Jornalista de Araraquara, interior de São Paulo, Jonas Gonçalves tem podcasts na internet, já foi assessor de comunicação, trabalhou em revistas e possui todo seu material reunido em seu blog. Em entrevista ao Bola da Foca, ele falou sorbe o que aprendeu quando estudou na Cásper Líbero, entre 2002 e 2005, e sobre suas crenças no jornalismo.
Por Pedro Zambarda
Por Pedro Zambarda
Bola da Foca: Como é ser jornalista político, utilizando principalmente blog, na internet? É o que você pretendia desde o começo como profissão?
Jonas Gonçalves: Não, foi algo que surgiu com mais força somente no ano passado, com as eleições municipais. Antes, eu apenas era alguém que gostava de estudar a história e saber sobre Política. Porém, no jornal em que eu trabalhava em 2008, havia uma necessidade: ter um repórter cobrindo a área. Então, me propus a isso antes mesmo das eleições, e já mantinha o blog na internet, inclusive. O processo eleitoral só serviu para intensificar algo que estava se tornando cada vez mais natural. E eu acho que é gratificante informar as pessoas a respeito do assunto, ainda mais por se tratar de um assunto com alto nível de complexidade, que muitos nem tem paciência para entender. E por utilizar a internet, sinto-me inserido no contexto atual, de uma forma dinâmica.
BF: Entendo. E para explicar melhor seu antigo trabalho, em qual jornal você cobria política? Como foi a experiência lá?
JG: Trabalhei na Folha da Cidade, de Araraquara, de maio de 2006 a dezembro de 2008. Nesse período, comecei como repórter e acabei virando editor geral, por diversos motivos. O principal deles foi a dificuldade da empresa em formar uma estrutura de redação. Não havia como contratar um jornalista mais experiente para exercer a função. Portanto, acabei herdando o posto, pois o antigo ocupante faleceu em setembro de 2006. Porém, sempre gostei de ser repórter. Ser editor, a meu ver, exige experiência e também muita paciência, pois não é fácil ficar "preso" na redação, apenas "canetando" matérias, propondo pautas e organizando os textos diariamente. Por isso, quis ser repórter de algum assunto, mesmo que de maneira esporádica. Daí escolhi a Política. Posso dizer que, a partir de 2007, comecei a ser um "editor/repórter de Política".
JG: É uma editoria difícil, complicada, mas que me atrai, até por chamar a atenção dos leitores para fatos relevantes, que mexem com toda a sociedade. Cobrindo a política local, no meu caso, a de Araraquara, pude ver como a coisa se desenrolava de forma interessante: os acordos, os bastidores, quem é quem. Já nas eleições de 2006, tive uma amostra, pois cheguei a lidar com o assunto mais diretamente. E a coisa só foi crescendo. Porém, ainda precisava de uma grande experiência que alavancasse o processo. E ela veio a ocorrer nas eleições municipais de 2008, que se tornam, naturalmente, assunto predominante em um jornal local.
BF: Essa grande experiência veio em seu novo emprego?
JG: Não, veio antes. Quando ocorreram as eleições de 2008, eu ainda estava na Folha da Cidade. Só fui me mudar para a Tribuna Impressa no final do ano passado, em dezembro. Aliás, o trabalho que desenvolvi, tanto na Folha quanto no site, me ajudaram consideravelmente a me projetar como jornalista.
BF: Claro. Mas, apesar da experiência dos bastidores e de todos os detalhes da política e dos políticos, você presenciou uma desorganização do jornal em si, quando era editor? Existiram dificuldades em se tornar jornalista, Jonas?
