quarta-feira, 26 de maio de 2010

O fim de Lost. E a lição que podemos aprender com ele.


Lost acabou. Dito desta forma, simples e direta, é só mais uma série que se encerra, como dezenas por ano. Mas não é exatamente por aí. O fim de Lost significou algo maior, bem maior. E nem estou me referindo à legião de fãs que ficaram órfãos, nem à propagação viral que a série teve, quebrando fronteiras não apenas geográficas, mas midiáticas - se antes ver uma série de TV era algo a ser feito na televisão, Lost mudou isso. Não, não é nada disso. Me refiro à lição que o mundo teve com o último episódio da série mais importante de todos os tempos.

Foram seis temporadas, 168 episódios de mistérios que deveriam ser, em sua maior parte, resolvidos nas últimas duas horas e meia de programa, transmitidas ao vivo para mais de 50 países. Era o que todos esperavam, um episódio cheio de resoluções para todas as dúvidas dos fãs. Quase uma verdadeira aula didática sobre a mitologia em volta de Lost. Pois bem, nada disso aconteceu. Poucos mistérios foram solucionados. Muitas dúvidas foram deixadas no ar. Porém, em contrapartida, os fãs tiveram a honra de assistir a um dos mais brilhantes episódios já produzidos pela televisão, além de uma verdadeira aula de narrativa, direção, roteiro, trilha sonora e interpretação. Tudo, tudo foi tecnicamente perfeito no fim de Lost.

Não são poucos os que estão dizendo por aí que o fim da série decepcionou. Na verdade, são muitos até. Mas hoje, vendo o último episódio pela segunda vez, percebo que estas pessoas viram a série pelo motivo errado. Ou talvez ainda não tenham percebido o real motivo. Carlton Cuse e Damon Lindelof, produtores e roteiristas de Lost, disseram uma vez que a verdadeira essência da série não estava nos mistérios, na Ilha ou nos tão fatídicos números. A essência estava nos personagens. Na época, ninguém acreditou neles. Ninguém, exceto a ABC, que mesmo com índices de audiência oscilantes, bancou a série e fez algo que poucas redes de TV no mundo fizeram até hoje – e incluo aqui principalmente as redes brasileiras. Cuse, Lindelof e a ABC acreditaram na inteligência do telespectador.

Não foi raro ver imagens de pessoas derramando lágrimas e lágrimas ao redor do mundo, principalmente nos EUA. A cada momento que os personagens principais de Lost descobriam a verdade sobre suas vidas, uma onda de emoção batia, e como em um estalo, a ânsia de resolução por mistérios se esvaia. Os criadores estavam certos. Eles apostaram na inteligência de quem estava vendo a série e a maioria percebeu o que realmente importava em Lost. Se os mistérios iam e vinham, um atrás do outro, havia sempre uma constante. Os personagens, as pessoas. Todos se conectaram a estes personagens de algum modo. E depois de tanto sofrimento, de tantas mortes e desilusões, elas podiam finalmente ter seu momento final de felicidade. E assim, dessa forma, o final da série foi sim tão perfeito como ele jamais poderia ter sido, revolucionando a seu próprio modo, e talvez pela última vez, o modo de fazer TV.

E talvez, quem sabe com muita sorte, não seja esta uma lição que possamos aprender aqui no Brasil. Enquanto nos EUA ou na Inglaterra as reações foram em sua maioria positivas, no Brasil poucos puderam entender. A coitada da jornalista escalada pela Folha ficou tão perdida a ponto que eu questionei sua inteligência. A verdade é que fomos criados e alimentados por uma fórmula velha e obsoleta: a telenovela. Estamos acostumados com o maniqueísmo, com os roteiros mastigados e com as frases feitas. Estamos acostumados com o vilão punido no final e com revelação do misterioso assassino. Nunca nos deixaram pensar. Nunca nos deixaram interpretar. E, assim, nunca aprendemos a fazê-lo.

3 comentários:

MissBruno disse...

Concordo completamente. Acabei de assistir, chorei h.o.r.r.o.r.e.s. O final realmente não poderia ter sido melhor, ou com uma moral tão forte. Simplesmente foda. E para quem critica, (SPOILERS) quero ver fazer uma morte assim, tão bem articulada, filmada, planejada, perfeita. Fazer longa de 90 minutos parece fácil. Quero ver segurar a galera por 5 anos, e ainda mostrar que todo mundo já sabia. =D

Pedro Zambarda disse...

Interessante o final.


Mas o roteiro podia ser mais curto. 3 anos. 90 minutos. Acho que é mais justo do que 6 anos.

Mas toda a história pode ser boa com uma boa mensagem. Formato sempre é questionável.

Thiago Castilho disse...

Parabéns pela crítica lúcida e madura. Sim, foca, ainda n aprendemos a interpretar. Nunca aprederemos?
Nao deixe de observar meu blog. Eu ofereço algumas respostas que os produtores se recusaram http://www.esconderijo-do-observador.blogspot.com/
um abraço.

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