segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Os “lares” de Interlagos


Apresentado pelo professor e coordenador do curso de jornalismo da Cásper Líbero, Carlos Roberto da Costa, junto com os demais candidatos, o aluno Andrei Sant´Anna Spinassé apresentou um trabalho de conclusão da graduação de jornalismo que transforma histórias comuns e de celebridades que passaram pelo autódromo de Interlagos em retratos de uma mesma paixão pelo automobilismo, de diferentes maneiras. A banca de avaliação do trabalho foi no dia 17 de novembro.

Por Pedro Zambarda

Com uma mesa de avaliadores composta, além de Carlos Costa, pelo também professor Liráucio Girardi Júnior, titular da disciplina Sociologia da Comunicação, e pelo jornalista gaúcho Alec da Silva Duarte, editor-assistente do caderno de esportes da Folha de S. Paulo e professor na Centro Universitário Assunção (Unifai), Andrei fez uma breve introdução contando tantos as emoções quanto as conquistas adquiridas na pesquisa e na formulação de seu livro-reportagem, Em teu lar, Interlagos. Ressaltando a final da Grande Prêmio da Fórmula 1, ocorrido no final de semana anterior a exposição de seu TCC, entre os dias 15 e 16 de novembro, Andrei relembrou que o livro traz, assim como as histórias de competições, histórias diversas que ele considerou interessantes. “Foi impressionante. Abriu um sol no dia da última corrida, dois minutos depois de uma chuva forte que prometia durar o dia todo. Parecia surreal, não parecia de verdade. E eu estava na sala de imprensa, acompanhando . Há, realmente, uma “mágica em Interlagos”, pois a chuva só voltou depois da corrida” disse o estudante, fascinado. A natureza de seu trabalho reflete esse sentimento.


O estudante então discorreu mais sobre o formato específico de seu livro-reportagem e das experiências que passou em sua realização. “Pensei em fazer um livro de histórias secas sobre o autódromo de Interlagos, mas percebi que tinha que ser uma coisa um pouco mais emocional sobre o assunto. No final do ano passado, então, eu resolvi que o livro deveria falar sobre pessoas, muito pouco sobre acontecimentos esportivos. Então, é um livro de histórias e não simplesmente história, com um S que muda muito” enfatizou. Andrei comparou, inclusive, a letra com o “S do Senna”, que mudou o desenho da pista de corrida em 1989. “Antes, não havia preocupações com segurança, gerando acidentes. Olhando a pista antiga, tive até uma nostalgia de um tempo que não vivi”.

Sobre sua orientação, o estudante da Cásper Líbero alegou que o professor Celso Unzelte, da matéria Jornalismo Básico, já era uma opção clara para o trabalho de conclusão de curso. “Ele é um cara da área de esportes que me ajudou e me apoiou muito”. Preparado com uma lista de possíveis entrevistados após a entrega do pré-projeto ainda no final de 2007, em novembro, Andrei acabou se desviando de algumas fontes, como Rubens Barrichello. “Não era bem a coisa da fama que eu queria, apesar dela estar na carreira de pessoas como o pai do Emerson Fitipaldi [Wilson Fitipaldi]. Queria mais histórias desconhecidas do grande público” concluiu.

Um de seus entrevistados, um torcedor chamado Augusto, estava na platéia de exposição do TCC, na sala Aloysio Biondi da Faculdade Cásper Líbero, prestigiando o trabalho de Andrei e sendo lembrado pelo estudante em suas falas. “Até junho, meu trabalho não caminhava muito bem, pois um dos meus entrevistados acabou falecendo e eu fui o último jornalista a entrar em contato com ele” relembrou Andrei, sobre Jorge Lettry, presidente da equipe da Vemag, fabricante de automóveis, e um de seus entrevistados. “O último recado dele pra mim foi ´passa aqui na hora que você quiser´” declarou o estudante com bastante carinho a fonte. O falecido conhecia o período pré-Fórmula 1, quando ainda havia corridas sem arquibancadas na década de 1960, com uma pista muito maior do que o atual traçado.

