Neste exato momento, críticas e mais críticas sobre Batman: O cavaleiro das trevas devem pipocar na internet e na grande mídia. Todas têm algo em comum: apontam o filme como magnifico. Portanto, como um preview para o maior lançamento do ano, aqui vai uma pequena crítica de Batman Begins, o filme que reinventou o personagem no cinema.
Quando Batman Begins foi anunciado, a franquia estava totalmente desacreditada. Afinal de contas, Joel Schumacher conseguiu em dois filmes destruir totalmente a imagem do personagem e transformá-lo em um ícone carnavalesco e um tanto homossexual. Algo que é considerado no mínimo uma heresia digna "de fogueira" pelos fãs do morcego. Para isso, a Warner Brothers decidiu recomeçar tudo. A história seria contada em sua gênese. O tom do filme seria totalmente sombrio, nada que lembrasse a série camp protagonizada por Adam West ou o filme com George Clooney. Com isso em mente, o estúdio arriscou chamando o então pouco conhecido Christopher Nolan para dirigir e escrever. Em seguida foi a vez do talentoso Christian Bale ser contratado para o papel principal. O ator, até então, era conhecido apenas como o garoto de Império do Sol e pelo maniaco de Psicopata Americano.
O filme não se chama Batman Begins à toa. Durante a primeira hora de produção temos nossa atenção voltada não para o herói mascarado, mas em Bruce Wayne. Nolan, um diretor que já estudou as razões humanas em Isonia e, principalmente, em Amnésia, nos entrega o fascinante processo de gênese do herói. Afinal de contas, por que um bilionário decide se tornar um vigilante vestindo uma roupa de morcego? O que se passa na mente de alguém que decide arriscar sua própria vida para proteger uma cidade que muitos consideram perdida? E a viagem ao ser humano que se torna Bruce Wayne não é fácil ou cômoda. Tendo como estopim a violenta morte de seus pais, Wayne se enche de ódio e com o natural sentimento de vingança, que acaba por se tornar o motor para a sua transformação. A “jornada do herói” aqui é muito mais sombria do que aquela estudada por Joseph Campbell. O menino cresce e se torna um adolescente que tenta matar o assassino de seus pais, mas acaba fraquejando. Por fim, ele cresce e embarca numa jornada que irá treiná-lo física e mentalmente, aprendendo assim a usar a vingança e os abismos (que não são poucos) que existem dentro de si próprio como algo benéfico.
Embora seja altamente relevante, seria prolongar demais traçar todas as complexas relações entre Begins e a construção mitológica de Batman que foi sendo construída através de sua história. O que vale dizer que é que o "verdadeiro Cavaleiro das Trevas" está lá. Seu motivo para se vestir como morcego, seus dilemas por ser o que é e por ser quem é. Além do fantástico roteiro de Nolan, muito desse filme se deve a Christian Bale. O ator, diferente de Clooney, levou o personagem a sério tal como Michael Keaton o fez (na década de 1990). A diferença é que Bale é melhor que Keaton. E ele constrói um Bruce Wayne da mesma forma que o faz com qualquer personagem que interprete: mergulhando nele. Christian Bale passou pessoalmente por todos os treinamentos que são retratados no filme. Aprendeu a lutar, saltar, comer mal e tudo o que é mostrado. Outro ponto alto é Michael Caine. Entregando um Albert paternal, o personagem acaba funcionando como a consciência de Bruce Wayne. Ele é a rede que não permite que ele caia no abismo do qual se aproxima quando se veste de morcego. Seus diálogos rápidos, com algumas tiradas tipicamente inglesas também dão um tom um pouco mais leve ao filme. Gary Oldman está obviamente bem em seu Tenente Gordon, possivelmente o único tira honesto de Gotham City. Liam Neeson (Ras Al-Ghul) faz um vilão eficiente e contido, porém não genial. Já Cilian Murphy se destaca como o Espantalho. O elenco estrelado elenco ainda conta com Tom Wilkinson, Morgan Freeman e Katie Holmes (pior atuação do filme).
Além de todos os acerto já citados, um último merece ser lembrado. O grande defeito nas produções de Joel Schumacher era sua total falta de respeito e de conhecimento do personagem. Aqui, o diretor, junto com o co-roteirista David Goyer, mostra totalmente o oposto. Batman Begins parece uma grande preparação para algo muito maior. Sendo assim, a escolha de vilões “menores”, não muito conhecidos do público se torna vantajosa. Ao invés de queimar um grande vilão, Ras Al-Ghul e Espantalho parecem a escolha certa para um Batman iniciante, que ainda duvida do que ele próprio pode fazer. Enfim, essa é a grande sensação que temos ao final de Batman Begins. Um ótimo filme, mas que soa como um terreno arado pronto a receber algo grandioso. E isso é o que todos estão dizendo de Cavaleiro das Trevas, um ápice colossal. E se eu fosse apostar meu dinheiro, diria que todos estão certos.
2 comentários:
adorei o texto, mas sou obrigado a levantar um dado:
A atuação de Liam Nesson no treinamento de Bruce Wayne (como Ra-sal, obviamente) é genial. Claro que ele se vale de muitas frases de impacto (e algumas bem clichês), mas ele torna a atuação um processo muito "gostoso" de se ver.
Enfim, boa sorte ao "batman tímido", que veio pra ficar.
Também vou levantar um dado:
Grande parte da crítica teve um certo pessimismo antes do lançamento do filme devido ao grande número de filmes de super-heróis que estava sendo lançado. O "medo" deles é que a grande demanda fizesse com que filmes bons, como Batman, ficassem ruins, como o Hulk do Eric Bana.
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