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Por Pedro Zambarda
Após o glitter e a bissexualidade glam dos protagonistas roqueiros de seu filme Velvet Goldmine, em 1998, nove anos atrás, o diretor Todd Haynes penetra nas paisagens interioranas norte-americanas para contar a história de uma figura franzina, de cabelo bagunçado e igualmente influente no mundo do rock.
Sem citá-lo em nenhuma passagem, Bob Dylan é descrito de maneira abrangente no filme. Para não deixar escapar a complexidade de seus comportamentos, desde a influência da literatura beat de Jack Kerounac até os protestos que promoveu com o poeta, também beatnik, Allen Geinsberg (que aparece no filme, interpretado pelo ator David Cross), o diretor optou por criar personagens que descrevessem as diferenças e semelhanças dos "vários Dylans".
Sem citá-lo em nenhuma passagem, Bob Dylan é descrito de maneira abrangente no filme. Para não deixar escapar a complexidade de seus comportamentos, desde a influência da literatura beat de Jack Kerounac até os protestos que promoveu com o poeta, também beatnik, Allen Geinsberg (que aparece no filme, interpretado pelo ator David Cross), o diretor optou por criar personagens que descrevessem as diferenças e semelhanças dos "vários Dylans".
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O primeiro dessa seleção de criações é o menino negro e canhoto Woody Gunthrie, que é inspirado no cantor e violonista folk de mesmo nome e que inspirou Bob Dylan a empunhar um violão e tocar a música “de seu tempo”, sem estar preso ao blues de Robert Johnson e outros músicos negros das décadas de 1930 e 1940. Com o violão que tem os dizeres “esta máquina mata fascistas” (que eram do instrumento do Gunthrie verdadeiro), o garoto inspira velhos “blueseiros” e até homens brancos, além de andar escondido em trens de cargas. Interpretado por Marcus Carl Franklin, ele representa a passagem do tempo e as primeiras ousadias de Dylan sozinho pelos Estados Unidos.
O segundo, que na verdade é apresentado antes mesmo do garoto, é um personagem que não pertence a nenhum tempo e a nenhum espaço, representado apenas por uma tela branca por trás de seu corpo. Apesar de vestir roupas típicas do século XIX, o “Arthur Rimbaud” de Não estou lá, interpretado por Ben Whishaw, é um poeta que se resume ao seu cigarro e às constatações paradoxais de Dylan sobre sua própria vida. O verdadeiro Rimbaud reflete uma natureza tempestuosa em poemas que influenciaram toda uma geração de intérpretes folk e astros do rock, como a musicista e poetiza Patti Smith. Ela, por sua vez, era uma fã incondicional de Bob Dylan. Por essas relações diretas e indiretas, Rimbaud torna-se uma espécie de protagonista mais “distante” das histórias que se interligam.
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O Jack Rollins do ator Christian Bale, que se transforma no personagem Pastor John na famosa “fase cristã” de Bob Dylan no final da década de 1970, é o típico superstar popular, especialmente dentro da música folk. Portando uma gaita junto com o tradicional violão, preso por ferros, Rollins não tem uma fala sequer no filme.
O que interessa em sua essência é a imagem que Bob Dylan consagrou dos astros folks, principalmente inspirado pela música de Woody Gunthrie. Rollins é mais bem descrito pela ex-namorada Alice Fabian, interpretada por Julianne Moore. Alice, por outro lado, é uma simulação perfeita de Joan Baez, uma das primeiras namoradas “públicas” de Dylan, e tão boa compositora no folk quanto ele próprio.
Eis que surge a interpretação mais controversa e a mais cativante do filme. Em takes entrecortados, Heath Ledger, consagrado esse ano pela interpretação do Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas, encarna Robbie Clark, um homem que não é músico, mas sim um ator que interpreta Rollins em novelas de televisão. Sua vida pessoal com sua mulher, Claire, uma representação de Sara Dylan, a esposa que permaneceu mais tempo com o músico, é um constante desastre. Com sotaque francês, a mulher é atraente apenas nos tempos de solteiro, tornando-se um empecilho para sua vida desregrada mesmo estando casado.
Simultânea a história de Clark, Jude Quinn traz a faceta mais polêmica de Bob Dylan: o abandono das músicas folk, a adoção da guitarra elétrica na composição de Like a Rolling Stone e o uso de drogas mais pesadas, como o LSD. Encarnando esse “Dylan polêmico”, os traços femininos de Cate Blanchett contrastam com seu linguajar agressivo. Acordado dias e dias, Quinn abusa de afetaminas, apresenta as drogas aos Beatles (que aparecem no filme entorpecidos e perseguidos por várias fãs mulheres, após o sucesso nos Estados Unidos, em 1965) e concede entrevistas polêmicas para a imprensa britânica, durante sua turnê. Marcante também é a atuação de Bruce Greenwood, que interpreta o repórter da BBC inglesa, Keenan Jones.
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Ao fim do filme, ainda intercalando com a interpretação breve de Bale do “Dylan religioso”, Pastor John, que abandona as drogas, Richard Gere protag
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Todos esses “Dylans” – e nenhum deles, uma vez que seu nome sequer é mencionado – somam-se a trilha sonora do músico verdadeiro, como The Ballad of Thin Man, e também músicas de outras bandas, como I´m Not There (a música-título do filme), da banda Sonic Youth.
Uma imagem que ficará na cabeça de muitas pessoas ao verem esse filme será, muito provavelmente, a que Jude Quinn usa a guitarra elétrica pela primeira vez, revoltando os fãs do “Dylan folk” e esclarecendo, de vez, o caráter contestador interminável desse artista que é Bob Dylan.
Um comentário:
Filmão, com um verdadeiro Dream Team no elenco. Além da Cate Blanchett, seria um pecado não citar os talentos e as interpretações intensas dadas por Christian Bale e Heath Ledger, melhores atores de sua geração.
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