quarta-feira, 8 de julho de 2009

Passagem das Trevas para a Luz

Trazendo temas pessoais, dando destaque para solos de guitarra com feeling e com poucas músicas, mas bem progressivas, o Dream Theater revive elementos que cativam os fãs, sem perder o passo em direção ao futuro. As trevas, o peso e a agressividade estão em sintonia com a luz de muitas melodias de Black Cloud & Silver Linings, lançamento de junho de 2009 e receita de uma banda elaborada que continua aclamada por um público fiel.

Por Pedro Zambarda

A Nightmare to Remember é um óbvio retorno às origens do DT: Metallica. Mas a música não é uma cópia, pois apenas tem alguma inspiração no pessoal do thrash metal, ainda tendo sua característica mais progressiva. Portnoy provavelmente estava satisfeito com o lançamento de Death Magnetic e fez um trabalho nessa faixa que abusa do pedal duplo, parecido com a trupe de Hetfield em ...And Justice For All. Os teclados de Jordan Rudess possuem uma variedade de efeitos que fez parte de Systematic Chaos. Muito efeito wah-wah vem da guitarra de Petrucci. Mas há problemas também no instrumental, principalmente no baixo de Myung, que some no meio de uma bateria exagerada. LaBrie está em forma e mostra de cara. Não abusa de agudos e não desaparece, marcando as músicas com sua personalidade.

A nightmare to remember / I'd never be the same / What began as laughter /So soon would turn to pain. Essa faixa tem tantas nuances e uma diversidade que até o próprio Mike Portnoy, sem largar as baquetas, arrisca cantar por volta do tempo 10min. A voz dele dá uma quebra fundamental na canção. A música tem pausa no ritmo frenético por volta dos 4min e passa realmente a impressão de estar em um pesadelo, em um acidente de carro. In peaceful sedation I lay half awake / And thought of the panic inside starts to fade /Hopelessly drifting / Bathing in beautiful agony. Começo, meio e final lindos, por mais que se fale em tragédia.

Depois desse retorno ao peso e ao heavy metal que sempre foram bases do Dream Theater, A Rite Of Passage é uma balada grudenta sobre as passagens da vida e com letra mais positiva em relação à música anterior, mas ainda com um peso e virtuose que a deixa respeitável para fãs do progressivo. Traz na letra, também, referências claras a maçonaria e nenhuma aos integrantes da banda, desembocando em outros assuntos. Turn the key / Walk through the gate / The great ascent / To reach a higher state /A rite of passage. John Petrucci está realmente equipado com pedais, mas não deixa de usar escalas elaboradas em um solo, enquanto Portnoy resolve reduzir o ritmo sem perder qualidade. LaBrie sobe um pouco a voz, sem se comprometer, e, infelizmente, Myung continua apagado.

Wither não é rica instrumentalmente, mas acerta em outra balada marcante e uma letra mais soft (e é a mais curta do álbum, 5min25s). Lembra I Walk Beside You, do Octavarium, que ainda desperta a raiva dos devotos da primeira fase da banda, mas é acessível a fãs de outros estilos. I wither /And render myself helpless / I give in /And everything is clear / I breakdown / And let the story guide me / I wither / And give myself away. LaBrie canta com naturalidade e à vontade, com o coro de vocais de fundo formado por John Petrucci e Mike Portnoy.

A distorção mais pesada da guitarra anuncia a próxima música, acompanhada por intervenções do teclado. The Shattered Fortress traz riffs de músicas anteriores do DT para encerrar a chamada “saga da cachaça”, amplamente divulgada na internet. Com passagens de The Glass Prison, do antológico Six Degress Of Inner Turbulence, e The Root of All Evil, do CD Octavarium, a letra trata sobre reabilitação durante o alcoolismo, feita por Mike Portnoy no melhor estilo "Eric Clapton" de compôr e transmitir mensagens sobre o tema dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. I am responsible / When anyone, anywhere / Reaches out for help / I want my hand to be there são nitidamente frases de apoio aos que não conseguem se livrar do álcool e aos reabilitados que desejam ajudar (caso do próprio Portnoy).

The Best of Times é uma das mais belas melodias criadas para a guitarra. A banda em si se aquieta nessa música. Rudess começa com um teclado acompanhado por violino, enquanto, aos poucos Petrucci surge com um violão. LaBrie quebra a introdução leve em dueto com Portnoy. A letra resgata o passado do pai de Mike Portnoy e é uma homenagem a sua morte recente (começo de 2009). O encerramento dela é que decepciona um pouco: Petrucci executa um solo de guitarra de dar inveja, mas, ao invés de ser prolongado, ele é bruscamente interrompido.

Com arranjos típicos de Rush, uma novidade para o Dream Theater, The Count of Tuscany fecha muito bem essas 6 músicas. Sendo a mais longa de todas as faixas (cerca de 19min16s), a música pode ser facilmente dividida em três partes. O começo traz a melodia principal, sendo interrompido por um refrão muito mais pesado de LaBrie e Portnoy, como vozes. Entre as passagens do refrão, teclado que lembra Scenes From a Memory e até Images and Words. Não é uma volta completa ao passado, mas agrada muitos fãs.

O tema que encerra o CD é sobre a cidade natal de John Petrucci, Tuscany, trazendo histórias de seu passado familiar e outros detalhes. Linda é a seqüência que segue pelas frases Of course you're free to go / Go and tell the world my story / Tell them about my brother /Tell them about me / The Count of Tuscany. A parte final segue um outro solo de guitarra tão inspirado quanto em The Best of Times, mas retomando, aos poucos, a primeira melodia.

Esse álbum não consegue o mesmo sucesso de um EP como Change of Seasons, mas é bonito como ele trata bem de temas particulares de dois integrantes fundamentais da banda - Portnoy e Petrucci - e aborda o tema da iluminação de maneira concreta. Agora é esperar que eles mantenham LaBrie com a mesma qualidade vocal dos últimos álbuns e, finalmente, que dêem maior destaque a John Myung, principal prejudicado nos últimos lançamentos, deixado de lado nas composições.

2 comentários:

Unknown disse...

Ainda preciso ouvir ele inteiro e com calma.
Qqr coisa nova do Dream Theater tem que ser ouvida com muita calma, e com a certeza que sua opinião mudará depois de um tempo.

Pedro Zambarda disse...

Eu peguei até que fácil esse álbum.

O mais dificil pra escutar, na minha opinião, foi o Change Of Seasons.

Não por causa de uma mensagem mal-feita, mas porque ele transmite muita coisa numa música só.

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