sábado, 8 de agosto de 2009

A liberdade de criação na Cuba socialista

Exposição de cartazes cinematográficos traz a arte liberal cubana pós-Revolução

Cuba: país recluso, comunista. Atributos que, aparentemente, não inspiraria nenhum artista. Pelo contrário, a ausência do caráter comercial trouxe liberdade de criação para doze designers, cujos cartazes cinematográficos estão reunidos na exposição "Cartazes Cubanos – Um Olhar sobre o Cinema Mundial", na Caixa Cultural São Paulo.

Além do filme, os trabalhos, datados de 1965 a 1992, retratam as inovações artísticas de períodos distintos. Todos medem 51 cm X 76 cm e foram produzidos através da serigrafia, técnica de impressão em tela, geralmente de seda. Um televisor exibia o documentário Poética Gráfica Insular, que inseria os cartazes nos postes de Havana.

A ideologia não influenciava a escolha dos filmes. Produções soviéticas, polonesas e tchecoslovacas dividiam espaço com filmes de países capitalistas, como Japão, Inglaterra e Estados Unidos, cada um com seu cartaz "made in Cuba". Diretores renomados não eram esquecidos, o caso de Sergei Eisenstein, Alfred Hitchcock e Glauber Rocha.

O colorido dos trabalhos das décadas de 1960 e 1970 tem inspiração psicodélica. Alguns exemplos são os cartazes A Odisséia de General José (1969), de Antonio Pérez González (Ñiko); Caminho e Fim de Saturno (1969), de Eduardo Muñoz Bachs (1937-2001); A Revolução dos Inconfidentes (1972), de Jorge Dimas González; e Moby Dick (1968), de Antonio Fernández Reboiro.

A década de 1980 aparece pouco na exposição. A produção de cartazes neste período teve desempenho fraco em virtude da crise econômica, prejudicando a indústria cinematográfica cubana e a exibição de filmes estrangeiros na ilha. Os trabalhos da época denotam forte apelo cômico.

Destaque para Bachs. Seu cartaz para o documentário cubano Antes tarde do que nunca (1987) traz um relógio-despertador dormindo na cama. Já para o filme argentino Esperando a carroça (1986), Bachs mostra um homem, a princípio morto – porém sorrindo e com os olhos abertos –, dentro de um caixão servindo de apoio para corvos.

O ápice do humor, no entanto, aparece no cartaz de Néstor Coll para a Mostra de Filmes Restaurados pela Federação Internacional de Arquivos Filmográficos (FIAF). Trata-se de Carlitos, clássico personagem de Charles Chaplin, dentro de uma cela e vestindo um uniforme semelhante à película.

A pluralidade de conteúdo presente nas obras dos designers cubanos impressiona, num primeiro instante, por serem de Cuba, país fechado à economia capitalista. Exatamente essa independência em relação ao mercado proporcionou aos artistas maior liberdade para criar e se inspirar nas tendências políticas e culturais de meados do século XX. Criatividade e originalidade em simples telas de seda.

Serviço
Cartazes Cubanos – Um Olhar sobre o Cinema Mundial
Local: Caixa Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111).
De 5 de agosto a 13 de setembro.
Terça a domingo, das 9 às 21h.
Informações: (11) 3321-4400
Entrada franca.

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