quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um paradoxo chamado Sarah Palin

Ela é ex-miss, conservadora, mãe de cinco filhos e governadora de um dos estados menos emblemáticos dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que a candidata republicana à vice-presidência levanta a bandeira das questões moralizantes tão defendidas por seu partido, uma legião de mulheres se divide entre a admiração e a rejeição relacionadas à imagem da mulher que tomou o lugar de grandes nomes (masculinos) na posição de possível número dois do governo.

O eleitorado americano pode ser colocado - grosseiramente - em duas categorias: fãs do partido democrata, os quais atualmente buscam por mudanças, e conservadores protecionistas, que vêem nos republicanos a manutenção de seus ideias, muitas vezes apoiados em questões religiosas. Ao contrário do que acontece com John McCain, que atrai apenas a curiosidade dos democratas, Sarah Palin consegue algo a mais: o apoio de uma parcela do eleitorado que não se vê representada na figura de Barack Obama. Tal parcela é constituída majoritariamente pela mulher média, aquela que trabalha o dia todo, cuida dos filhos e ainda se vê na posição de se manter fiel a preceitos socias e religiosos. Para essas mulheres, ver uma "companheira de batente" chegar a um cargo como a vice-presidência mostra que é possível sim fazer um pouco de tudo,e, se você for mulher, fica ainda mais bonito com um batom.

De outro lado, será que para a mulher forte e capaz vale a pena ser representada por uma opositora aos gays, ao aborto e à educação sexual, postulados básicos do feminismo? É aí que está a questão. As "feministas de Palin" não se apropriaram do termo propriamente dito, mas sim o aprimoraram - segundo elas, para melhor. Com a conquista republicana, querem mostrar a Hilary Clinton, a qual teve 18 milhões de votos nas primárias democratas, que não é preciso se basear no sexismo para buscar a atenção feminina. Paradoxalmente, Palin se diz pronta para quebrar os estereótipos machistas que sempre impediram mulheres de alcançarem cargos elevados, manifestações já tão proclamadas por Hilary durante sua campanha.

Ao mesmo tempo em que o sentido do feminismo se confunde entre suas bases e um novo tipo mais conservador, as mais ferrenhas seguidoras do movimento alertam para as diferenças. Algumas mais radicais se apóiam no fato de que a filha mais velha de Palin, Bristol, de apenas 17 anos está grávida. Já Gloria Steinem, conhecida feminista seguidora de Clinton, publicou uma crítica feroz à candidata republicana no Los Angeles Times na qual afirmou que "a única coisa que Palin tem em comum com Hillary Clinton é um cromossomo". Segundo ela, a mulher que se diz protestar por direitos ou mesmo pela derrota de Clinton, não deve votar em McCain, salientando que "seria como dizer 'alguém roubou meus sapatos, por isso vou amputar minhas pernas'".

A idéia de uma mulher no poder é antiga, mas não deve ser dada a alguém apenas por isso. É preciso racionalizar e tentar encontrar o meio termo entre a busca pela igualdade de direitos e oportunidades e a competência para gerencias cargos importantes, sejam eles ocupados por homens ou mulheres. A decisão é dura: uma mãe tradicional ao lado de um republicano carimbado ao invés de um negro que estudou nas melhores universidades do país e um democrata mais contido? A escolha está nas mãos do povo americano, tanto representado por republicanos quanto por democratas, e cabe ao resto do mundo esperar até 4 de novembro para saber a resposta.

*Algumas informações foram retiradas do artigo "Sarah Palin encarna um novo feminismo, dizem eleitoras", do Jornal El País.

4 comentários:

Pedro Zambarda disse...

eu queria, honestamente, que Barack Obama ganhasse.

Mas Palin supre uma demanda de conservadores nos Estados Unidos que pode virar, completamente, o jogo.

Mônica Alves disse...

eu queria, honestamente, que Barack Obama ganhasse. [2]

Unknown disse...

Pensando pelo lado economico do Brasil...McCain é melhor. (Vo apanhar agora)

Pedro Zambarda disse...

O Adalton concorda com você.

E eu, de certa forma, também.

Mas penso nos EUA em si, que está cada vez mais afogado em um mar de lama, sabe?

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