Na Avenida Angélica, no bairro da Consolação de São Paulo, em um prédio antigo, com a entrada uma confusa sem muita sinalização e elevadores arcaicos, um senhor abre sorridente a porta de seu apartamento no último andar, receptivo como se conhecesse a visita antes da entrevista. O diálogo começa quando o senhor, vestido de traje social, com um colete de lã por cima da camisa, se encosta na cadeira de balanço, meticulosamente colocada ao lado da lareira.
O personagem, o cenário e a atmosfera mostram-se extremamente literários, ricos em detalhes e histórias. A volumosa decoração, entre muitos quadros e pequenos objetos, são em sua maioria presentes dados à Cremilda Medina, sua esposa, na época em que trabalhava no Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo. Nada mais apropriado para o escritor e jornalista Sinval Medina, ficcionista histórico (estilo que prefere chamar de “fundacional”), autor de uma vasta obra literária: 4 romances, 3 novelas infanto-juvenis, 2 livros de histórias infantis em versos, 1 dicionário de História, além de ensaios publicados na revista Novo Pacto da Ciência da ECA/USP e outras narrativas publicadas em antologias.
Contudo, a placidez e a serenidade de Sinval faz tudo parecer mais simples. “Sou um sujeito mais comum do que você pode imaginar. Sem nada de muito interessante do ponto de vista midiático.” diz. “Sou muito certinho” Sinval, se define. Colorado roxo, Sinval nasceu em Porto Alegre, em 1943, em uma família de classe média. Aos 17 anos, já tecia textos de ficção e teve o acesso à literatura não só muito rápido, mas também muito incentivado principalmente por seus pais. “Tive uma infância modesta, mas sempre tive estímulo e facilidade para estudar”, conta.
Seu pai, um executivo na área de vendas de uma multinacional, “era um leitor eclético e, nesse sentido de cultura literária, ele era autodidata”, relembra. A mãe de Sinval, dona de casa, também gostava muito de ler e nunca trabalhou. Porém, “criou quatro filhos”, brinca o escritor de riso solto, o único homem entre as três irmãs, sendo uma já falecida.
No ano de 1964, ele se formou em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e relembra o golpe militar de uma maneira bem inusitada. “Houve um atraso e a data da nossa formatura era 31 de março de 1964. No dia do golpe nós estávamos participando da solenidade da formatura”, declara. Com a repressão política, Sinval paralisou a publicação de sua produção literária, temendo o risco de ter os escritos apreendidos. “Fui escrevendo e colocando na gaveta”, revela. Publicou o primeiro romance, Liberdade Condicional, somente em 1980, quando o regime estava se abrandando. Foi também na UFRGS que o ficcionista conheceu, em um cursinho pré-vestibular, a futura professora Cremilda Medina, com quem está casado há 45 anos e tem um casal de filhos, sendo a mais velha com 43 e o mais novo com 40 anos. “A partir daí a gente praticamente conviveu todos os dias”, declara. “Além da convivência doméstica a gente tem uma convivência profissional e intelectual muito intensa”, diz.
Mesmo colaborando na área de comunicação em Porto alegre, trabalhou primeiramente como funcionário público no Banco do Brasil e mudou-se para São Paulo em 1971, quando a esposa conseguiu uma bolsa de estudos para o primeiro curso de pós-graduação da ECA e, paralelamente, Sinval também conseguiu a transferência para o sudeste. O escritor relata que, nesse momento, ou continuava burocrata para o resto da vida ou deixava a função. “Podia até virar Ministro da Fazenda. O Maílson Ferreira da Nóbrega entrou no Banco no meu concurso. Eu corria esse risco” ri Sinval.
Apesar de somar 17 anos trabalhando na editora Abril como jornalista, chegando a ser editor-chefe da revista Boa Forma, prefere a posição de escritor ficcionista pois “o dia-a-dia da redação é algo terrível para alguém que quer escrever”, indaga. Teimoso, chegava mais cedo à redação para poder se dedicar aos seus escritos; uma de suas obras, Memorial Santa Cruz, de 1983, foi em maior parte escrito na redação.
