sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Pesquisa mostra que “fazer contas” e dar aulas resume mal trabalho de matemático

Da Agência USP de Notícias
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A quantidade de oportunidades que se abrem diante de quem se forma na área da matemática pode ser comparada ao tamanho do universo dos números: infinito. Mas na hora de prestar o vestibular, esse universo se oculta diante dos olhos de muitos estudantes que gostam de matemática. Em vez de enxergar essas oportunidades, eles só são capazes de ver os mitos que assombram quem pensa em seguir por esse caminho.



O mito de que todo matemático é professor de matemática

Nem todo matemático é, necessariamente, um professor de matemática. Seguir a carreira de professor é apenas uma opção entre muitas outras que existem à disposição de quem gosta de matemática. O coordenador do Bacharelado em Matemática do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, Leandro Aurichi, assegura que faltam matemáticos no mercado de trabalho: os bancos e as agências de consultoria financeira demandam muito mais profissionais do que as universidades conseguem formar.

Um matemático pode atuar em empresas de gestão, de logística e até de marketing. A busca pelo petróleo, por exemplo, se dá por meio de métodos matemáticos: ondas são enviadas para o subsolo e os ecos são analisados matematicamente. Dependendo das características desses ecos, são identificados os indícios da existência de petróleo naquele local.

Em uma fábrica de calçados, para aproveitar ao máximo os materiais, é preciso otimizar matematicamente a disposição das peças a serem cortadas. Esse é um desafio geométrico que demanda também o desenvolvimento de programas para realizar essa atividade automaticamente.

Quem se encanta com as soluções da matemática para problemas concretos da humanidade como esses pode seguir o caminho do Bacharelado em Matemática Aplicada e Computação Científica.

Mas a vocação para o ensino acomete muitos matemáticos. Entre esses, estão os que escolhem dar aulas para o ensino médio e fundamental e, para isso, cursam Licenciatura em Matemática . Há também quem deseja se tornar um pesquisador-professor universitário. Esse nicho de mercado costuma ser ocupado pelos Bacharéis em Matemática. Quando eles não se dirigem ao mercado de trabalho, optam pela carreira acadêmica e prosseguem os estudos com a pós-graduação (mestrado e doutorado).

O mito do matemático que morreu de fome

O medo de não conseguir garantir a própria sobrevivência no futuro é outro mito recorrente que está ligado ao anterior: “todo matemático é professor de matemática”. Por isso, cogita-se que tenha se fortalecido juntamente com a disseminação da “síndrome do professor mal remunerado”.

Segundo Aurichi, apesar de ter um bom salário, os matemáticos que seguem carreira acadêmica ganham menos do que aqueles que vão para o mercado, pois a disputa acirrada por profissionais torna os salários iniciais bastante atraentes. “Nossos alunos recém-formados têm ingressado no mercado de trabalho com salários que variam de R$ 3,5 a 4 mil e com ótimas perspectivas de crescimento profissional nas empresas”, completa completa o coordenador do Bacharelado em Matemática Aplicada e Computação Científica, Gustavo Buscaglia

O mito de que todo matemático sabe fazer contas

Entre os profissionais das ciências exatas, segundo o professor Aurichi, o matemático é o que menos sabe calcular: “A matemática que os alunos encontram na universidade é completamente diferente da matéria que eles aprenderam no ensino médio e fundamental. Aqui, nós não estamos interessados em fazer contas, mas em entender como as coisas funcionam e as relações entre essas coisas. É uma busca por uma compreensão mais qualitativa que quantitativa”.

Para um matemático, muitas vezes, é suficiente saber que a reposta para uma questão existe e é passível de ser calculada. Depois de descobrir isso, ele simplesmente não precisa fazer conta.

O mito de que matemática não combina com outras ciências

Cada vez mais as ciências exatas são reconhecidas como relevantes para o desenvolvimento de outras ciências. Da biologia à sociologia, é possível encontrar inúmeros exemplos de matemáticos que buscam desenvolver modelos para entender como as coisas funcionam nesses diferentes campos do saber. Quando chega a época das eleições, esse fenômeno fica ainda mais evidente com as inúmeras análises estatísticas que tentam prever o que acontecerá nos rumos políticos do país.

“Toda a ciência que tem algo a ver com a natureza e com o mundo real precisa da estatística”, diz Aurichi. O Bacharelado em Estatística é outra opção de curso oferecido pelo ICMC e quem se forma nessa área pode atuar em inúmeros setores, tendo em vista que o emprego das metodologias estatísticas tornou-se uma prática comum em bancos, seguradoras, na medicina, na biologia, na indústria de forma geral e no governo. Daí a conclusão de que a probabilidade de um estatístico ficar desempregado atualmente tende a zero.

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