JG: Sim. Acredito que, quando uma empresa carece de recursos tanto financeiros quanto humanos, fica difícil você pensar na execução de um projeto jornalístico. Quando cheguei na Folha, em 2006, era um diário rotulado como sendo "sensacionalista", vivendo basicamente de fatos policiais. Não era isso que eu queria fazer. Portanto, quando me tornei editor, pude fazer mudanças. E tentei torná-lo um jornal mais "palatável", digamos assim, sem essa imagem negativa. Um jornal que fosse voltado para os interesses da comunidade, que desse atenção à política, à economia, aos problemas do cotidiano. Claro que fatos policiais continuaram tendo espaço, mas não aquilo que havia antes, praticamente um monopólio. Ao longo do tempo, aos poucos, a situação foi melhorando, mas nunca foi fácil.
JG: O que constatei é o seguinte: se você quiser ser jornalista, tem que enfrentar o que vier pela frente. Tem que ter muita determinação e saber exatamente aonde se quer chegar.
BF: Essa vontade de "enfrentar o que vier pela frente" você já tinha quando estudou na Cásper Líbero? Como foram as experiências antes de obter o diploma?
JG: Sim, desde os tempos de faculdade, já sabia exatamente o que queria. Claro que você vai descobrindo várias coisas e os interesses podem até mudar de alguma forma, mas nada que me desviasse do meu principal objetivo: adquirir experiência em jornal diário. Porém, antes de obter o diploma, não tive oportunidade em jornal. Fiz dois estágios, o primeiro em uma revista semanal.
BF: Qual revista?
JG: A revista se chama About. Ela é dedicada ao setor de propaganda e marketing. Tanto que o site dela se chama Portal da Propaganda. Escrevi tanto para a revista quanto para o site. Foi uma experiência interessante, mas que não durou tanto, infelizmente. Fiquei lá de setembro de 2004 até janeiro de 2005.
BF: Interessante. Agora, falando sobre a Cásper, o que te marcou nela? Professores? Alguma coisa em especial aconteceu lá e é uma recordação recorrente?
JG: Várias coisas me marcaram. Uma delas era o fato de que se podia aprender muito conversando com as pessoas não só do Jornalismo, mas dos outros cursos também. Havia uma ironia recorrente de que "o pessoal do Jornalismo sempre foi fechado", ou seja, quando eu conversava com gente dos cursos de PP e RP (depois também surgiu o de Rádio e TV), era considerado uma surpresa.
JG: Muitas aulas foram marcantes. Lembro das explicações de História do professor Sidney Ferreira Leite, que sempre entremeava suas falas com passagens da história do Cinema. Também havia muita cultura sendo ensinada, não apenas o ensino do conhecimento espcífico do Jornalismo. Também destaco as aulas do Clóvis de Barros (Métodos e Técnicas de Pesquisa), do Celso Unzelte (Administração de Produtos Editoriais), do José Arbex (História da Comunicação), entre outros. Do Arbex, tem uma passagem engraçada: ele dançou "Like A Virgin", da Madonna, durante uma aula. Foi só um trecho, mas todo mundo caiu na risada, com ele cantando desafinado e dançando. Teve várias passagens "lendárias", digamos assim.
JG: Muitas aulas foram marcantes. Lembro das explicações de História do professor Sidney Ferreira Leite, que sempre entremeava suas falas com passagens da história do Cinema. Também havia muita cultura sendo ensinada, não apenas o ensino do conhecimento espcífico do Jornalismo. Também destaco as aulas do Clóvis de Barros (Métodos e Técnicas de Pesquisa), do Celso Unzelte (Administração de Produtos Editoriais), do José Arbex (História da Comunicação), entre outros. Do Arbex, tem uma passagem engraçada: ele dançou "Like A Virgin", da Madonna, durante uma aula. Foi só um trecho, mas todo mundo caiu na risada, com ele cantando desafinado e dançando. Teve várias passagens "lendárias", digamos assim.
BF: Nossa, devem ter sido. E foi muito complicado estudar em São Paulo sendo de Araraquara?
