quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Mais um ano


Em quatro anos, o exército brasileiro cumpriu sua missão no Haiti. Acabou com os grandes grupos armados e, com a ajuda da população, estabeleceu certa paz em um país onde tiroteios no meio das ruas eram comuns. A ONU, entretanto, acredita que o Haiti ainda é uma ameaça à “paz internacional e à segurança da região”, como afirmou o órgão.

Em 2004, quando a missão de paz começou, os soldados brasileiros foram investidos com os poderes previstos no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, que libera o uso da força na imposição da paz e na proteção aos civis. Assim, as tropas conquistaram, à bala, espaços preciosos no Haiti e tornaram a vida de ex-militares e chiméres, as gangues utilizadas por políticos, cada vez mais difícil. Tudo isso sem uma única baixa causada por troca de tiros.

Com o fim dos conflitos armados constantes, surgiu a hipótese de que os soldados fossem mantidos no país, seus poderes seriam limitados ao Capítulo VI da Carta, onde o uso da força não é previsto na manutenção de paz. Mas nesse “país falido”, como foi denominado o Haiti pelo Coronel André Luiz Miranda Novaes , porta-voz do Comando Militar do Leste, falta de tudo: “serviços públicos, justiça, saúde, educação, noções de política – nada funciona mesmo”.

O Haiti, o segundo país da América a obter a independência, há 204 anos, sofre com graves problemas ecológicos – já que grande parte de sua vegetação foi extraída para a fabricação de carvão – e políticos: em toda a sua história de país livre, apenas um presidente conseguiu cumprir seu mandato sem ser morto ou deposto. Seu exército deixara de existir e a polícia, sem uma Justiça efetiva, fazia de tudo com seus criminosos.

A situação mudou com a chegada do Brasil. Após grandes operações, alguns locais dentro de território inimigo – os “pontos fortes”, como explica o Coronel – foram tomados e, a partir deles, a paz começou a ser estabelecida. Com a lenta, porém eficiente participação da população, as gangues foram praticamente extintas. “Antes, via-se pessoas andando com rifles nas ruas; hoje, isso acabou”, garante o Coronel, que já chefiou tropas no Haiti.

As Forças Armadas do Brasil também levaram ao país um “choque de civilidade”, como definiu o Coronel as ações sociais feitas pelos soldados. Atendimento médico, mantimentos e até aspectos culturais, como o futebol – “que faz um sucesso danado” -, fizeram a alegria de muitas pessoas em um país onde as casas são instaladas em meio a escombros e montes de lixo.

O Coronel Novaes aponta a missão de paz no Haiti como um sucesso militar, mas assegura que o dilema ainda são os gravíssimos problemas sociais. O ambiente estável e seguro, uma atribuição ao exército brasileiro, foi conseguido. As outras duas metas pretendidas pela ONU, o respeito aos direitos humanos e a consolidação de um processo político ainda não foram atingidas. Mas essas metas estão além da capacidade das forças armadas.

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