segunda-feira, 28 de março de 2011

O moderno, e imersivo, Idiota de Dostoiévski no teatro brasileiro


Dividida em três partes, a peça O Idiota está em cartaz no Teatro do Sesc Pompéia (ver programação aqui). Com preços entre quatro e 16 reais, o espetáculo surpreende tanto com uma cenografia que aproveita os ambientes industriais do local sem comprometer a história original.

Mesmo com essa fidelidade, os primeiros minutos da encenação mostram que é uma versão moderna do romance russo de Fíodor Dostoiévski. Os atores ficam completamente nus antes de vestirem as roupas de seus personagens, mostrando o despreendimento que a diretora Cibele Forjaz tenta alcançar com o público que assiste atentamente a todo o entorno. A imersão não pára nessa ousadia do elenco - os diversos palcos simulam vagões de trem, cômodos e praças. Não há diferença entre platéia e personagens, e todos conversam ao longo da peça em três atos.


A história do príncipe Míchkin, que volta para São Petesburgo após se curar de uma epilepsia, se transforma em um enorme conflito amoroso após o contato do protagonista com Nastácia Filíppovna. A comparação que Dostoiévski faz com Dom Quixote está nítida na peça, através da franqueza e da inocência do príncipe doente, que doa sua fortuna para pessoas que desejam apenas o sucesso financeiro.

Detalhes marcantes de cenário: Os atores conversam ao redor de uma mesa desenhada com areia no chão, o protagonista conversa com o público em uma cena fora de ambientes fechados, simulando a entrada em um casarão e a sequência de danças em uma piscina com água rasa, que acrescenta dramaticidade. Outra fantasia curiosa é vestir membros da alta sociedade com fantasias de carnaval grotescas (foto acima).

A música é um ponto alto e fraco da peça. As partes em piano inspiradas em Bach e o acordeon são compatíveis com a história russa. As músicas em português ficaram estranhas. No entanto, os instrumentos tocados ao vivo contagiam o público.

Dividido em três partes, uma no primeiro dia com 160 minutos e as duas últimas que somam 195 minutos, com intervalo de 15 minutos, o espetáculo pode ser cansativo para quem não tem o mínimo de vontade de assistir teatro. No entanto, para os profissionais da área, a peça é um estudo a ser incorporado por novas companhias, aproveitando espaços e se entregando ao público. E quem tem um pouco de simpatia pelo tipo de espetáculo, pode se maravilhar com as inovações de O Idiota.

A peça fica no Sesc até dia 3 de abril, quando encerra a temporada. Se você ainda quer ver. Não perca tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excellent post I must say.. Simple but yet interesting and engaging.. Keep up the awesome work!

clomid

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