terça-feira, 22 de junho de 2010

Os militantes de Twitter e a guerra de Dunga

E a guerra foi enfim declarada oficialmente. Depois de 3 anos e meio de birrinhas, carinhas fechadas e emburradas, finalmente Dunga e a Rede Globo entraram de vez em choque, graças a mais um cordial episódio protagonizado pelo técnico da Seleção Brasileira. Afinal, existe exemplo maior de educação do que xingar covardemente um jornalista, que apenas falava ao celular, durante a coletiva OFICIAL da FIFA após a vitória de 3 a 1 sobre a Costa do Marfim?

Foi a gota d’água que a Globo estava esperando. No mesmo dia, Tadeu Schmidt leu uma editorial criticando a postura do técnico, que “não condizia com uma carreira tão vitoriosa no esporte e um cargo tão importante”. Pois bem, em um mundo que as pessoas pensam que o Twitter é importante, logo choveram manifestações de apoio ao técnico da seleção. Um “Cala Boca Tadeu Schmidt” virou trending topic e agora foi lançada a campanha #UmDiasemGlobo. As manifestações de apoio ao nosso técnico não param por aí. Basta ler qualquer comentário nas noticias relacionadas ao tema nas páginas eletrônicas do Estadão ou da Folha.

Sempre que alguém fala algo contra a Rede Globo, surgem as viúvas das Diretas Já para soltar seus tão criativos gritos, como “O povo não é bobo, fora Rede Globo”. O que os gênios não percebem, é que as coisas mudaram. A Globo ainda é importante, mas nem sombra da influência marrom que era nos anos 80, e sua vontade de controlar tudo que ocorre neste país, inclusive o esporte, se vai aos poucos. Mas o que os gênios têm mais dificuldade em entender mesmo é o fato de que Dunga não peitou a Globo. Dunga odeia mesmo é a imprensa. Dunga odeia a essência do bom jornalismo.

Sempre defendi que o técnico da Seleção tem bons motivos para ter ressentimentos contra jornalistas. Foi taxado como símbolo de uma geração que fracassou em 1990, a “era Dunga”. Quando deu a volta por cima em 94, ninguém veio lhe pedir desculpas. Até aí tudo bem, é seu direito. No entanto, acho que o poder e a responsabilidade subiram a cabeça de Dunga. É claro em suas entrevistas que Dunga não vê que os jornalistas devem trazer fatos. Para o técnico, eles devem torcer, exaltar e, o mais grave, esconder tudo que há de errado.

Quando a imprensa publicou a tola discussão entre Júlio Baptista e Daniel Alves, Dunga retaliou. Fechou o treino seguinte. Todos sabiam o que se passava em sua cabeça. Copa do Mundo é época de mostrar apenas o que é bom, e esconder o que há de errado. Mas o que Dunga esquece é que foi justamente esta postura que não revelou a zona que foi a Copa de 2006. Mesmo com o grupo evidentemente controlado e trabalhando seriamente, o técnico quer mais, quer o jornalismo seja deixado de lado, e que o Brasil, como nos bons anos 70, "ame-o ou deixe-o".

Está na hora então dos corajosos e geniais militantes de Twitter pensarem um pouco mais no que representa a guerra entre Globo e Dunga, e perceberem que ela é entre Imprensa e Dunga. Se são tão a favor da liberdade de expressão, deveriam atacar é o cara que fecha treinos e faz movimentos nos bastidores para que informações não sejam publicadas, e que xinga jornalistas quando o microfone está desligado em vez de o fazer de frente ou simplesmente ignorar suas perguntas. Afinal, patrocínio paga né?

2 comentários:

babi disse...

obrigada pela sensatez.

as manifestações no twitter só me levaram a uma conclusão: que os que reclamam da globo (galvão, tadeu, etc) praticamente só assistem a essa emissora e que para reclamar tão entusiasticamente só podem levá-la muito a sério.

acho que o seu texto conseguiu ir muito além da briga da coletiva e conseguiu traçar um jeito-dunga. (tô torcendo pra 2010 ser o ano do tri!)

@mulhervitrola disse...

Eu juro que acho em vão esse movimento anti-globo. Eu não assisto e mal seu da programação, mas como a Babi falou aí embaixo, é fato que quem reclama assiste só à essa emissora. Além do mais, já teve tanta podridão que todo mundo tá careca de saber e ninguém boicotou, porque vão boicotar agora? Tá bem.

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