terça-feira, 22 de junho de 2010

O fantástico mundo do Twitter

O microblog, que já bateu a marca de 100 milhões de usuários, traz em seu mundo virtual um leque de iniciativas que ajudaram a vida de muita gente no mundo real

Por @arianef


Como uma ferramenta que disponibiliza mensagens de texto com apenas 140 caracteres pode ajudar a vida de uma pessoa? O Twitter chegou de mansinho na internet e aos poucos ganhou o computador de muita gente. Com quatro anos de existência, o serviço de microblog mais badalado da atualidade no Brasil traz em sua bagagem iniciativas virtuais que mudaram o mundo real. E exemplos não faltam para ilustrar essa realidade. Em 2002, a designer Laila Sena descobriu que estava com câncer. Para tratar a doença, precisou de 26 bolsas de sangue e muita determinação, já que enfermeiras chegaram a dar à carioca apenas 3% de chances de viver. Oito anos depois, já curada, ela descobriu no Twitter uma forma de recompensar a iniciativa daqueles que salvaram sua vida. Numa conversa pela ferramenta, com o também designer Lula Ribeiro, nasceu a Veia Social - uma rede de relacionamento que tem como objetivo divulgar pedidos de doação de sangue e também informar sobre o assunto.

E não foi só na criação que o aplicativo de internet ajudou. Laila afirma que o Twitter continua sendo importante para o projeto, pois o ajuda a tornar referência na web. “Se alguém tem um seguidor que precisa de sangue, ele já nos indica. Se o Twitter não existisse, provavelmente nossa rede ainda estivesse engatinhando”. Com um pouco mais de três meses de vida, a Veia Social já fez três mobilizações de doação de sangue pelo país – no Recife, em São Paulo e no Rio de Janeiro -, todos com a ajuda na divulgação feita pelos twitteiros - nome dado aos usuários da ferramenta. Atualmente, a iniciativa divulga cerca de 50 pedidos de doação.

A Veia Social já fez três mobilizações de doação de sangue pelo Brasil

Quem também se deu bem com o Twitter foi o jornalista Alê Rocha, de 33 anos. Portador de hipertensão pulmonar primária, uma doença rara, sem cura e fatal, ele conseguiu pela ferramenta o caríssimo e importado remédio Iloprost, fundamental no seu tratamento. Cada ampola custa quase R$ 70, e o paciente usa mais de cem delas por mês.

A saga do jornalista começou no final de 2005, quando descobriu a síndrome que é caracterizada pelo aumento progressivo na resistência vascular pulmonar, levando à sobrecarga do ventrículo direito. Os médicos chegaram a dar a Rocha três anos de vida, se não conseguisse o transplante de pulmão. Ele entrou na fila e aguarda até hoje a operação. O Iloprost tem a finalidade de aumentar a vida útil do paciente até a cirurgia. Para conseguir o remédio na Justiça – a Constituição garante a todos o direito à saúde, logo, pacientes que precisam de remédios de alto custo sempre buscam o governo -, o paulista entrou com uma ação contra o estado de São Paulo, no dia 22 de janeiro deste ano, mas não conseguiu uma resposta satisfatória.

Preocupado com o rumo de sua vida, o jornalista resolveu usar o Twitter para comentar o fato. E não é que surtiu efeito? Alguns twitteiros levaram a história para a imprensa e outros, mais ousados, decidiram cobrar do então governador, José Serra, o direito de Alê. A resposta do político veio logo em seguida pelo próprio microblog: “Vi o caso do @AleRocha. Ele terá o remédio. O governo de SP encaminhou o pedido, mas é o-bri-ga-do por lei federal a esperar o ‘ok’ de Brasília’’, postou na rede.

O medicamento chegou na casa de Rocha em abril, logo depois da movimentação dos torcedores anônimos que ele tem na ferramenta. Alê já é conhecido na web de longa data e muitas das pessoas que acompanham o seu microblog já conhecem a sua história dramática em luta pela sobrevivência. “Além de ser uma fonte de força para que eu vença a minha doença, o Twitter é uma forma de encontrar e compartilhar informações sobre minhas áreas de interesse, como televisão, política e esporte. Também é uma forma de se relacionar com as pessoas. Como nem sempre posso estar presente em eventos e encontros em razão de minha saúde, ele é uma alternativa”, testemunha.

