Sem transformar um livro em um manual e sem, também, despejar conceitos diferentes de ética sem nenhuma ordenação, o jornalista e professor de jornalismo Eugênio Bucci lançou, em 2000, o livro Sobre Ética e Imprensa. É uma obra que faz análises de casos polêmicos na imprensa e aponta caminhos para o aperfeiçoamento da profissão. Durante sua análise das condutas do profissional, que pode ser ético ou incompatível com as premissas jornalísticas, Bucci aposta na consolidação da universidade como um espaço de desenvolvimento e integração da mídia as necessidade sociais.
Por Pedro Zambarda
“O jornalismo é conflito, e quando não há conflito no jornalismo, um alarme deve soar” explica o autor, que se tornou professor de Ética na Faculdade Cásper Líbero entre os anos 2001 e 2002. Sua afirmação vai contra a profissão como “etiqueta”, como atitudes que parecem educadas e de bom comportamento, mas não implicam em uma reflexão sobre o ofício, em uma formação crítica do jornalista.
Dividindo o livro em 5 capítulos – “Faz sentido falar de ética na imprensa”. “A síndrome da auto-suficiência ética”, “Independência e conflito de interesses”, “O vício e a virtude” e “O espetáculo não pode parar” – Bucci traça um perfil da imprensa Brasileira, que tolerou omissões e manipulação por parte da Rede Globo de Televisão na campanha das Diretas Já, em 1984, e nas eleições de 1989, que elegeram Fernando Collor de Mello com benefício de um debate editado desfavorecendo seu opositor, o candidato metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva, atual presidente. Comparando com o jornalismo norte-americano que, com Henry Luce, o fundador da revista Time, criou a divisão “estado” e “igreja” que, associando metaforicamente com publicidade e jornalismo, sugere uma divisão clara entre esses setores – comerciais e de imprensa - dentro da mídia e de seus órgãos de comunicação.
Empresas como a própria Time, de imprensa, sendo aglutinadas a produtoras como a Warner e formando a gigantesca Time-Warner, mostram que a teoria do próprio Luce está sendo destituída pela sobreposição dos interesses publicitários aos interesses jornalísticos. Eugênio Bucci não condena o comércio que sustenta os periódicos e os canais de televisões. No entanto, diz ele que apenas o marketing não garante jornalismo que é reconhecido pelo público, não garante o que ele especifica como credibilidade. Nesse campo de reconhecimento público e de obediência aos princípios da profissão, localiza-se a ética.
Respeitar apenas a adesão das massas, a popularidade de um jornal, é, segundo Bucci, se apoiar no sensacionalismo, numa sociedade de consumo criada pelo marketing e o utilitarismo que se criou diante da revolução tecnológica, principalmente no setor da informática. “Na sociedade contemporânea, é como consumidor que o cidadão se assenhora das informações que lhe dirão como votar. Numa certa perspectiva, é possível dizer que ele já não se engaja politicamente nas causas partidárias, mas “consome” propostas administrativas” explica o jornalista, mostrando que o mercado e os negócios empresariais afetaram inclusive decisões políticas.
Por essa expansão e manipulação juntamente com a perda de preceitos éticos, Eugênio Bucci coloca a faculdade como espaço de ampliação de discussões da carreira, enquanto a profissão de jornalista deve ser realmente aprendida nas redações. “A prática jornalística nunca dependeu tanto da reflexão e do estudo como agora. Uma redação não é um balcão onde notícias são empacotadas” enfatiza, em sua principal crítica aos profissionais de hoje, que, segundo sua própria análise, acham que discutir ética é como divagar sobre o “sexo dos anjos”, isto é, iniciar uma discussão interminável e sem conclusões. Mesmo com esse empecilho criado pelos profissionais que exercem o ofício, a falta de reflexão gera uma trabalho visivelmente sem parâmetros. Para exemplificar suas críticas, Eugênio Bucci ressalta: “chega a ser chocante constatar que a maioria dos jornalistas praticamente não estuda. Ao contrário, dão mostras de um sentimento antiacadêmico e antiintelectual quase sem precedentes. Nenhum deles levaria o filho a um dentista que se orgulhasse de não cursar pós-graduação”.
Dessa forma, mesmo trazendo nos anexos desse livro códigos como os de ética da Federação Nacional de Jornalistas do Brasil (a FENAJ), ou a declaração de princípios da American Society of Newspaper Editors (a norte-americana ASNE), Bucci traz uma mensagem final que está muito ligada a uma boa formação que gera as práticas de um jornalismo correto e ético. “Por isso, também, a ética está presente em toda a decisão que busque qualidade de informação” enfatiza o escritor e crítico que, dentro dessa busca, diz que não se trata apenas de escolher entre boas ou más opções, mas entre “o certo e... o certo”.
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