam na TV. Claro, há exceções, nem tudo é preto no branco assim, mas é uma tendência majoritária.

E toda novidade é útil para divulgação do artista. Desde que seja funcional, e não apenas simples novidade.

BF: Que outras áreas você acredita que serão fortalecidas após os problemas enfrentados com a escassez de empréstimos?

L: Ah, as áreas que controlam, as que mandam, as que têm a grana. Aquela história dos ricos ficarão mais ricos. Isso em termos econômicos, porque em termos humanos, todos sairão fortalecidos, mesmo que no primeiro momento as coisas estejam piores. Afinal, esse ajuste cósmico é necessário, não é? É a profecia anunciada pelos Beatles!

8 comentários:

Unknown disse...

Boa leco!

Unknown disse...

Só entrando um pouco nessa história de internet, acredito que o futuro do mundo da música vai ser a distribuição livre dela, e mesmo assim é possível ganhar dinheiro, com shows, publicidade, etc e tals.... só viajando...

Cecília do Lago disse...

Klatu não é aquela banda na qual você, Pedro, faz freela de divulgação, releases e talz?

Unknown disse...

Essa mesmo Cecilia,e não vejo nenhum problema nisso. ´Ta tão dificil, mas tão dificil crescer no mundo da música hj em dia, que usar o jornalismo pra da um poko de apoio não faz mal pra ninguem. Se a MTV faz isso com Guns, Nirvanas e Nx Zeros da vida..pq um modesto blog não pode fazer. Para de ser chata e analisa um pouco melhor o cenário, antes de crítica uma atitue que só traz coisas boa e não faz mal nenhum à profissão.

Pedro Zambarda disse...

fiz a entrevista antes do trampo.

achei a pauta interessante e postei mesmo.

Anônimo disse...

Ué...

Pelo que entendi, a Cecília não fez crítica nenhuma, só perguntou se é a mesma banda.

Mas como logo em seguida houve toda essa preocupação em se justificar, pode ser que vocês mesmos enxerguem um conflito de interesses aí...

Pedro Zambarda disse...

Pode ser sim. Mas não da minha parte, thx.

Mas realmente foi antes. Originalmente era uma entrevista que eu ia entregar pra tentar entrar no Esquinas.

Unknown disse...

A diferença eh que a gnt conhece a Cecilia e os comentários dela

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