Mas não são apenas projetos e a luta pelos direitos que fazem sucesso no microblog. O amor também está no ar pelo Twitter e o publicitário Fausto Genaro, de 30 anos, quem o diga. O paulistano conheceu sua atual namorada, a auxiliar administrativa Thais Mendes, de 23, pela ferramenta há oito meses. “Eu seguia uma pessoa que sempre dava RT (o mesmo que copiar e colar um conteúdo, dando os devidos créditos para o autor) nos tweets (nome dado as mensagens postadas no aplicativo) dela. Gostei do conteúdo e comecei a seguir também. Conversávamos todos os dias pelo Twitter, depois passamos pelo MSN e, aí, veio o namoro”, declara.

Fausto e Thaís se conheceram no Twitter

Hoje, nem mesmo a distância de cerca de 700 km – ele mora em São Paulo (SP) e ela em Muriaé (MG) – desanima o casal que costuma se ver a cada 15 dias. “O Twitter foi fundamental por uma fase bacana da minha vida, até porque pelas nossas características nunca nos conheceríamos sem o uso dele”, destaca Fausto, que não teve apenas a sorte de encontrar uma namorada pelo aplicativo, mas também ganhou um convite para um evento de comunicação que queria participar, mas estava com as inscrições encerradas. “Comecei a descarregar minhas frustrações no Twitter por não ir ao evento. Do nada começa a me seguir uma moça que logo me pediu o MSN. Era uma das organizadoras que me convidou a ir de graça e com acesso a lugares que jamais conseguiria conhecer comprando apenas o ingresso tradicional. Tudo graças ao Twitter”.

E você pensa que acabou? A ferramenta também serve como palco de emprego. A estudante de Jornalismo Bárbara Cruz, de 19 anos, conseguiu um free-lance por meio da divulgação de vagas do perfil Link Zero, uma iniciativa de Alexandre Sena para ajudar os internautas a encontrar trabalho. O serviço durou apenas três dias, mas, segundo a brasiliense, ele serviu para aumentar sua rede de contatos. “Mandei meu currículo sem muitas expectativas, pois ainda sou universitária. Acabei conseguindo a vaga e cobri um evento legal e que me abriu muitas portas. Foi uma ótima experiência”.

O Link Zero nasceu antes mesmo do Twitter, em 2003. Sena, que pesquisa as vagas em sites da internet e também as recebe de empregadores por e-mail, não sabe ao certo quantas pessoas já ajudou, mas garante que são centenas. O jornalista, de 35 anos, decidiu criar o perfil do seu projeto no microblog porque acredita que ele seja uma revolução na forma de divulgar conteúdo na web. E a iniciativa deu certo mesmo, Bárbara agradece.

O lado mau do Twitter

Céu para uns, inferno para outros. Nem todo mundo teve sorte com o microblog mais badalado dos últimos anos. O diretor comercial da empresa de hospedagem de sites Locaweb, Alex Glikas, causou a revolta de muitos são-paulinos ao enviar uma frase favorável ao Corinthians via Twitter durante o clássico válido pelo Campeonato Paulista, no dia 23 de março deste ano. O fato resultou na sua demissão por conduta antiética. Glikas é corintiano fanático e escreveu: “Sou fã do Rogério, se continuar assim está ótimo! Chupa bambizada! Isso aqui é Locaweb”, após uma falha do goleiro, envolvendo o nome de sua empresa na ofensa. Nesse jogo, a manga da camiseta do time do Morumbi foi patrocinada pela entidade.

Outro que também não se deu bem com o Twitter foi o meia-atacante do Liverpool, Ryan Babel. O jogador holandês postou mensagens contra o técnico Rafael Benítez por não ser relacionado para a partida contra o Stoke City. A cúpula do time ordenou a remoção dos tweets e ele recebeu ainda uma multa de 25% de seu salário mensal - valor equivalente a 60 mil libras – algo em torno de R$ 157 mil.

