Nascido em Alexandria, no Egito, e criado no Reino Unido, Eric John Ernest Hobsbawm morreu no dia 1º de outubro de 2012. Historiador, o escritor foi lembrado em obituários por seu marxismo militante durante a vida, que foi polêmico ao defender a União Soviética em pleno colapso do Muro de Berlim.
A questão é que a maioria dos textos jornalísticos não lembrou das teses mais interessantes da pesquisa histórica de Hobsbawm sobre o capitalismo, a industrialização e as revoluções. Em primeiro lugar, Hobsbawm estabeleceu na trilogia "A Era das Revoluções", "A Era do Capital" e "A Era dos Impérios" uma divisão histórica diferente sobre o período entre 1789 e 1914: Ele pensou os processos de democratização, capitalização e expansão da Europa na África como etapas particulares e próprias da era contemporânea. E, ao tratar do século XX no livro "A Era dos Extremos", ele mostrou como os conflitos militares alcançaram proporções globais, assim como as ciências e a economia.
O segundo dado interessante, e uma tese genuinamente peculiar, é que Eric Hobsbawm não acreditava na Guerra Fria, o terceiro conflito do século XX, como uma guerra real. Hobsbawm colocou as diferenças entre URSS e EUA como uma farsa de nações acomodadas com as conquistas adquiridas na Segunda Guerra. Sobre essa farsa, diz o historiador marxista:
A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não existia perigo iminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica apocalíptica de ambos os lados, mas sobretudo do lado americano, os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio de poder desigual mas não contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia predominante influência - a zona ocupada pelo Exército Vermelho e/ou outras Forças Armadas comunistas no término da guerra - e não tentava ampliá-la com o uso da força militar. Os EUA exerciam controle e predominância sobre o resto do mundo capitalista, além dos hemisfério norte e oceanos, assumindo o que restava da velha hegemonia imperial das antigas potências coloniais. Em troca, não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética.
Ou seja, a crítica de Hobsbawm permanece atual no mundo em que vivemos, onde a Rússia nada mais é do que resultado de um acordo entre URSS e EUA. Para os que criticam o marxismo de Eric Hobsbawm, esta tese prova que ele sabe tecer uma crítica saudável sobre contrastes ideológicos que, por mais que fossem gritantes, não geraram uma guerra mundial de proporções reais. E tudo terminou em acordo das duas superpotências.
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