quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sopa de Letras

J.T., 32 anos, morador da zona sul do Rio de Janeiro, é dono de uma banca de jornais e gosta de se mostrar culto: lê revistas para mostrar atualização de conhecimentos no praticamente morto movimento de clientes de seu comércio.

Gosta de apontar defeitos nas pessoas que escrevem. Primeiro começa pelos jovens: "usam demais programas de computador, mas não me dão mais esperança de uma evolução na escrita. São todos iguais" ressalta. E sendo ainda mais rancoroso com os meninos, J.T. profere impropérios porque teve traumas com o pai beberrão aos 12 anos de idade. Coisas de gente traumatizada.

Para escritores best-sellers, J.T. tem as críticas habituais, tais como "eles vendem, isso é péssimo". Ele apenas fala isso por ser péssimo dono de banca. Para os escritores cult, J.T. alega o clichê e ainda completa que trairam suas raízes, que preferem ficar fechados em mensagens indecifráveis. O que J.T. não entende é que o mundo não se resume ao texto crítico que ele fez num programa de computador e vive colando para os sites que visita. Sim, J.T. é fã inveterado de control+C e control+V, mas nega de pé junto que conheça tais sinais no teclado.


O que J.T. não entende é que o mundo não se fecha na consciência dele, que tem espaços muito bem delimitados.

J.T. jamais escreveu um texto que foi realmente conhecido. Nem sua professora do ensino fundamental conheceu seus dotes argumentativos. Nem seus clientes conheceram sua erudição secreta, que alimentou apenas seu ego.

J.T. era crítico de todos e não era crítico de nada.

J.T., 32 anos, dono de banca de jornal.

Sopa de Letrinhas são crônicas (que deveriam ser) publicadas às quintas-feiras.
Perdão especial para donos de banca de jornal que se sentirem ofendidos.

Falam de comunicação, de protesto e contra-protesto.

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