Prêmio Passo Fundo de literatura em 1999 (com o livro Tratado da altura das estrelas), Sinval Medina tece seus textos dentro do “gênero fundacional”, como define o escritor. O grande mote de suas obras é a fundação da cultura brasileira ou, basicamente, a tentativa de responder à pergunta: o que é ser brasileiro? Sinval procura fatos e personagens históricos e vai adicionando ficção à narrativa. Apaixonado por História, o escritor desenvolve uma pesquisa extremamente profunda tanto para encontrar seus personagens quanto para ambientar a história. “Ele vai a fundo para pesquisar coisas sobre esses livros, ele vai a arquivos, vai a bibliotecas, conversa com pessoas, vai atrás, levanta dados históricos, vai nos lugares onde os personagens sobre os quais ele vai escrever viveram” comenta Pedro Ortiz, diretor geral da TV USP e professor de Telejornalismo da Cásper Líbero, amigo do escritor. “Ele tem esse outro lado que é o de pesquisador”, conclui. O próximo livro do escritor, com previsão de lançamento para o fim de 2009, segue também essa linha editorial e será sobre Cristóvão Pereira de Abreu, pioneiro do tropeirismo no século XVIII, que abriu caminho por terra entre o Uruguai e São Paulo.
Extremamente metódico, herdou muitas coisas do jornalismo que aplica à vida de escritor. Sinval escreve todos os dias e, quando envolvido em um projeto, lê de 4 a 5 horas sobre o assunto que está digerindo. Ao final dessas sessões, costuma elaborar uma pauta para o próximo dia. “No pé no que eu acabei de escrever, eu faço uma pequena pauta do que eu vou fazer no dia seguinte”, detalha. Pela parte da manhã o escritor lê, todos os dias, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo e, à tarde, relê, refaz ou continua escrevendo seus textos e tenta manter um ritmo entre 60 e 70 linhas diárias. “Digito textos diariamente. 3 horas, 4 horas por dia e nunca deixo de escrever”, revela.
Elogios não faltam para esse apreciador de vinhos, que adora cozinhar. “Brigamos muito na cozinha porque ambos gostamos de cozinhar e cada um quer fazer o principal e não o trabalho subserviente”, brinca Cremilda. Receptivo e muito bem humorado, o escritor mostra-se, de acordo com os amigos, sempre disposto a conversar sobre os mais diversos assuntos. “Ele é uma pessoa extremamente acessível está sempre disponível, simpático, então isso aproxima muito das pessoas”, elogia o professor Pedro Ortiz. Quando perguntada sobre o que mais gostava no marido, Cremilda, dona dos “40 anos de motivos”, dedicatória em um dos livros de Sinval, a resposta é curta e terna: “Tudo”.
Contudo, a placidez e a serenidade de Sinval faz tudo parecer mais simples. “Sou um sujeito mais comum do que você pode imaginar. Sem nada de muito interessante do ponto de vista midiático.” diz. “Sou muito certinho” Sinval, se define. Colorado roxo, Sinval nasceu em Porto Alegre, em 1943, em uma família de classe média. Aos 17 anos, já tecia textos de ficção e teve o acesso à literatura não só muito rápido, mas também muito incentivado principalmente por seus pais. “Tive uma infância modesta, mas sempre tive estímulo e facilidade para estudar”, conta.
Seu pai, um executivo na área de vendas de uma multinacional, “era um leitor eclético e, nesse sentido de cultura literária, ele era autodidata”, relembra. A mãe de Sinval, dona de casa, também gostava muito de ler e nunca trabalhou. Porém, “criou quatro filhos”, brinca o escritor de riso solto, o único homem entre as três irmãs, sendo uma já falecida.
No ano de 1964, ele se formou em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e relembra o golpe militar de uma maneira bem inusitada. “Houve um atraso e a data da nossa formatura era 31 de março de 1964. No dia do golpe nós estávamos participando da solenidade da formatura”, declara. Com a repressão política, Sinval paralisou a publicação de sua produção literária, temendo o risco de ter os escritos apreendidos. “Fui escrevendo e colocando na gaveta”, revela. Publicou o primeiro romance, Liberdade Condicional, somente em 1980, quando o regime estava se abrandando. Foi também na UFRGS que o ficcionista conheceu, em um cursinho pré-vestibular, a futura professora Cremilda Medina, com quem está casado há 45 anos e tem um casal de filhos, sendo a mais velha com 43 e o mais novo com 40 anos. “A partir daí a gente praticamente conviveu todos os dias”, declara. “Além da convivência doméstica a gente tem uma convivência profissional e intelectual muito intensa”, diz.