JG: No começo foi, pois tive que me adaptar ao ritmo de São Paulo. Quando entrei na Cásper, estava morando na capital há um ano, mas ainda não tinha me desligado completamente do modo de vida do interior, que é mais tranquilo. Ainda estava me ambientando também a enorme diversidade de pessoas que é possível encontrar em uma metrópole. Acabei me acostumando e gostando muito da experiência. Até porque, em São Paulo, as pessoas estão habituadas a ver gente de tudo quanto é lado chegando lá para estudar ou trabalhar. Então, é um processo normal. O que é frequente no início é repararem no sotaque, muito diferente do que é comum entre os paulistanos. Isso acaba se tornando bem engraçado.
BF: E, além do sotaque, é muito diferente trabalhar em Araraquara do que trabalhar na capital?
JG: Muito diferente. Em termos de ritmo, a história é completamente outra. O nível de exigência, então, nem se fala. A concorrência em São Paulo é enorme. Existe uma grande quantidade de pessoas qualificadas. A oferta de emprego é bastante ampla, pois existem muitas empresas no mercado. Porém, não é tão simples arranjar emprego, pois você precisa mostrar que possui qualificação suficiente.
JG: No interior, há uma carência de mão-de-obra aliada a baixa oferta de vagas. Então, é uma dificuldade tanto para as empresas quanto para quem procura trabalho. Porém, se a pessoa tiver qualificação e bons contatos, é possível pleitear e conquistar uma vaga. Mas é preciso ter paciência pois, no interior, geralmente as coisas são resolvidas de uma forma mais lenta. Para conseguir meu atual emprego, que é no maior jornal da região, tive que esperar três anos por uma oportunidade.
BF: E você conseguiu na editoria em que você é especializado, não é? A Política?
JG: Infelizmente, não. Mas isso não se constitui em um problema. Acredito que ainda tenho muito a aprender no Jornalismo. E tenho plena consciência de que, para ser um repórter de Política, é preciso ter muito conhecimento e muita experiência. Considero que já tenho um nível razoável tanto de um quanto de outro, mas ainda não o suficiente.
JG: Por isso, mesmo sendo na editoria de Cidades, o trabalho na Tribuna Impressa tem me ajudado bastante. Estou aprendendo a escrever mais e melhor, a ser mais dinâmico e também acredito que o meu currículo está ficando mais rico.
BF: Sobre especializações, você acredita que mestrado e doutorado são bons para melhorar o profissional? Você acredita no conhecimento acadêmico ou prefere que ele se consolide apenas no cotidiano das redações e da reportagem?
JG: Antes de mais nada, essa é uma ótima pergunta.
JG: Acredito que o conhecimento acadêmico pode contribuir muito para que um jornalista fique mais preparado. É importante frisar que um mestrado e um doutorado, atualmente, são importantes para qualquer carreira. O problema é que, durante muito tempo, títulos acadêmicos não significaram nada no Jornalismo em termos práticos. Felizmente, isso mudou. Hoje, é impensável alguém se contentar apenas com a graduação.
JG: No meu caso específico, quero fazer um curso de especialização em Jornalismo Político. Acredito que será um grande diferencial em minha carreira. Mas a experiência prática, de reportagem, e a vivência em redações, é absolutamente essencial e indispensável. É preciso viver a coisa como ela é para poder assimilar a experiência e depois transmitiíla no ambiente acadêmico, seja por meio de aulas ou de pesquisas.
BF: Você acredita na transmissão do conhecimento prático na academia?
JG: Sim, acredito. É possível fazer uma boa transmissão de conhecimento nas faculdades, desde que se tenha uma preparação adequada. Um jornalista de renome pode ser um péssimo professor. Entretanto, um jornalista sem fama, mas com o devido comprometimento com a função de professor, pode fazer um trabalho acadêmico excelente. É preciso ter didática e uma boa dose de flexibilidade.
JG: Nenhum conhecimento é imutável. O Jornalismo continua passando por diversas transformações. Se os professores não se reciclarem e não buscarem se atualizar, ocorrerão sérios problemas.
BF: Falando sobre problemas, ao entrar no mercado, além das questões administrativas, quais outros problemas você testemunhou sobre o jornalismo de hoje?
