Folhas, Professores e "Ditabrandas", ou duras

Uma certa Folha de S.Paulo do dia 17 de fevereiro publica um editorial que critica a manutenção quase indefinida de um certo Hugo Chávez, sendo explicitamente contra uns dirigentes de esquerda. Certos professores uspianos - Fábio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides - estão entre as cartas de leitores revoltados no dia seguinte com a abordagem do jornal, que alegou que os governos militares brasileiros, entre 1964 e 1985, foram "brandos" em relação ao domínio dos outros líderes sul-americanos. Os professores são chamados de "cínicos" pelo periódico de maior circulação do país, ao contrário dos demais leitores, simplesmente porque são de esquerda.

Não se trata de apoiar um lado ou outro, não se trata de ficar com dó de ideologias próximas de Chavéz. Mas me deprime saber, e mancha demais a imagem da Folha, imagens como os comentários no blog do Marcelo Coelho, que declaradamente defendeu o jornal e considerou o termo "ditabranda" brasileira apenas infeliz. Nem Marcelo deveria defender o jornal e nem as pessoas deveriam apedrejar a Folha de S.Paulo: a população brasileira, tanto quanto seus jornais, foi sim conivente com um governo que torturou e perseguiu comunistas.

Tempo pra choramingar as mortes transformaria o discurso, assim como a nostalgia de sistemas que causaram guerras realmente "terroristas", como a Guerra Fria. O que as pessoas deveriam fazer, além de palpitar, seria observar aspectos relevantes de todas os debates do assunto. Se a Folha mostra um lado conservador de seus dirigentes internos, a polêmica não deve ser encarada apenas como um jornalismo de má qualidade, mas sim como verdades que ficaram camufladas pelo discurso pasteurizado de que ou aquele período foi puro massacre, ou apenas "brando". O discurso foi produzido e reproduzido por políticos, civis ligados a esses políticos e, só depois, jornalistas. Nessa situação, pessoas sentem-se muito cômodas em organizar um manifesto, como o que vai ocorrer na sede da Folha de S.Paulo no próximo dia 7, aliado a partidos políticos de esquerda. Transforma-se a discussão maior numa mera disputa entre tendências políticas (socialismo e capitalismo), enquanto o discurso velado permanece nas entrelinhas de nossa população.

O tal "distanciamento" que professores universitários insistem em tentar dizer, mas poucos conseguem cumprir, deve ser tomado numa discussão dessas, sem questionamentos quanto a ideologias. A polêmica em cima do jornal elucida a incoerência dos relatos de uma certa época.