Mesmo colaborando na área de comunicação em Porto alegre, trabalhou primeiramente como funcionário público no Banco do Brasil e mudou-se para São Paulo em 1971, quando a esposa conseguiu uma bolsa de estudos para o primeiro curso de pós-graduação da ECA e, paralelamente, Sinval também conseguiu a transferência para o sudeste. O escritor relata que, nesse momento, ou continuava burocrata para o resto da vida ou deixava a função. “Podia até virar Ministro da Fazenda. O Maílson Ferreira da Nóbrega entrou no Banco no meu concurso. Eu corria esse risco” ri Sinval.
Apesar de somar 17 anos trabalhando na editora Abril como jornalista, chegando a ser editor-chefe da revista Boa Forma, prefere a posição de escritor ficcionista pois “o dia-a-dia da redação é algo terrível para alguém que quer escrever”, indaga. Teimoso, chegava mais cedo à redação para poder se dedicar aos seus escritos; uma de suas obras, Memorial Santa Cruz, de 1983, foi em maior parte escrito na redação.
Prêmio Passo Fundo de literatura em 1999 (com o livro Tratado da altura das estrelas), Sinval Medina tece seus textos dentro do “gênero fundacional”, como define o escritor. O grande mote de suas obras é a fundação da cultura brasileira ou, basicamente, a tentativa de responder à pergunta: o que é ser brasileiro? Sinval procura fatos e personagens históricos e vai adicionando ficção à narrativa. Apaixonado por História, o escritor desenvolve uma pesquisa extremamente profunda tanto para encontrar seus personagens quanto para ambientar a história. “Ele vai a fundo para pesquisar coisas sobre esses livros, ele vai a arquivos, vai a bibliotecas, conversa com pessoas, vai atrás, levanta dados históricos, vai nos lugares onde os personagens sobre os quais ele vai escrever viveram” comenta Pedro Ortiz, diretor geral da TV USP e professor de Telejornalismo da Cásper Líbero, amigo do escritor. “Ele tem esse outro lado que é o de pesquisador”, conclui. O próximo livro do escritor, com previsão de lançamento para o fim de 2009, segue também essa linha editorial e será sobre Cristóvão Pereira de Abreu, pioneiro do tropeirismo no século XVIII, que abriu caminho por terra entre o Uruguai e São Paulo.
Extremamente metódico, herdou muitas coisas do jornalismo que aplica à vida de escritor. Sinval escreve todos os dias e, quando envolvido em um projeto, lê de 4 a 5 horas sobre o assunto que está digerindo. Ao final dessas sessões, costuma elaborar uma pauta para o próximo dia. “No pé no que eu acabei de escrever, eu faço uma pequena pauta do que eu vou fazer no dia seguinte”, detalha. Pela parte da manhã o escritor lê, todos os dias, O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo e, à tarde, relê, refaz ou continua escrevendo seus textos e tenta manter um ritmo entre 60 e 70 linhas diárias. “Digito textos diariamente. 3 horas, 4 horas por dia e nunca deixo de escrever”, revela.
Elogios não faltam para esse apreciador de vinhos, que adora cozinhar. “Brigamos muito na cozinha porque ambos gostamos de cozinhar e cada um quer fazer o principal e não o trabalho subserviente”, brinca Cremilda. Receptivo e muito bem humorado, o escritor mostra-se, de acordo com os amigos, sempre disposto a conversar sobre os mais diversos assuntos. “Ele é uma pessoa extremamente acessível está sempre disponível, simpático, então isso aproxima muito das pessoas”, elogia o professor Pedro Ortiz. Quando perguntada sobre o que mais gostava no marido, Cremilda, dona dos “40 anos de motivos”, dedicatória em um dos livros de Sinval, a resposta é curta e terna: “Tudo”.
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