sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

HSM Expo Management 2009

Ou “como jogar um balde de água fria no Brasil”

Ocorreu em São Paulo, entre os dias 30 de novembro e 2 de dezembro, o HSM ExpoManagement 2009. O evento é o maior na área de gestão e administração no Brasil, organizado pela HSM, líder mundial em consultoria no setor. Foram três dias de palestras de alguns dos mais renomados nomes do meio, como o estrategista Michael Porter, considerado o fundador da estratégia de management moderna, Jack Welch – um dos maiores CEOs da história segundo a Forbes – e Paul Krugman, Prêmio Nobel de economia em 2008.

Pois bem, o que pode-se dizer de um evento como este? Foram ao total 8 palestras nos 3 dias, cada uma com 90 minutos – exceto a de Michael Porter, com 3hrs de duração – e a grande maioria de seu conteúdo foi uma grande auto-ajuda para empresários brasileiros. O que se pôde notar logo no início, após alguns minutos andando pelo evento, é que boa parte dos administradores brasileiros estão completamente perdidos no cenário que se vê no fim desta década. E não é pra menos. Um consenso geral na Expo 2009 foi que, basicamente, tudo em relação a tudo mudou.


Inovação digital, novas mídias, novos tipos de empresas e diferentes forças de tratar com pessoas. Isto tudo foi alterado profundamente nos últimos 5 anos, e não é difícil perceber que boa parte dos executivos não têm a menor noção de como controlar uma ferramenta como o Twitter por exemplo. “O que podemos fazer, e fizemos, foi expandir nossa marca, nos tornarmos praticamente onipresentes. Temos que saber que não podemos controlar as novas mídias, mas podemos influenciá-las, inspirar as pessoas a falar bem da nossa marca” disse Christie Hefner, presidente da Playboy Enterprises e filha de Hugh Hefner, em sua palestra sobre expansão de marcas. A impressão geral no auditório, mais de 5 mil pessoas, é que Christie estava falando grego. Contudo, não foi este assunto que dominou a Expo, e sim o passatempo nacional: a pujança econômica do Brasil diante da crise.

A expectativa na Expo é que nomes de efeito como Kenichi Ohmae, o maior consultor de empresas do Japão, Jack Welch e Paul Krugman ressaltassem o bom momento vivido pelo país, mas não foi exatamente isso que aconteceu. Pelo contrário: o que houve foi uma forte tendência em esfriar um pouco o furor brasileiro, assim como atacar a política econômica de Barack Obama, o outro assunto favorito do empresariado. Já repercutiu a afirmação da Krugman em sua entrevista coletiva de que “o Brasil mostra claros sinais de que pode se tornar uma bolha. Vocês podem gostar do dinheiro estrangeiro que está entrando, mas tenham cuidado. O país não vai se tornar uma superpotência econômica de um ano para o outro”. Oras, se o Prêmio Nobel de economia, reconhecidamente de linha mais liberal, afirmou isto, merece ser levado em consideração.

Dois dias antes, Jack Welch, ex-CEO da GE, e membro do Partido Republicano, não falou coisas muito diferentes de Krugman. “As pessoas no Brasil deveriam pensar no que pode fazer o trem descarrilar, e não vejo ninguém pensando nisso no momento. Só se vê essa Brasilmania descontrolada, sem ninguém pensar que algo pode dar errado a qualquer momento. E quando ocorrer, vocês deverão estar preparados. Como de fato estiveram para a atual crise”. Pode-se falar qualquer coisa de Jack Welch, que é conservador ao extremo e não entende nada de meio-ambiente (já disse várias vezes que o aquecimento global é uma farsa), mas não se pode negar sua competência em gestão. Welch também bateu duro em Barack Obama: “Os EUA estão devendo uma fortuna como nunca deveu. Promover uma reforma na saúde que vai custar bilhões num momento como este, onde mais de 80% dos americanos gostam de como as coisas estão é loucura”.

Kenichi Ohmae não foi mais macio em relação aos dois assuntos. Para o consultor japonês o que se vê no Brasil é um bom momento, uma grande chance de se colocar entre os grandes players do mercado. Porém, ainda não se vê nada de sustentável sendo feito. “Infraestrutura... não se vê investimento em infraestrutura” afirmou em dado momento. “O Brasil é um grande lugar para se investir no momento, mas não é o melhor” concluiu Kenichi. Novamente, se a expectativa dos milhares de executivos que compareceram ao evento era ter seu saco puxado e valorizado pelo momento atual, saíram decepcionados.

O resumo desse Woodstock financeiro é que as impressões que temos aqui no Brasil estão, no mínimo, exageradas. O momento é bom sim, mas boa parte do empresariado aqui se mostra meio perdido. A crise não acabou, como Lula gosta de dizer. Ela está presente, e pode aparecer novamente, segundo Krugman. Uma bolha econômica pode estourar por aqui a qualquer momento e ninguém vai saber o que fazer. Tudo isto englobado a estratégias que parecem totalmente novas e que de fato não são fizeram muita gente sair de lá sem um norte. Em um segundo semestre de otimismo exagerado, a ExpoManagement 2009 trouxe um pouco de realismo ao cenário.

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