E não foi a primeira, nem segunda vez que um jogador de futebol foi prejudicado por declarações afiadas no serviço de microblog. Em julho do ano passado, também na Inglaterra, o atacante Darren Bent contestou os entraves de sua transferência do Tottenham para outro clube e foi obrigado pela diretoria a apagar seu perfil. Já nos Estados Unidos, a punição veio pela própria federação local, que puniu o atacante Brian Ching, do Houston Dynamo, com uma multa de 500 dólares – cerca de R$ 885 - por ter criticado um árbitro via Twitter. Na NBA, principal liga americana de basquete, as mensagens polêmicas on-line foram tantas nas temporadas passadas que dirigentes, times e federação se uniram para criar uma “cartilha de bom uso das redes sociais”.

Até caso de polícia o aplicativo já protagonizou. Uma ameaça brincalhona de explodir um aeroporto rendeu ao inglês Paul Chambers, de 28 anos, uma prisão por ato terrorista e sete horas de interrogatório. A história começou no dia 6 de janeiro deste ano, quando uma forte nevasca interrompeu seus planos de viajar para a Irlanda. A mensagem chamou a atenção da polícia britânica, que prendeu Chambers no dia 13, uma semana exata após a ameaça. O twitteiro ainda foi proibido de usar o aeroporto de Doncaster por toda sua vida. Para o inglês, o caso foi algo inimaginável, pois, segundo suas declarações à imprensa britânica, ele é “um dos caras mais educados que se pode imaginar”.

Paul Chambers foi preso por causa de uma brincadeira na ferramenta

Afinal, o Twitter é bom ou ruim?

Para o bem ou para o mal, o Twitter, que nasceu em 2006, conta hoje com 120 milhões de usuários. E o Brasil já é o 2º país com maior aderência de twitteiros, com mais de 10 milhões de contas. Ano passado, a agência Bullet realizou a primeira pesquisa com o público que usa a ferramenta no país e chegou a dados interessantes. Há uma predominância de homens jovens-adultos, entre 21 a 30 anos, solteiros do estado de São Paulo e Rio de Janeiro, entre os adeptos brasileiros. As pessoas que estão plugadas nessa rede são predominantemente estudantes do ensino superior ou graduadas e estão geralmente conectadas a internet mais de 50 horas na semana.

Para o Analista de Novas Tecnologias Paulo Moraes, o sucesso do Twitter está no fato da ferramenta ser um forte canal de comunicação que permite aos seus utilizadores usarem da criatividade, explorando a melhor forma para atingir seu público-alvo. “É importante lembrar que não existe um regra de como usar o Twitter. O segredo é o usuário descobrir como fazer uma comunicação que o transforme num grande formador de opinião no que se refere ao seu propósito dentro deste meio”, ressalta o profissional.

Moraes acredita que o principal ponto positivo do microblog é a interação que ele permite e a visibilidade na rede; mas adverte a preocupação com os exageros. “O ponto negativo do Twitter está no risco das pessoas confundirem sua identidade real e assumirem uma identidade virtual, passando parte de sua vida dependente desta aplicação. As pessoas não podem assumir tal tecnologia como um fundamento, ela é apenas um meio entre o usuário e outras pessoas para uma comunicação eficaz”, explica.

O psicólogo Dr. André Morais também defende que o uso excessivo do microblog, assim como qualquer outra ferramenta da internet, pode causar alienação, o que traz sérios problemas para a pessoa. “Por causa de um mergulho profundo no mundo virtual, a um distanciamento do chamado mundo real, a pessoa vai perdendo o contato com coisas imediatas e necessárias à sobrevivência, como sair, passear, encontrar pessoas frente a frente... Isso, com o tempo, pode ocasionar um estresse e até mesmo uma depressão”.

