quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Guitarra verde e amarela


Um dos maiores guitarristas brasileiros, Kiko Loureiro fez fama no mundo todo tocando com o Angra, tradicional banda de metal brasileira. Além de já ter lançado dois álbuns em carreira solo, No Gravity (2005) e Universo Inverso (2006), o músico possui uma linha de guitarras Tagima e é professor do IM&T (Instituto de Música e Tecnologia).

Universo Inverso, um disco instrumental, mostra a técnica apurada de Kiko, com um diferencial: o heavy metal que o tornou conhecido está diluído em meio a ritmos brasileiros e latinos. A participação do pianista cubano Yaniel Matos, que assina algumas das composições do álbum, foi uma das responsáveis por mudar os horizontes musicais de Kiko. O baterista Cuca Teixeira e o baixista Carlinhos Freitas completam a banda e providenciam a cozinha ideal para os vôos virtuosos de Kiko e os solos jazzísticos de Yaniel.

Abrindo com Feijão de corda, uma mistura de baião e maracatu, Kiko mostra que seu domínio musical se estende muito além de fritações em escalas menores. Além e um contagiante riff inicial, outro detalhe que chama a atenção é o solo de Yaniel que lembra outro grande nome do piano jazz, Herbie Hancock.

Essa influência também está presente na música seguinte, Ojos verdes, de autoria de Yaniel, calcada em ritmos flamencos. Outro destaque dessa música vai para a performance de Cuca na bateria.

Havana, a terceira música, outra composição de Yaniel, é uma mistura de rock, jazz e ritmos latinos muito bem dosada. Em seu solo, Kiko usa toda a sua paleta de truques, de sweeps a ligados, em favor da melodia.

Anastasia é uma espécie de baião de levada mais tranqüila, que, como afirmou Kiko em seu site, é uma homenagem a sua cadela. O disco segue com Monday Mourning, um jazz tipicamente brasileiro, com belo solo de Kiko em uma guitarra sem distorção.

Mais uma homenagem, dessa vez à sua cidade natal, o Rio de Janeiro, Arcos da Lapa é uma mistura de samba com rock. Destaque para o acompanhamento de Yaniel ao piano.

Samba de Elisa, como o próprio nome já diz, é um samba em que fica claro um clima de improvisação jazzística, tanto por parte de Kiko quanto de Yaniel.

Camino a casa, que abre com um grande solo de baixo de Carlinhos, possui uma levada de rock latino que remete o maior nome dessa mistura, Carlos Santana. É uma das músicas mais agitadas do CD e possui um groove contagiante.

As duas últimas músicas, Realidade Paralela e Recuerdos, possuem um clima mais calmo, com solos melódicos, sem virtuosismos. Vale destacar o violão de Kiko em Recuerdos.

Eu já me preparava para desligar o CD Player quando descubro uma música escondida além daquelas dez anunciadas no encarte. O violão de Kiko surpreende com a levada brasileira, que mistura samba e chorinho, assim como a sessão de metais que o acompanha no resto da música.

Como um todo, o CD é muito bom. Tanto pela surpresa em ver um guitarrista de metal tocando temas tão diferentes quanto pelo modo como tratou esses temas e criou grandes composições sobre eles. Um álbum que promete agradar não apenas headbangers como apreciadores de música em geral.

2 comentários:

Pedro Zambarda disse...

Todos que falam do fato do Kiko ser metido, ser um guitarrista sem muita criatividade (bom, eu não o acho pouco criativo, mas recriador de clichês? Sim, com certeza)ou outros tipos de reclamação, caem de boca nesse material, que é um trabalho rico até pra quem odeia o Angra.

André Sollitto disse...

Realmente, o disco é muito bom.
Acho ele criativo no sentido de conseguir misturar estilos como o rock e a música latina de um jeito tão eficiente. Mas de qualquer maneira acho que ficam "endeusando" o cara, e ele não é TÃO foda assim...

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