sexta-feira, 14 de maio de 2010

Beijo de língua

Em cima do tema da crônica, amor pela língua portuguesa, no post anterior, a leitora Cecília do Lago enviou um texto dela, que reproduzimos na íntegra aqui. Segue abaixo:

"As línguas são como os homens que as criam. Tratar com elas é como amar alguém. Não existe domínio, não existe verdade. O entendimento se basta em si. Conhecemo-nos sem nem mesmo perceber. Pois o que é eterno, dentro da nossa curta vida, é imperceptível. Não fomos apresentados, não soube seu nome e quando vi, já éramos íntimos.

No início, gaguejo ao tratar com ele. Essa timidez se desfaz à força do tempo. Contamino-me. Descubro depois seu nome na escola, e recebo um dossiê de seu comportamento, com uma descrição completa de toda a sua anatomia. Acho tudo estranho, questiono o valor disso numa convivência que já vem de vários anos. Até que nosso relacionamento avança um patamar. E aí percebo que nem tudo pode ser como no começo. É preciso mais responsabilidade, as coisas não podem mais ser feitas de qualquer jeito. Tenho medo, fico insegura. O idioma quer algo mais sério, exige de mim e mostra seu lado mais frio.

Tento lidar com essa nova situação. Não consigo, passo a odiá-lo. Chamo-o de ridículo. Outros me dizem que devo mudar de ares. Conheço outros, procuro em seus braços um lugar mais confortável, como foi prometido. Não encontro. Pois assim que os conheço, já mostram seu lado mais frio, e têm exigências como o primeiro, o que nunca esqueci. Habituar-se a eles é algo formal demais. Noto que, embora com outros, ainda penso e ajo como quando estou com o primeiro. Admito, só sei pensar nele e através dele.

Volto, mais madura e compreensiva. Com uma visão melhor. Perdôo. Ele começa a me tratar melhor ao ver o quanto estou mais madura. Aproxima-se mais e aceita meu jeito carinhoso e sem elogios demais. Agora é amor. Quanto mais tempo passo com ele, seja ouvindo-o ou tocando-o, mais sinto que posso ousar. Descubro que isso é permitido. Tudo é permitido. As regras não são dogmas, mas devem ser respeitadas. Entendo isso, e sei que nem sempre vou fazer tudo corretamente, mas prometo sempre melhorar.

Ele sabe ser direto quando está comigo, mas já o vi sendo todo pomposo por aí. Dizem que é o mais difícil entre todos, mas gosto assim mesmo. Ele gosta de música, mas é difícil fazê-lo perder a timidez para cantar comigo. Acho engraçado seu jeito afoito quando o assunto é futebol. Ele é habilidoso e sempre tem mais de uma maneira de contar a mesma história. Escuto sem me cansar. Vivo desafiando-o, mas sou simplória. Ele é infinito, eu breve. Não o engano. Confunde-me quando quer, ao ponto de me fazer rir sem parar. É melindroso, cheio de armadilhas. Não abre mão de picuinhas que tenho que lidar constantemente. Sem falar que de tempos em tempo desfaz regras que ele mesmo criou. Diz duas coisas ao mesmo tempo, eu gosto de expor isso. O que eu digo a ele, só funciona com ele. Com os outros não é a mesma coisa. Não há mais ciúmes entre nós.

Ele sabe que é único para mim. Ele me inspira. Ainda não descobri tudo, e essa é a base da nossa relação. Mas quando estou sozinha e me calo, só ele sabe a saudade que sinto."

Um comentário:

Poha disse...

PORRA CASPER!!!! SO TEM DUENTE SEXUAL NESSA FACUL DE FREAKS!!!!

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