sexta-feira, 6 de março de 2009

O Pasquim: a chave que abriu a mente popular

Disse uma vez Ziraldo: "O jornalista tem muita importância para ser preso e nenhuma para ser solto." O grande cartunista se referia à censura e à perseguição cultural no período militar, que não só ele como todos os membros d'O Pasquim poderiam comentar com precisão.

O tablóide de alma carioca pode ser considerado o que mais ousou durante a ditadura militar. Além de Ziraldo, o time que compunha a redação era, na verdade, uma seleção. Com nomes como Jaguar, Henfil, Sérgio Cabral, Paulo Francis e Millôr Fernandes, o humor era peça-chave para driblar a censura e discutir, com autenticidade, o que se bem quisesse.

Com essa postura, o jornal foi conquistando leitores rapidamente, e quando deu-se conta, O Pasquim já estava presente em cada casa carioca, falando exatamente o que a consciência brasileira queria ouvir.

Posteriormente, alcançou também os estados paulistas e mineiros, chegando a uma escala de divulgação além do controle ditatorial. Incomodados com este sucesso desfavorável a seu governo, os militares invadiram a redação do tablóide e prenderam todos os membros que ali estavam. Dessa forma, O Pasquim encerraria seu trabalho de vez.

O que o governo não imaginava, é que o jornal contava com influentes amigos leitores, que dariam continuidade ao trabalho até a volta dos seus criadores. Os colaboradores eram Chico Buarque, Caetano Veloso, Leila Diniz, Sérgio Augusto, Vinícius de Moraes, Tom Jobim e outros importantes ícones da época. A edição impressa por estes continha uma nota dizendo que os membros d'O Pasquim haviam pego uma gripe coletiva e por isso estavam ausentes, mais uma maneira implícita de passar recados aos pasquinianos.

Com a repercussão que esta edição causou, Jaguar e cia. foram imediatamente soltos e, assim, o periódico pôde continuar com sua trajetória debatedora. Começando como uma brincadeira de amigos boêmios, O Pasquim se tornou o mais querido jornal contrário à ditadura, aquele que deu ânsia de renovação aos desacreditados, coragem aos retraídos e informação aos alienados. Foi uma das provas que o necessário para a clareza de uma situação é a presença ética de formação de opinião. E esta só é possível com o velho "Quarto Poder" social: o jornalismo.

As fotos são dos volumes 1 e 2 da antologia reunindo entrevistas, artigos e reportagens feitas pelo O Pasquim.

Um comentário:

Pedro Zambarda disse...

Talvez seja legal pesquisar as entrevistas sem censura ou edição feitas pelo Pasquim. Um primor ;D

Parabéns pela matéria.

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