sábado, 20 de dezembro de 2008

Wall-e: A obra máxima da Pixar

Escrever sobre Wall-e não é fácil. A prova disso é que esta resenha vem 6 meses após a estréia da animação no cinema e 2 semanas após seu lançamento em DVD. Escrever sobre o filme é tão difícil que preferi vê-lo duas vezes para ter certeza que não estava contaminado por algum tipo de empolgação ou animação exagerada. O fato é que tal animação ou empolgação nunca cessou e, pelo contrário, só aumentou após eu rever a obra da Pixar. Sendo assim, afirmo aqui, sem medo de me arrepender posteriormente, que Wall-e não é apenas a melhor coisa que a Pixar fez em sua brilhante história, mas uma das melhores animações já produzidas e o melhor filme do ano.

A história, que já deve ser conhecida de muitos, conta a solitária vida do robô Wall-e, que tem como função compactar e organizar todo o lixo deixado no planeta pelos humanos. Eles acabaram embarcando em uma infinita viagem espacial assim que a Terra se tornou inabitável em conseqüência do acumulo de lixo. A primeira cena do longa já mostra que não é uma animação comum, como as dezenas que inundam as telas todo ano. A Terra é opaca, em cores pasteis e cercada por um anel de lixo cósmico. O contraste vem na música levemente alegre, enquanto a câmera percorre figuras que, ao longe, parecem arranha-céus, mas que, na verdade, se revelam grandes construções de lixo feitas por um simpático robô. Com o passar do tempo, ele fez amizade com uma barata, guardou objetos curiosos e se apaixonou por um musical.

A primeira metade Wall-e é desprovida de falas. Tudo que temos são sons que nos remetem a uma mistura entre R2-D2 e ET. Tudo que Wall-e pensa, fala e sente pode ser expressado pelo seu corpo fantasticamente animado. O auge desta “formula comunicacional” são os “diálogos” entre Wall-e e EVA, um robô misterioso que chega a Terra a procura de qualquer forma de vida vegetal. É a partir daí que o roteiro deslancha, e começa a esbanjar genialidade em cada cena.

O diretor e roteirista Andrew Stanton cria cenas fantásticas ao longo do filme, daquelas que poderiam ser emolduradas pela sua beleza, ou apreciadas repetidas vezes pela sua sensibilidade. Tudo feito em Wall-e soa simples e natural e, exatamente por isso, soa perfeito. A crítica feita a nossa sociedade através dos humanos do filme é uma das mais explícitas, fortes e corretas dos últimos tempos. Nada de demonizar o ser humano como fazem outras produções, mas sim um alerta de que nosso conforto e felicidade acarreta um alto preço a se pagar: nosso planeta. Os humanos do filme são bons em coração, no entanto estão presos em cadeiras que reproduzem um mundo supostamente perfeito, levando-os aonde queiram ir, com telas na frente de seus rostos e publicidade pra onde quer que olhem. O resultado disso: A primeira vez que uma cadeira falha (por “culpa” de Wall-e) é também a primeira vez que uma pessoa olha diretamente nos olhos de outras em mais de 700 anos.

Eu poderia ficar aqui falando das influencias presentes em Wall-e, nos simbolismos de cada cena e na mensagem que ele deixa de uma forma prolixa e complexa. No entanto, foi esse filme que provou que a simplicidade, algumas vezes, é tudo que precisamos, sem nenhuma complicação a mais. Tudo que é necessário pode ser traduzido em uma pequena planta dentro de uma bota velha. São muitas as vezes que assistimos clássicos que foram consagrados pelo tempo, mas são raras as que vemos um filme que nasce uma obra-prima em nosso tempo, nos dando a oportunidade de escrever sobre ele, mesmo que o texto não esteja à altura da obra. Wall-e se encaixa na segunda opção.

4 comentários:

Pedro Zambarda disse...

Um texto singelo e sincero, Thiago.

Continue assim. Você empregou uma técnica no texto - procurando explorar o potencial da crítica -, mas não abusou, valendo-se de emoções, também

Meus parabéns.

Francisco Castro disse...

Olá, gostei muito do seu blog. Os seus posts são muito inteligentes e devem ser lidos por todos. Continue fazendo isso.

Abraços

Pedro Zambarda disse...

obrigado =]

Unknown disse...

Obrigado cara
abraços

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