JG: Infelizmente, muitos jornalistas saem das faculdades completamente despreparados. Existem diversos tipos de deficiência. A mais aguda é a deficiência técnica. Tem pessoas que podem até saber escrever, mas não de uma forma jornalística. Simplesmente não sabem escrever uma reportagem ou mesmo um release de assessoria de imprensa. Mas a culpa não é toda das faculdades. Isso é um reducionismo que leva pessoas até mesmo a acreditarem no absurdo de que "jornalista não precisa de diploma".
JG: Isso é uma falácia. As pessoas precisam ter um melhor nível educacional, nos ensinos Fundamental e Médio, para chegarem ao Ensino Superior pelo menos com os conhecimentos básicos em dia. E, ao mesmo tempo, as faculdades e universidades precisam melhorar continuamente, tanto em termos de estrutura física, como de corpo docente, métodos de ensino, biblioteca, entre outros aspectos.
BF: Certo, Jonas. Pra fechar, qual mensagem você daria pra quem se interessa por jornalismo e para os jornalistas políticos considerados "veteranos"?
JG: Para quem se interessa por Jornalismo, posso resumir em um lema: "Nunca desista". Sempre é possível atingir os objetivos, mas é preciso ser duro na queda. Pessoas de vontade fraca não sobrevivem à dureza do período de desemprego que a maioria tem que passar depois da faculdade, não suportam trabalhar ganhando pouco, entre outros problemas. É preciso ter coragem e força de vontade.
JG: Aos jornalistas políticos veteranos, que tenham consciência da enorme responsabilidade que possuem para com a sociedade, que nunca se metam em jogos de poder e se entreguem a políticos ou partidos. O jornalista deve servir à sociedade, acima de tudo. E, na Política, em especial, o trabalho precisa ser impecável, pois as pessoas dependem das informações dos jornalistas para serem cidadãs.
6 comentários:
"Houveram dificuldades em se tornar jornalista, Jonas?"
HOUVERAM?
Senti uma certa deficiência na cabeça dessa entrevista. Ela não me explica quem é o cara, o que ele fez da vida, a razão para ler uma entrevista com ele. Sem contar que, se eu quiser conhecer seu trabalho na internet, por exemplo, vou precisar recorrer ao amigo Google.
A entrevista tem informações interessantes e meio que motivadoras pra quem vai sair daqui a alguns anos no mercado de trabalho querendo ser jornalista / repórter, mas faltou esse resuminho de conteúdo da entrevista no abre.
E acessor não é aSSessor?
É isso, por ora.
"Ela não me explica quem é o cara, o que ele fez da vida, a razão para ler uma entrevista com ele."
Ué, mas eu coloquei as informações no começo.
Esqueci de colocar o link, verdade, mas isso já foi corrigido agora.
Não entendo "razões" para se entrevistar alguém. Ele é jornalista e tem algo a falar. Aqui ele tem esse espaço. É isso.
A questão é que existem milhares de jornalistas no mundo, por que ler uma entrevista com este em especial? Entrevistas, principalmente pigue-pongue, não podem ser aleatórias. Por mais que se queira ter uma proposta diferentes, existem conceitos do jornalismo que são fortes. E acho que um dos principais é o grande POR QUE LER SOBRE ISSO que rodeia qualquer texto jornalístico.
Ele realmente tem algo a dizer, e disse. Mas não encontrei essa razão na cabeça, como disse antes, apenas nas respostas dele.
p.s.: "é isso" não encerra discussão e deve ser usado com cautela pelos jornalistas, mesmo aqueles em formação.
Leitora, não acho tão simples assim. Entendo seu ponto, mas o blog aponta que somos amadores. Logo, a lógica comum de seleção de entrevistados não funciona muito bem aqui.
Poderia ir atrás do Heródoto, que já entrevistei, do Mino Carta, do William Bonner.
Escolhi Jonas Gonçalves, e é isso sim.
Talvez por ele ser ex-aluno da Cásper. Talvez por isso.
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