Em seu livro The Shallows (Os Superficiais), o pensador de tecnologia Nicholas Carr reflete sobre as mudanças que estão ocorrendo em nosso cérebro por causa da internet e defende que o uso do Twitter nos deixa superficiais. “Comprimimos nossa comunicação em 140 caracteres e não ficamos muito tempo em contato com a informação. O que importa é a quantidade de notícias que recebemos”, explicou Carr a Revista INFO, em dezembro do ano passado, quando esteve no Brasil para participar da ExpoManagement - evento internacional direcionado a profissionais da administração.

O escritor também destacou que, em consequência do fluxo infinito de conteúdo na Pweb, o entendimento tende a ser mais superficial do que se tivéssemos menos informação e nos concentrássemos mais nela e por mais tempo. “O Twitter é útil e divertido para muitas pessoas, mas não acho que ele as torna melhores ou mais inteligentes. Ele encoraja o narcisismo. Faz muita gente pensar em como mandar uma mensagem para sua audiência pessoal”.

Nicholas Carr acredita que o Twitter nos deixa superficiais

Moraes não concorda com o pensador americano e defende que, como tudo na vida, o uso do Twitter será considerado bom ou ruim dependendo de como o usuário o utiliza. “A ferramenta é uma revolução na comunicação, pois dá voz as pessoas e possibilita um feedback momentâneo. Só que é preciso senso crítico por parte de quem usa, tudo vai depender de como o usuário usufruirá da ferramenta”.

Como se pode notar, não há um consenso sobre a utilidade e importância da ferramenta na vida das pessoas. Fato é que, para o bem ou para o mal, a baleia e o passarinho – símbolos do Twitter – têm poder na vida real de seus usuários.

Perfis criativos no Twitter

@ajudeumreporter
Ajuda jornalistas a encontrar fontes e informações para suas matérias

@AlguemAjuda
Eco de pedidos de ajuda, das mais variadas formas

@amostrasgratis
Apresenta links com sites de amostras grátis, brindes ou promoções na rede

@boaspromocoes
Garimpa promoções e descontos na internet

@canaldobem
Mobiliza a força das mídias sociais em prol do bem

@eleitor2010
Reúne denúncias e dados sobre irregularidades envolvendo as próximas eleições

@doepalavras
Incentiva twitteiros a enviar palavras de apoio aos pacientes com câncer do Instituto Mário Pena

@homofobiaNao
Defende os direitos dos homossexuais e divulga informações sobre passeatas e movimentos

@linkzero e @trampos
Divulgam vagas de emprego

@passagensaereas
Traz novidades de descontos, promoções e afins das companhias aéreas e de turismo

@superguia
Traz com antecedência a lista de filmes que estarão no ar nos canais abertos e pagos

@veiasocial
Divulga pessoas que precisam de doação de sangue

@vizinhosdeutero
Reúne histórias de gêmeos - contadas por eles próprios ou por seus familiares


OBS: Matéria feita para a disciplina de Edição de Revista da @fateabr.

5 comentários:

Fanny Macêdo # disse...

'O fantástico mundo do Twitter', belo título, quem usa a ferramenta sabe mesmo quão fantástico é essa ferramenta; mas além e mostrar os lados bons, você também mostrou os 'contras' da ferramenta, possibilitando ao leitor uma reflexão sobre o que o Twitter lhe propõe. Também achei muito interessante a divulgação que projetos que ajudam (e podem até salvar vidas) pelo Twitter. Parabéns pela matéria, bastante precisa e imparcial (como @arianef gosta muito do Twitter, poderia ter citado apenas os benefícios da rede social, mas mostrou os dois lados da moeda). Gostei muito, e já retwittei! (:

Unknown disse...

Twitter não é nem bom e nem ruim. As pessoas dão maior importancia a ele do que ele realmente tem

Pedro Zambarda disse...

Eu acho bom que as pessoas dêem mais importância ao twitter do que ele merece. Porque a real importância está nos vínculos que as pessoas estabelecem, não na rede em si.

O uso deve ser entusiasmado para que não morra. No entanto, é sempre bom criticar, para saber quais são seus rumos.

Excelente texto, repórter Ariane :)

Anônimo disse...

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