terça-feira, 13 de julho de 2010

Um funeral em forma de CD?


Uma despedida? Um adeus antecipado? Muitas perguntas saltam na cabeça do ouvinte atento de Scream, o novo álbum do criador do heavy metal Ozzy Osbourne. No entanto, pelo menos uma resposta é bem dada nas onze faixas do CD novo, lançado mês passado: o astro do rock´n´roll está em forma, fazendo o som agressivo que contagia e que é esperado por seus fãs. Nada melhor do que uma música dessas para este Dia do Rock.


A peça abre com Let it Die, onde é possível acompanhar o talento confessional de Ozzy aliado à excelente cozinha de baixo e teclado composta por Rob "Blasko" Nicholson e pelo filho do ícone do Yes, Adam Wakeman. "I'm a rock star,I'm a dealer / I'm a servant, I'm a leader / I'm a savior, I'm a sinner, I'm a killer / I'll be anything you want me to be". Osbourne se define com muitos nomes que mostram a sua vida instável. A guitarra do novato Gus G. dá suas primeiras explosões, com acordes mais concisos em relação ao antecessor Zakk Wylde. A voz de Ozzy é modulada no começo para não ser reconhecida, mas, ao longo da canção, ele vai se revelando, entre todas as definições instáveis. E sua mensagem final é "let it go, let it die", isto é, deixe tudo ir embora, morrer.

Com esse tom confessional e se liberando de definições, a guitarra de Gus novamente causa uma explosão em Let Me Hear Your Scream. Feita para tocar em qualquer situação, essa música dá o tom do novo álbum: um simples grito de um rockstar que está na fase final de sua carreira, mas em plena forma. Ozzy quer também ouvir os sons de quem o ouve, e convida as pessoas a lançarem seus gritos. Nesse pedido que, aparentemente, é violento, está também o catarse da sua música, que deve ser apreciada na adrenalina.

Soul Sucker mostra mais claramente o propósito do CD, pois Ozzy confronta seus fantasmas de um passado de abuso de drogas e problemas pessoais. O tom lento traz um pouco de melancolia, mas nosso astro consegue vencer essa assombração. Life Won´t Wait é uma das mensagens mais positivas que Ozzy Osbourne poderia trazer depois de tantos obstáculos à sua sanidade: "When it's gone, it's gone / A fight 'til the bitter end / Life won't wait for you, no / Life won't wait for you, my friend". Essa letra marcante é mesclada entre passagens acústicas e uma guitarra agressiva de Gus G. É a música sobre como resistir, não se render ao que pode te atrasar na vida e, acima de tudo, aceitar a velhice passando a tocha para frente.

Com o emocional à flor da pele, Ozzy lança a pesada Diggin´Me Down, trazendo questionamentos religiosos. Duvidando da crença cega e das falsas luzes, o vocalista questiona Deus e o próprio Jesus Cristo, orquestrado por todo o instrumental pesado. Crucify estende a crítica do divino aos problemas materiais e toda a sua mentira. A crucificação é o rompimento dos lanços verdadeiros entre as pessoas.

Fearless é uma música que traduz o espírito guerreiro de Ozzy, muitas vezes repleto de crueldade, mas tendo uma outra face de desafio contra os males que o aflingem. A música que se segue é de emocionar ainda mais quem acompanhou a carreira do fundador do Black Sabbath. Em Time, Ozzy Osbourne assume sua derrota diante do tempo, em um clima tão leve quanto Changes, mas extremamente melancólico. A guitarra de Gus G. se une a uma letra que mostra toda a instabilidade de viver. Não se deve fazer as coisas por um futuro e nem viver intensamente o presente. Em tudo, Ozzy enxerga insuficiência, mas que é natural do tempo em si.

I Want it More traduz a vontade do vocalista em viver mais, ao mesmo tempo em que se constata que a vida é insuficiente em si. Latimer´s Mercy parece um pedido de misericórdia para se retornar ao início de tudo. I Love You All é uma faixa de apenas um minuto que traduz a conclusão que Ozzy tirou toda a vida: não é possível viver sozinho. Ele agradece então a todos e diz que os ama. É uma declaração aberta tanto aos fãs quanto aos que o testemunharam de perto.

Ouvir todas essas canções e ver a capa do CD dá realmente a impressão que o compositor Ozzy está, de alguma forma, se despedindo das pessoas. Vestido de sobretudo, com asas e segurando uma bandeira preta, Ozzy Osbourne está pronto para encarar a morte. E ver um trabalho com tamanha ligação com sua vida particular é enriquecedor para seus fãs e para o rock´n´roll como um todo. Um trabalho digno para ser lembrado, embora ninguém realmente queira que a morte o leve.

2 comentários:

Isadora disse...

Ouça o Scream lendo a biografia do Ozzy, que vai fazer muito mais sentido, de verdade.

O velhinho é demais.

Pedro Zambarda disse...

Eu fiquei triste, pra falar a verdade.

Não é um assunto fácil a se falar. Ainda mais dessa maneira.

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