L. é baixo. L. é baixo e gordo. L. é simpático. Seu sorriso é quadrado, enquanto o sotaque é notável. “Lá na minha terrinha, essas coisas não acontecem” repete, compulsivamente. Eu como algum salgado de cantina em algum tempo livre, ouvindo os discursos do pequeno homenzinho.
R. é silenciosa. R. contém até o espanto ao ouvir as histórias de L. Tomando um cafezinho às 9 da manhã, R. está se preparando para ir ao seu emprego no Estadão. Teve reunião de pauta ontem e está atarefada, apesar dos cursos de línguas que faz em outros horários. Fala um exótico árabe, que ainda não nos mostrou. Somos jornalistas.
Não lembro ao certo se L. é do Pará. Sei que é formado lá, com o diálogo animado sobre os professores de seu tempo. L. tem idade para ser meu pai. L. começa a falar como a música é formada, muito além do ritmo, pela harmonia e pela melodia. A melancolia de L. é saber que a industria musical resolveu apostar apenas em ritmo, enquanto a beleza harmônica é cada vez mais abandonada. Na evolução de produtoras como a EMI, a Sony e a Warner, surgiu o monopólio e a padronização dos grupos e bandas. Por isso, L. lembra bastante lúcido de “modas” como o grupo É o Tchan.
L. é musicólogo. Musicólogo totalmente especialista em música popular. L. é um produtor. L. pretende, com o lançamento de seu álbum, se tornar um músico, talvez. R. olhava para todos e eu percebia que, à medida que falávamos mais, os jornalistas não sabem um pouco de tudo, mas alguns sabem muitas informações preciosas para as pessoas.
Uma das coisas que L. mais repudia é o atual ministro da cultura, Gilberto Gil. “Artista não entende de produção e nem de contexto artístico. Achei um atrevimento ele falar que a Preta, sua filha, é a única novidade no país, em visita a Europa”. Concordo com L., enquanto R. parece concordar com nós dois, mais falantes do que ela. No entanto, eu não tive coragem de interromper L., mas isso mostra que ele mesmo é paradoxal: será que um musicólogo pode ser um músico?
A banda de L. não tem mais bateristas. Tocam músicas regionais do norte brasileiro, com influências amazônicas. L. toca com diferentes percussionistas, violonistas e diversos outros instrumentistas. L. apóia músicos que inovem. “Uma amiga minha toca clássicos da Elis e não sabe porque os discos dela não vendem. É uma das melhores na noite paulistana, mas poderia ter mostrado isso em seu CD, não covers”.
L. diz que a cultura norte-americana está em decadência. L. L. já foi jornalista na televisão canadense, depois de trabalhar na revista Bravo e jornais regionais. “O jornal regionalista revela talentos, junto com a televisão desses lugares. Aqui em São Paulo, a elite impede o reconhecimento”.
Seu repertório é rico. L. conhece todo o Brasil, exceto o nordeste. “Vi norte, sul e centro-oeste. Passei um tempo no Pantanal. É lindo”. L. pretende conhecer o nordeste pelo sertão, andando de pau-de-arara.
L. não sabe inglês. L. é meu professor de francês.
R. não falou muita coisa, realmente. Mas, como jornalista de O Estado de S.Paulo, cumpre seu papel com êxito: ouvir as pessoas. Ouve atentamente, atiçando raramente o orador, para deixá-lo à vontade. R. é testemunha, uma testemunha tímida, simples, recém-formada pela ECA-USP.
E eu? Bom, o autor do texto é um amador mesmo.
O encontro dos três ocorreu nesta última terça-feira (15/07), às 9 horas da manhã.
R. é silenciosa. R. contém até o espanto ao ouvir as histórias de L. Tomando um cafezinho às 9 da manhã, R. está se preparando para ir ao seu emprego no Estadão. Teve reunião de pauta ontem e está atarefada, apesar dos cursos de línguas que faz em outros horários. Fala um exótico árabe, que ainda não nos mostrou. Somos jornalistas.
Não lembro ao certo se L. é do Pará. Sei que é formado lá, com o diálogo animado sobre os professores de seu tempo. L. tem idade para ser meu pai. L. começa a falar como a música é formada, muito além do ritmo, pela harmonia e pela melodia. A melancolia de L. é saber que a industria musical resolveu apostar apenas em ritmo, enquanto a beleza harmônica é cada vez mais abandonada. Na evolução de produtoras como a EMI, a Sony e a Warner, surgiu o monopólio e a padronização dos grupos e bandas. Por isso, L. lembra bastante lúcido de “modas” como o grupo É o Tchan.
L. é musicólogo. Musicólogo totalmente especialista em música popular. L. é um produtor. L. pretende, com o lançamento de seu álbum, se tornar um músico, talvez. R. olhava para todos e eu percebia que, à medida que falávamos mais, os jornalistas não sabem um pouco de tudo, mas alguns sabem muitas informações preciosas para as pessoas.
Uma das coisas que L. mais repudia é o atual ministro da cultura, Gilberto Gil. “Artista não entende de produção e nem de contexto artístico. Achei um atrevimento ele falar que a Preta, sua filha, é a única novidade no país, em visita a Europa”. Concordo com L., enquanto R. parece concordar com nós dois, mais falantes do que ela. No entanto, eu não tive coragem de interromper L., mas isso mostra que ele mesmo é paradoxal: será que um musicólogo pode ser um músico?
A banda de L. não tem mais bateristas. Tocam músicas regionais do norte brasileiro, com influências amazônicas. L. toca com diferentes percussionistas, violonistas e diversos outros instrumentistas. L. apóia músicos que inovem. “Uma amiga minha toca clássicos da Elis e não sabe porque os discos dela não vendem. É uma das melhores na noite paulistana, mas poderia ter mostrado isso em seu CD, não covers”.
L. diz que a cultura norte-americana está em decadência. L. L. já foi jornalista na televisão canadense, depois de trabalhar na revista Bravo e jornais regionais. “O jornal regionalista revela talentos, junto com a televisão desses lugares. Aqui em São Paulo, a elite impede o reconhecimento”.
Seu repertório é rico. L. conhece todo o Brasil, exceto o nordeste. “Vi norte, sul e centro-oeste. Passei um tempo no Pantanal. É lindo”. L. pretende conhecer o nordeste pelo sertão, andando de pau-de-arara.
L. não sabe inglês. L. é meu professor de francês.
R. não falou muita coisa, realmente. Mas, como jornalista de O Estado de S.Paulo, cumpre seu papel com êxito: ouvir as pessoas. Ouve atentamente, atiçando raramente o orador, para deixá-lo à vontade. R. é testemunha, uma testemunha tímida, simples, recém-formada pela ECA-USP.
E eu? Bom, o autor do texto é um amador mesmo.
O encontro dos três ocorreu nesta última terça-feira (15/07), às 9 horas da manhã.
Sopa de Letrinhas são crônicas publicadas às quintas-feiras.
Falam de comunicação, de protesto e contra-protesto.
Falam de comunicação, de protesto e contra-protesto.
2 comentários:
Tava achando que era fictícia a crônica, até que no finalzinho, eu me desiludi. Achei legal, bem escrita. Achei interessante a passagem em que é abordado o paradoxo de L., que diz que um artista não pode trabalhar com o que Gilberto Gil trabalha atualmente e, enquanto ele diz isso, ele é um musicólogo que quer ser músico. Seria legal se tivessem abordado ele!
hehe, procurei escrever de um jeito bem simples.
Gostei da sua desilusão. Foi mais ou menos minha intenção: jogar com muita literatura algo que foi real.
E que se refere, justamente, à nossa profissão.
Postar um comentário