sábado, 10 de outubro de 2009

Quando a diplomacia briga com a História



Há algumas semanas os jornais noticiaram que os presidentes da Turquia e da Armênia se encontrariam para restabelecer relações diplomáticas em breve. Esse acordo, teoricamente, colocaria fim a um século de hostilidades entre as duas nações. As relações entre os dois países são conturbadas desde 1915, quando o governo turco-otomano, em um ato deliberado, iniciou uma série de ofensivas a população armênia que vivia na região. Tais atitudes resultaram em um milhão e meio de mortos e na deportação de outros milhões. O Genocídio Armênio foi o primeiro genocídio do século XX e, apesar de já ter se passado quase 95 anos, não foi ainda reconhecido.

O presidente da Armênia, Serj Sarksyan, e o presidente da Turquia, Abdullah Gül, estão tendo as suas conversas intermediadas pela Suíça. O plano de reconciliação quer, primeiramente, abrir a fronteira que separa os dois países, fechada pela última vez em 1993. Abrir a fronteira e estabelecer relações positivas com a Armênia, claramente melhoraria a imagem da Turquia e ajudaria nos esforços do herdeiro direto do império truco-otomano a entrar na União Européia. No entanto, o reconhecimento do genocídio não foi nem sequer citado nos tais protocolos.

Tendo em vista que esse reconhecimento não será pauta de nenhuma das reuniões dos chefes de Estado, a atitude de "diplomaticamente" reconciliar quase um século de injustiça é quase tentar curar uma grave doença com uma aspirina. Reabrir a fronteira e ampliar a relação entre os dois países é uma atitude muito importante, mas torna ainda mais difícil o reconhecimento do massacre ocorrido a 95 anos. Mas, como diria Hitler, "quem, depois de tudo, ainda fala sobre os armênios?".



Jovem protesta na cidade norte-americana de Los Angeles

Em protesto ao esquecimento da inclusão do reconhecimento da morte de um milhão e meio de armênios em tais protocolos, milhares de pessoas pertencentes a comunidades armênias pelo mundo fizeram, no decorrer desta semana, manifestações contra esse protocolo que tenta se sobrepor a eventos históricos inegáveis. Eles afirmam que não se pode "vender o histórico de um país por meros interesses econômicos". Com cartazes acusando o presidente de trair as suas origens armênias, dizendo que não se negocia a história de um país e que essa atitude apenas visa os interesses da Turquia.

O ato de reconhecimento do genocídio armênio não é apenas um mero pedido de desculpas, mas um ato de justiça. Mas, se interesses econômicos começarem a se sobrepor aos interesses históricos e sociais, o reconhecimento se tornará cada dia mais inviável. No Brasil, a comunidade armênia protestou na Avenida Paulista no dia 7, quarta-feira. Apesar de serem poucos, os transeuntes que passavam pela manifestação mostravam grande curiosidade ao que estava sendo expresso nos cartazes. No dia 10, sábado, é esperada uma grande movimentação da comunidade armênia espalhada pelo mundo, pois é a data prevista para a discussão final dos protocolos.

2 comentários:

Roxane Teixeira disse...

Puxa, isso tudo é tão complicado... Eu acabei de voltar da Turquia, e falando com o pessoal de lá, ficou claro que mesmo dentro do país a população se divide. Meu guia mesmo contou que a família dele escondeu refugiados armênios... Infelizmente, os extremistas dos dois lados parecem não enxergar essa possibilidade de paz...

Pedro Zambarda disse...

Reconhecer um genocídio, seja qual for, é complicado em si.

Seja Turcos e Armênios, Alemães e Judeus, enfim.

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