sábado, 20 de setembro de 2008

Meirelles aproxima-se da perfeição

A exibição emocionou, até mesmo, José Saramago.

Sucesso nas livrarias, o romance Ensaio sobre a cegueira, do escritor português José Saramago, finalmente ganhou as telonas. A obra contou com a brilhante direção do cineasta brasileiro, Fernando Meirelles (Cidade de Deus e O jardineiro fiel). O filme reuniu um elenco de primeira e diferenciou-se das grandes produções por não ter nada de “hollywoodiano”.

A adaptação é parada, porém as belas atuações dos atores fazem o público se manter atento. O grande chamativo da filmagem é a representação da cegueira; Meirelles e sua equipe de fotografia acertaram em cheio ao abusar da luminosidade, retratando-a em telas brancas.

Sinal verde, trânsito movimentado na cidade grande, quando o caos da cegueira branca começa a se instalar. O primeiro cego (Yusuke Isseya) misteriosamente adquire essa característica. A doença toma a cidade e o caos começa a se instalar na metrópole fictícia.
Os afetados são enviados para uma espécie de sanatório, entrando no estado de quarentena, totalmente isolados do contato social. A mulher do médico, representada brilhantemente por Julianne Moore (O Fugitivo, Nove meses, Jurassic Park: O mundo perdido, Hanniball, entre outros), se mostra imune epidemia – ironicamente a especialidade médica do seu marido é a oftalmologia.

Moore representa uma mulher forte e batalhadora. Casada com o médico, representado por Mark Ruffalo (Brilho eterno de uma mente sem lembranças e Zodíaco), ela burla os enfermeiros fingindo-se de cega, passando a viver com os outros afetados. Ela é a testemunha ocular do horror, do sofrimento e da violência do local.

Presente na obra de Saramago, a desumanização da sociedade - regredida a uma forma primitiva e caótica - é trabalhada de uma forma fidedigna à escrita do português.

Muitos podem considerar a abordagem apelava, entretanto a fidelidade ao livro é clara, para delírio dos fãs da obra literária. Saramago critica diretamente o comportamento do homem em relação a dificuldade, ao defeito e a crítica; Meirelles reafirma isso com intensas seqüências poderosas, representando o maior caos que poderíamos imaginar. A lei e os valores são jogados no lixo, ou no chão como na obra: urina, fezes, roupas sujas e sangue decoram o “hospital”.

A tensão se instala de vez quando a lotação do lugar atinge o máximo, a cooperação e democracia inicial – principalmente na distribuição dos alimentos – é esquecida. Gael Gárcia Bernal (E sua mãe também, Babel e Diários de Motocicleta), como Rei da Ala 3, passa a liderar a distribuição da comida. O dinheiro e os objetos de valores acabam – devido ao isolamento social –e as exigências tornam-se cada vez piores. A moral e ética são destruídas, a sobrevivência está acima de tudo.

A produção conta com excelentes coadjuvantes. Danny Glover (Máquina Mortífera, Manderlay, Dream Girl e muitas outras obras), interpreta o Velho da venda preta, Alice Braga (Cidade de Deus, Cidade Baixa e Eu sou a lenda) comove como a mulher dos óculos ecuros. Prostituta de profissão, a personagem da brasileira adquire um aspecto maternal, criando laços afetivos com o Menino (Michell Nye).
O drama centraliza o colapso urbano, em que as relações humanas são exaltadas. O filme não merece apenas ser visto, e sim observado. Como adiantara o próprio Saramago, na epígrafe do livro-homônimo da adaptação: "Se é capaz de ver: olhe. Se é capaz de olhar: observe".

5 comentários:

Fê Meirelles disse...

zéee como assim você erra o nome do meu pai?
meirelles tem dois L!
ehuahuehuhauhea

adorei o post
e AMEI o filme

Pedro Zambarda disse...

Mais do que ser fiel ao livro, o filme é fiel ao propósito do Saramago.

Muito boa resenha, josé. Nem tá tão fora do contexto. Por mim você poderia escrever mais textos sobre filmes!

Unknown disse...

Resenha um pouco exagerada. Sim, o filme é muito bom, cumpre ao que propões, e tudo mais. Um fantástico trabalho de um fantástico diretor. Mas perai, se formos analisar filme por filme, Cidade de Deus ainda continua sendo a obra maxima de Meirelles. Ou seja, se ele chega perto da perfeição (e olha que ainda ta beeem longe disso), é através de seu primeiro grande trabalho, não desta otima obra, que é contestável em alguns pontos.

Unknown disse...

E outro ponto, ñao existe uma desumanização das pessoas. Tal interpretação é simplista e equivocada. O que existe é o contrario, uma humanização extrema. O fato de que não existem monstros ou santos ali, seja o Rei da Ala 3 ou mesmo a mulher do medico, o que existem são seres humanos levados ao limite de sua HUMANIDADE. Tal proposta foi defendida pelo Saramago, que sempre disse que fez um livro que retratava as pessoas como elas de fato são..pessoas.

Pedro Zambarda disse...

Discordo totalmente do Thiago. A única humana real no filme, em sua plenitude, é a mulher do oftalmologista.

Todos os outros viram vitmas da cegueira, que priva não só a visão, mas uma visa humana plena. É muito diferente de apenas uma pessoa com uma deficiência. É um desastre social.

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