domingo, 28 de dezembro de 2008

O inferno somos nós


"N´eus-je pas une fois une jeunesse aimable, héroïque, fabuleuse, à écrire sur des feuilles dór¹"

Patti Smith, Bob Dylan, Paulo Leminski, Vinicius de Morais e Henry Miller são alguns dos nomes que reverenciam e colocam a figura de Arthur Rimbaud como um ícone da rebeldia, da devassidão e da maldição. Patti chegou a declamar poesias inteiras desse artista francês em diversos shows seus, mostrando o pensamento polêmico dele.

Une saison en enfer (do francês, traduzido Uma temporada no inferno) reúne alguns de seus melhores poemas e reflexões em prosa de um poeta que encerrou suas produções, definitivamente, aos 21 anos de idade (escreveu entre 1870 e 1875, ou seja, apenas 5 anos). Mesmo assim, Rimbaud nos marca trazendo uma visão do diabo e dos pensamentos dentro da loucura sem figuras normalmente aceitas como malignas, como um besta com chifres. O Inferno de Rimbaud é um homem que observa, que se alucina e que pede clemência a Deus.

O livro é dividido em 9 partes - Uma temporada no inferno, Mau sangue, Noite no inferno, Delírios I - O esposo infernal, Delírios II - Alquimia do Verbo, O impossível, O clarão, Manhã e Adeus. Proclamando em tom de ironia, muitas vezes, o poeta fala sobre a tradição francesa que passa longe de sua personalidade. "Il m´est bien évident que toujours été race inférieure²". Em muitos trechos, ele amplia seu discurso para contrariar a razão, em seu conceito mais amplo, e não simplesmente a religião. Exalta a vida boemia, a vagabundagem, a libertinagem e a degradação. "Je ne suis pas prisonnier de ma raison. J´ai dit: Dieu. Je veux liberté dans le salut: comment la poursuivre?³".

Rimbaud foi homossexual assumido e teve um amor e uma paixão obsessiva pelo consagrado escritor Paul Verlaine. Não se sabe o quanto, e como, essa relação pessoal afetou suas poesias. Mas o valor de Uma temporada no inferno é inquestionável.

1 - "Não tive uma vez uma juventude amável, heróica, fabulosa, a ser narrada sobre folhas de ouro".
2 - "Fica evidente que fui sempre raça inferior".
3 - "Não sou prisioneiro da minha razão. Disse: Deus. Quero a liberdade na salvação: como obtê-la?".

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