sábado, 13 de setembro de 2014

A USP deveria ter uma faculdade de videogames?

Por Pedro Zambarda
Texto original do Brasil Post

A coluna Geração Gamer, do site TechTudo da Globo.com, entrevistou em setembro o professor, economista e jornalista Gilson Schwartz. Blogueiro do site EXAME.com e ex-Folha e UOL, o pesquisador da ECA-USP reclamou da falta de visibilidade das pesquisas em videogames na maior universidade de São Paulo e defendeu a criação de um curso de graduação de jogos na instituição pública.


"Eu diria que se todos os professores e alunos de pós-graduação da USP que já mexem com games se unissem, seria possível criar uma nova faculdade ou curso totalmente interdisciplinar voltado a jogos e entretenimento digital. Quem sabe um dia rola?", disse Schwartz à coluna. O número de mestrandos e doutorandos com foco em games cresceu bastante nos últimos anos, de acordo com o pesquisador. Sabendo disso, por que a USP ainda não tem uma faculdade de videogames? Ou uma pós-graduação interdisciplinar envolvendo a criação de jogos digitais entre vários cursos?

Numa busca rápida pelas principais graduações em jogos digitais no Brasil, encontramos a PUC e a Anhembi Morumbi na cidade de São Paulo; a Unisinos em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul; a UVV em Vila Velha, no Espírito Santo; a Infórium em Belo Horizonte, Minas Gerais; e a Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Além destas, que são referência, destacam-se a FMU, UnicSul e UniPaulistana. O total de faculdades gira em torno de 10 instituições, sendo que muitas ainda apostam mais em pesquisas no assunto, ao invés de formar propriamente profissionais especializados no ramo. Isso talvez explique porque o Brasil ainda tem 133 empresas nacionais empregando somente 1133 pessoas formalmente, segundo a pesquisa GEDIGames conduzida pelo Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da USP, financiado pelo BNDES.

Resumidamente, podemos entender que há pouco investimento em educação nível superior para games, o que resulta em poucas empresas e um mercado que promete muito, mas ainda entrega menos do que poderia, se ele for realmente o quarto maior do mundo.

A USP deveria ter uma faculdade de videogames? Poderia. A USP faria a diferença com um curso de mercado de videogames, sem muita teoria e bastante prática. Possivelmente, porque ainda temos poucas referências do que deveria ser uma "faculdade de jogos digitais".

Um curso acadêmico voltado para os games faria a diferença em nosso mercado? Talvez sim. Embora muitos profissionais não sejam os maiores fãs de uma formação teórica, a maior parte das profissões consolidadas no país contam com uma sólida base de pesquisas, muitas delas focadas apenas em teses e com investimento que enriquece a área de atuação.

O que a USP tem hoje, além de suas pesquisas de pós-graduação, é um curso para que iniciantes aprendam a fazer jogos. É ministrado pelo próprio Gilson Schwartz no Gelly Jams, uma extensão do programa Game and Entertainment Lab do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA-USP.

Uma faculdade de videogames resulta em ganhos imediatos para quem desenvolve games por aqui? Não. Mas ajudaria a aumentar áreas interessantes para pesquisa. Um levantamento da Times Higher Education em 2013 revelou que o Brasil está em 23º lugar entre 30 nações no quesito de injeção de verba privada para pesquisas universitárias. É uma posição vergonhosa para um país que tem uma USP entre seus melhores centros de formação.

O brasileiro tende a querer retornos de curto prazo, mas a educação só pode melhorar com investimentos pensando no longo prazo. E a cena nacional de games terá uma tendência de expansão ainda mais expressiva se acreditarmos no trabalho acadêmico, mercadológico e mesclado de maneira enriquecedora e sem preconceitos.

Bons jogos no Brasil não devem ser apenas feitos, mas também analisados e disseminados para formar um público que goste e que tenha orgulho da produção de seu país. Se a USP puder colaborar pra isso, então deve sim ter uma faculdade de games.

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