Quando tudo dá errado...
Não se pode mensurar o crescimento da indústria de games no entretenimento nos últimos anos. Desde o início do século, ela deixou de ser algo exclusivo de nerds em quartos escuros para alcançar adolescentes, adultos e até idosos de diferentes gostos e hábitos. Nos países onde ela se instalou de forma sólida, os games se tornaram um passatempo tão corriqueiro quando o cinema ou a leitura. Hollywood é claro entrou de cabeça no ramo, adaptando seus maiores sucessos para as telas, algo que se iniciou e teve pioneiro o filme “Super Mario Bros” de 1992. Desde então são inúmeras adaptações de inúmeros jogos, mas infelizmente, a maioria esmagadora são produções descartáveis. A mais recente delas, Max Payne, estrelada por Mark Wahlberg e dirigida por John Moore, não foge à regra.
A história básica do filme obviamente é a mesma do game: O policial Max Payne tem sua mulher e filha assassinadas por três homens, ele mata dois deles, no entanto um consegue escapar. Amargurado, Max passa o resto de seus dias investigando o crime e caçando o fugitivo, mas acaba descobrindo uma intricada rede de tráfico de drogas e uma empresa farmacêutica que poderiam estar envolvidas no caso. Bom, as semelhanças acabam por aí. Como em outras adaptações que deram errado (vale a pena repetir, a maioria esmagadora delas), o roteiro do game serve apenas como base para uma história que é totalmente alterada na tela grande.
O game de 2001 foi considerado uma obra-prima do gênero policial. Ele praticamente reinventou de forma única o modo de controlar o tempo in game, além de suas sequências de ação que eram incrivelmente bem dirigidas e construídas. Foi um dos poucos games da época que soube aproveitar e retrabalhar efeitos do cinema dentro do próprio habitat. O que se esperava de Max Payne era algo no mínimo semelhante ao original, levando-se em conta que o trabalho já estava praticamente feito. Todas as dicas de como dirigir, montar e editar a produção estavam lá, além de um magnífico enredo, daqueles raros de se encontrar nos vídeo-games, com densidade e ótimos personagens. Enfim, estava tudo feito, era só copiar. A não ser é claro que a produção tivesse ambições maiores, como reinventar o gênero ou coisa parecida, mas este nunca foi o caso.
Todas as alterações feitas no roteiro por Beau Thorne beiram o ridículo. São personagens que entram e saem sem deixar pista, furos horríveis como duas personagens sem um final no filme, erros seqüenciais e falta de timing são apenas alguns dos problemas que me vem à cabeça agora. Mas o grande defeito é transformar Max Payne em um tira acéfalo. O filme é tão previsível que nos perguntamos como o policial demorou 3 anos para resolver todo o caso, além de algumas de suas atitudes e respostas que parecem ser dadas por uma criança de 5 anos. Nada, absolutamente nada que lembra o policial raivoso, brilhante e letal do game. A direção de John Moore, que poderia ao menos contribuir com algumas cenas de ação não corresponde. São pouquíssimas seqüências para um filme supostamente de ação, além de um péssimo uso de alguns artifícios como a câmera lenta e o bullet time (que o game praticamente reinventou a forma de ser usado). Por fim, o elenco não ajuda nem um pouco também. Mark Wahlberg, que concorreu ao Oscar por Os Infiltrados , parece estar ligado no piloto automático, enquanto todo o resto é interpretados por ilustres desconhecidos (o público talvez se lembra de Mila Kunis, de That’s 70s Show).
A questão que fica é: Se Max Payne, que era um ótimo game, com uma ótima história saiu tão errado, o que esperar da avalanche de adaptações que vêm por ai? Num futuro próximo chegarão ao cinema God of War, Gears of War, Halo e, já no ano que vem, Prince of Persia. Este último, um ótimo game, mas com uma história simplesmente razoável então, não parece soar muito promissor, sendo estrelado pelo insosso Jake Gyllenhal. Só nos resta rezar para que alguém aprenda a adaptar games como fizeram com os quadrinhos, ou que deixem obras primas como Metroid, Metal Gear Solid e The Legend of Zelda dentro de nosso consoles.
2 comentários:
Concordo. Eu deveria ter assistido 007 pela terceira vez ao invés desse negócio.
Quero ver adaptarem pac-man e pong; isso sim seria legal. Mas só poderia ser dirigido pelo Bressane, hahaha.
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