sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Vote primeiro. Pergunte depois

Bob Roberts, filme escrito e dirigido pelo ator e roteirista Tim Robbins, traz uma crítica severa a sociedade norte-americana do começo da década de 1990, no fim da presidência de George Bush e da Guerra do Golfo. Montado como um documentário não-oficial, o longa-metragem mostra uma mistura de campanha eleitoral e reflexão sobre a política em uma história fictícia muito próxima da realidade do governo da época.

Roberts é um candidato ao cargo de senador no estado da Pensilvânia. Filho de um casal que foi hippie nos anos 1960, e que se divorciou anos depois, o jovem político cresceu de forma meteórica ao fugir de casa, se alistar no exército e tocar sua música folk aliado a um discurso conservador, tendo algumas semelhanças com o astro Bob Dylan.
A concorrência política faz uma clara referência ao Partido Republicano de hoje, que defende os interesses tradicionais nas disputas bipartidárias contra o Democrata, representado pelo senador Brickley Paiste, o adversário que quer se reeleger. O filme mostra a grande tática de marketing na formação da imagem de Bob Roberts. Ele tem seus discursos, suas músicas e sua postura completamente adaptados ao que a população quer, e o que ela não vê na gestão de Bush.

Alan Rickman, que interpreta o professor Snape na série de filmes Harry Potter, encarna o marketeiro Lukas Hart III, que elabora nos bastidores de cada aparição pública de Roberts sua estratégia para conquistar mais votos de diferentes segmentos do país. Bob Roberts não é um homem com história, mas um produto que conquista consumidores, espalhando, na verdade, ideais retrógrados com aparência jovem e moderna, a essência do marketing político em muitas campanhas atuais.

Os recursos publicitários e de aproximação com o público que Bob Roberts usa na campanha vão desde os videoclipes, que são idênticos aos da emissora MTV em 1990, até aparição em programas de televisão semelhantes ao The Ed Sullivan Show, que fez sucesso apresentando bandas nas décadas de 50, 60 e 70. Ele também não deixa de lado os tradicionais comícios, acompanhados por representantes diferentes da sociedade.

No entanto, o ápice do caminhada de Roberts ao poder é o escândalo envolvendo ele e o jornalista John Alijah "Bugs" Raplin, do jornal Trouble Times. Na saída de uma apresentação do político da TV, dois tiros são disparados e Roberts supostamente é atingido. Raplin é apontado como culpado, mesmo tendo paralisia na mão direita. O filme mostra que o evento foi o golpe de marketing definitivo para Bob Roberts conseguir votos, mesmo estando paralítico da cintura para baixo.

Raplin é o antagonista dessa história suja de política norte-americana, pois denuncia envolvimentos de Bob Roberts com tráfico de drogas para financiar todo o seu aparato de campanha. Roberts, em seus discursos, defende o combate aos narcóticos, mostrando que, apesar das fontes misteriosas de financiamento, o candidato se apóia justamente em uma postura anticrime para conseguir votos a todo custo. A prioridade de Bob Roberts é a ascensão, não importando por quais meios, prejudicando ou não as pessoas que o elegem, mas mantendo a aproximação correta com seus possíveis eleitores até o dia de votação.

Gostou do tema do filme? Veja o trailer abaixo, mostrando como Tim Robbins, além de ter escrito o roteiro e dirigido o longa, sabe encarnar a personalidade de Roberts no papel principal.


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