“Após as férias da faculdade, eu sabia que tinha um atraso para atirar e adotei um ritmo que eu batizei de “encarar como se fosse definição de grid de largada, fazendo os melhores tempos que pudesse” disse Andrei, sobre a situação do livro em agosto, utilizando o jargão e os estrangeirismos do automobilismo. O estudante também fez observações quanto às dificuldades em “decupar”, ou seja, transcrever, várias entrevistas feitas em seqüencia para a conclusão do trabalho. “Fiz pesquisas sobre coisas que não sabia como as categorias que correm em Interlagos, e tenho certeza que as usarei para a vida toda. Eu trabalho com isso” disse Andrei, que trabalha na Folha de S.Paulo.

Convidado pelo aluno, Alec Duarte fez as críticas mais pontuais ao trabalho. “O esporte continua tendo esse poder de trazer pessoas para a profissão, para o jornalismo. Falando sobre o livro, eu senti falta da história do autódromo, embora talvez você possa dizer que há livros sobre o tema. Vendo o desenrolar dos capítulos, os personagens seriam ótimos para contar uma história “editada” do autódromo. Tem muito jornalista falando. Jornalista é ótima fonte, mas um péssimo personagem” destacou o jornalista, se isentando da opinião de leitor simples. E completou: “um dos livros da bibliografia teve que ser retirado do mercado. Isso poderia ter sido revisado no começo da orientação”. Alec se refere ao livro Histórias, Lendas, Mistérios e Loucuras da Fórmula 1, escrito pelo jornalista Lemyr Martins que conta uma lenda sobre a ultrapassagem de Schumacher permitida por Barrichelo no GP da Áustria em 2002 como se fosse fato real. Andrei concordou com os argumentos de Alec Duarte.

“De Fórmula 1 eu não entendo quase nada. Lembro da Lótus preta, o carro do Emerson Fitipaldi, que era o que me fascinava” confessou o professor Liráucio, afirmando ser leigo sobre o assunto, mas também destacando aspectos que poderiam ser melhorados no trabalho de Andrei. “Você tem que imaginar pra quem você está fazendo aquele livro. Eu vejo que você é apaixonado pelo tema e que mostra isso. Acho que isso valoriza muito as pessoas que valorizam a Fórmula 1, o que não é meu caso. No entanto, seria legal investir no memorial, que é tão importante quanto a narração do livro. Também tenho uma ressalva quanto ao título do livro, que eu acho que deveria ser invertido” esclareceu o professor. “O formato livro-reportagem traz uma liberdade que deixa o aluno contido, transformando os trabalhos em grandes perfis ou grandes reportagens, não propriamente um livro”.

Carlos Costa foi o menos energético em críticas, valorizando o esforço de Andrei no trabalho. “Fui juiz em uma banca de TCC em grupo sobre pacientes terminais e achei injusta a cobrança que fizeram do trabalho, exigindo coisas que eles não fizeram. Estou julgando um trabalho que o Andrei fez com o Celso Unzelte, ex-colega meu de redação da Quatro Rodas. É um trabalho de histórias” defendeu Costa. Confessando que não estava muito entusiasmado a ler o trabalho do aluno, o professor disse que nunca foi até Interlagos e nunca teve o interesse de ir, mesmo tendo trabalhado no jornalismo automobilístico.

"Peguei um ônibus Ana Rosa – Barra Funda, peguei metrô até a estação Arthur Alvim e peguei o trem de volta enquanto lia o trabalho do Andrei. Há muito pouco problema na leitura do livro, pois eu tenho o vício de circular erros e alguns trabalhos viram “bordados” nessa correção. No teu trabalho eu só localizei algumas coisinhas muito pequenas, como repetição de palavras” elogiou o professor. Caros Costa alegou que esses tipos de erros são comuns em trabalhos de graduação, sendo um problema no jornalismo.

A banca deu nota 9 ao trabalho de Andrei, apenas pedindo para que fossem dadas mais informações técnicas sobre carros e mais ênfase na história oficial de Interlagos, valorizando as boas entrevistas e reportagens que o aluno fez. Sobre os “lares” do trabalho, os personagens que Andrei descreve, tão distintos e parecidos, Costa complementou: “em todas essas histórias, eu vejo você, Andrei. Esse é um trabalho sobre a sua paixão pelo esporte, sobre a sua admiração por Interlagos”.

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