O enredo visa, desde o começo, estar situado em acontecimentos históricos. Dividido em capítulos, na primeira parte, em 1941, o filme começa com uma tensão sanguinária ao apresentar Hanz Landa, oficial da SS conhecido entre seus inimigos como "O Caçador de Judeus". No cumprimento do serviço, Landa elimina toda a família judia Dreyfus, escondida no sótão de uma casa de fazendeiros franceses chamados LaPadite. A única sobrevivente do massacre é uma jovem chamada Shoshanna, poupada por falta de munição do coronel nazista.
Interrompendo bruscamente a narrativa, da maneira que Tarantino é mestre, ele parte para a história do grupo chamado "Bastardos Inglórios". Já na descrição, você já pode notar o tom
nonsense do filme: são judeus sobreviventes do Holocausto e das perseguições que, recrutados por Aldo "Apache" Raine, passam a atacar nazistas, disfarçados ou em ações de guerrilha, causando terror durante a guerra. Raine estabelece como objetivo do grupo escalpelar 100 nazis por integrante, trazendo parte de seus cabelos como verdadeiros troféus, imitando a caçada de índios contra americanos na Conquista do Oeste.
Agora, pare para pensar: um bando de judeus tentando se disfarçar de alemães em plena perseguição da SS e da Guestapo. Só podia ser idéia de Quentin Tarantino, certo?

E o absurdo não pára por aí: os alvos poupados por Raine e seu grupo são marcados, na testa, com o desenho da suástica nazista, para que sejam para sempre identificados. As ações desse grupo de milícia incitam a ira do próprio Adolf Hitler em pessoa, interpretado pelo ator Martin Wuttke. É cômica e, ao mesmo tempo, sanguinária a empreitada do filme ao ilustrar a guerra.
Com o desenrolar dos anos, as duas pontas da história se encontram. Em 1944, Shoshanna, a judia sobrevivente das perseguições de Hanz Landa, assumiu o nome de Emmanuelle Mimieux e é dona de um cinema em Paris. Encontra-se com ela um veterano nazista chamado Friedrick Zoller, interpretado pelo ator Daniel Brühl, que consegue transformá-lo no personagem inorportuno que deve ser. Zoller teve suas proezas de guerras gravadas pelo ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels (Sylvester Groth). O filme, a pedido do soldado, vai ter sua estréia no cinema de Shoshanna. Nessa oportunidade, ela pretende incendiar o espetáculo e matar todos os líderes nazistas responsáveis pela morte de seus pais, incluindo Hitler, Goebbels e o temível Hans.
Por outros lado, os Bastardos de Aldo recebem a missão chamada Operação KINO, com a ajuda da atriz Bridget von Hammersmark, interpretada por Diane Kruger. A cena em que os americanos tentam se disfarçar de nazistas para conseguir os ingressos para o espetáculo está para ser registrada como um dos tiroteios mais tensos dos filmes de Tarantino.
Hans "Caçador de Judeus": um personagem irônico com um enorme cachimbo
A exibição do filme amarra bem a história, marca pela cena ridícula de Aldo Apache tentando falar italiano e, por fim, é a fez de Hanz do ator Christopher Waltz roubar a cena, sendo um dos vilões mais bizarros que Tarantino imaginou. Sem revelar mais segredos do enredo, o filme vale por sua ambientação no período da Segunda Guerra, mesmo que o intuito seja mostrar violência gratuíta e uma milícia que nunca existiu historicamente.
Por fim, não devo deixar de mencionar a excelente a atuação de Eli Roth como o "Urso Judeu" Donny Donowitz, que assassina nazistas com um taco de beisebol, além da pequena participação de Mike Myers como o general britânico Ed Fenech, líder da ação KINO.
Um bom filme pra quem quer ver porrada entre figuras histórias, sem levar a sério o excesso de sangue e cabeças escalpeladas pela guerra dos Bastardos Inglórios.