terça-feira, 25 de novembro de 2008

E o dia chegou!

O dia 25 de novembro de 2008 acaba de entrar para a história do rock. Se esta data será lembrada como um renascimento ou uma das grandes frustrações que gênero já viveu, só o tempo dirá. Acontece que neste dia 25 chega às lojas do mundo (mais especificamente à Best Buy, loja virtual americana) Chinese Democracy, o álbum mais esperado da história do rock n'roll. Se você se escondeu em um buraco no últimos 17 anos, eu explico melhor.

O Guns n'Roses surgiu na cena Hard Rock underground do sul de Los Angeles por volta da metade da década de 80. Era algo muito diferente daquilo que o público estava acostumado a ver. Familiarizados com o Hard Rock farofa de bandas como Möthley Crue, Poison e Def Leppard (este último em menor escala), o Guns n'Roses surgia como uma explosão de fúria para aqueles que estavam cansados de acordes que se repetiam, entoados por homens que faziam de tudo para não se parecer mais com isso, e ainda com letras que raramente escapavam da tríade sagrada: sexo, mulheres e rock n'roll. Não estou dizendo que o Guns era uma alternativa intelectual dentro do hard rock, mas falava diretamente com jovens que viviam aquela mesma realidade de onde ascenderam Axl Rose, Slash, Izzy e cia.

Em paralelo à ascensão do Guns no underground, outra grande força se instalava no mercado musical americano: a MTV. A emissora ganhava cada vez mais poder em relação as produtoras, se tornando uma referência àquilo que fazia sucesso. Se tocava na MTV, pode ter certeza que venderia muito. Foi então que em meados de 85 a emissora resolveu abraçar o hard rock, mudando-o um pouquinho aqui e ali, tornando tudo menos espalhafatoso, mas ainda sim, provocativo. Em 1986, foi graças à emissora que Livin on a Prayer do Bon Jovi chegou ao primeiro lugar nas paradas. No começo de 1987 foi a vez do Def Leppard com Love Bite. E por fim estourou uma bomba chamada Appettite for Destruction, o primeiro álbum do Guns n'Roses. Era uma mistura até então nunca vista, com influências diretas do heavy metal, glam, punk, soul e até mesmo do reagee. Tudo isso movido pela fúria de um jovem com uma voz única e um talento criativo envolto em um ego megalomaníaco, capaz de explodir a qualquer momento. Axl Rose era o herói atormentado que a MTV tanto procurava e que os jovens dos EUA de Reagan e Bush finalmente se identificavam.

De 1987 até 2008 o “Appettite for Destruction” já vendeu cerca de 18 milhões de cópias só nos EUA. “Use your Illusion I e II” não ficam atrás. Gostando ou não, o Guns n'Roses marcou a história da música nos últimos 20 anos. Uma banda qualquer teria sido esquecida pelo mundo tendo lançado apenas 3 álbuns de músicas inéditas, uma releitura mal feita de músicas punks (Spaghetti Incident) e uma trilha sonora (Sympathy for the Devil, cover dos Rolling Stones para o filme Entrevista com o Vampiro, de 1996). Chinese Democracy foi anunciado oficialmente pela primeira vez em 1995, quando Slash, Duff McKagan e Matt Sorum ainda faziam parte da banda. Logo eles foram embora, e Axl se isolou do mundo. Sua personalidade extremista se acentuou, misturando megalomania com loucura, raiva com misantropismo e genialidade com experimentalismos desnecessários. E por fim em 2000, o mundo começou a ter as primeiras amostras do que viria a tornar o Chinese Democracy. Eram músicas tocadas do nada, em apresentações isoladas do que Axl ainda insistia em chamar de Guns n'Roses. O Brasil teve uma amostra deste monstro disforme Rock n'Rio III, uma apresentação que gerou elogios e críticas extremadas de uma imprensa que parecia deslumbrada pela presença do músico ermitão.

Como disse anteriormente no texto, só o tempo julgará o Chinese Democracy e o resultado da loucura de Axl. Mas a questão que fica é o que de fato tal álbum significa após 17 anos de espera e mais de 13 milhões de dólares gastos em sua produção. Talvez a ansiosa espera pelo álbum seja apenas o resultado de um nostálgico desejo de que os Guns n'Roses surjam das trevas. Ou quem sabe apenas compartilhemos da obsessão de Axl Rose, ou ainda tenhamos crença em seu talento. Quem sabe uma curiosidade mórbida? Enfim, cada um deve responder essa pergunta por si só. Mas o Chinese Democracy finalmente chegou. Chegou em um mundo em que cada vez menos paramos para saber que álbum está sendo lançado, em um mundo que a MTV não passa mais videoclipes e heróis cheios de fúria ocupam o cinema vestidos com roupas de morcegos e ternos lustrados, e atrás dos microfones, jovens cantam com voz de choro seus problemas existenciais. Talvez não seja mais um mundo para Axl Rose.

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