segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um Teto para o Brasil

Um rádio. Foi o que Rita de Cássia Batista pagou pela sua atual moradia. Quando ex-proprietária do barraco, a baiana Beatriz, resolveu retornar para seu estado de origem, trocou o local pelo rádio do filho de Rita, Felipe. Depois de seis anos morando em condições precárias, Rita e seus três filhos irão receber uma nova casa da ONG Um Teto para meu País.

"Eu tinha acabado de ver esse pessoal na televisão quando eles apareceram aqui", conta ela. A ONG fora divulgada pela TV Globo no dia em que ela preencheu o formulário para candidatura ao benefício. E deu certo. No dia 28 de Junho, domingo, os voluntários da organização foram até sua moradia, em Suzano - SP, anunciar à família que ela havia sido selecionada entre outras 40 para ter sua casa reconstruída.


A nova moradia, feita de madeira e elevada do solo, evitará a entrada da chuva, de insetos e o contato direto com o barro. Em dois dias de Julho, por volta de 80 membros da ONG vão construir outras 9 residências emergenciais no Jardim Gardênia, bairro de Rita.

As casas não são definitivas, porém. A previsão é de que durem 5 anos, em média. “As casas são uma medida emergencial para ajudar de imediato as famílias que mais precisam”, conta a estudante de arquitetura da USP Julia Nogueira. A intenção, diz, não é somente solucionar o problema da moradia, mas estimular a família a sair da condição de extrema pobreza.

Da casa, cujo valor é cerca de 2500 reais, os futuros moradores pagarão uma taxa simbólica de 120 reais, “para sentirem que a conquistaram, que é deles”, contou a voluntária. O valor padrão, de 250 reais, foi reduzido em virtude da dificuldade dos moradores de Suzano com o pagamento. O dinheiro vem, principalmente, de doações. Cada casa é erguida em cerca dois dias com materiais cedidos por empresas de construção, na maioria da própria cidade.

Constituída basicamente de universitários e recém-formados, a ONG atua principalmente no período de férias escolares, quando os voluntários têm mais tempo livre. Embora a ação nas favelas seja planejada o ano todo, ela se concretiza em apenas três dias, que é quando os "pedreiros" acampam em escolas municipais da cidade escolhida e erguem as casas."Mas no último mês de Janeiro ficamos 6 dias construindo 24 casas", conta com orgulho Felipe Mello, estudante de Psicologia da P
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Construção de uma das casas emergenciais, no Brasil.

Em três anos de Brasil, a Um Teto para meu País já contou com a participação de pelo menos 530 voluntários na construção de 112 casas nos municípios de São Paulo, Guarulhos e Itapeva. Agora será a vez de Suzano, o décimo sexto PIB mais pobre do Estado de São Paulo. Mas a ação da ONG no Brasil, chamada carinhosamente de “Teto”, ainda tem muito a melhorar em relação ao Chile, seu país de origem. Lá, a Teto existe desde 1997 e conta com apoio oficial do governo da presidente Michele Bachelet. Com a ambição de erradicar a pobreza na América Latina, os chilenos já exportaram a ONG para outros 14 países.

No Brasil, a ONG ainda está no que os voluntários chamam de Fase I: a construção de casas emergenciais. Além da ajuda imediata às famílias, a Fase I coloca os participantes universitários da organização em contato com uma realidade diferente e tocante. “Quando se constrói uma casa, todos da comunidade ficam animados, querem ajudar e querem aquilo para eles também, e aí a habilitação social vai evoluindo” relata Julia.

As fases intermediárias envolvem o estímulo da cooperação entre os moradores e a capacitação para o trabalho. "Depois, vamos tentar descobrir o que cada comunidade precisa: esgoto, escola, creche, plantar árvores, catar lixo, microcrédito, ir atrás do governo para reivindicar infra-estrutura, cada lugar é diferente", conta ela, que com 8 meses de Teto já viajou para o Paraguai e construiu duas casas, uma delas em uma aldeia guarani.

A fase final, alcançada apenas no Chile, é simbolizada pela construção da moradia definitiva e o desenvolvimento de soluções habitacionais, em parceria com o governo, a sociedade e as empresas. A comunidade, nessa etapa, é chamada de auto-sustentável, pois os moradores se emancipam do intermédio da ONG e já podem reivindicar seus direitos junto à sociedade. Espera-se que, assim, a favela se integre à malha urbana da cidade.

Como no Brasil a última etapa ainda está um pouco distante, os planos imediatos da Teto são fortalecer a atuação e a imagem da ONG, conta Lucas, estudante de Ciências Econômicas da PUC. “Queremos que a Teto seja a primeira opção das pessoas que querem fazer trabalho voluntário. Que seja uma referência no voluntarismo universitário no Brasil”.

O crescimento do terceiro setor no Brasil é cada vez maior, mas isso não implica na sua independência em relação aos outros setores. Daniela, graduanda em Arquitetura pela USP, ressalta que o sucesso do projeto no Brasil só é possível com o apoio do governo. "Não podemos passar sem o poder público de maneira nenhuma. O que fazemos é ajudá-los a se organizarem, se associarem, para poderem reivindicar seus direitos de posse de terra, de cidadania junto ao governo". Por fim, solicitou: "A prefeitura tem que cooperar com a regulamentação fundiária e prover as famílias de infra-estrutura".


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São Paulo, Junho de 2009


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