terça-feira, 17 de março de 2009

A juventude que nunca morrerá

Benjamin Button, o tempo e a obsessão pela juventude.


“Eu nasci sob circunstâncias não usuais. Enquanto todos estavam envelhecendo, eu estava ficando mais jovem”. É assim que Benjamin Button, do conto de F. Scott Fitzgerald, explica sua singularidade: ele nasceu velho para morrer jovem.

A história de Benjamin comove muito: é a concretização de um pensamento recorrente em nós, de uma curiosidade ardente por saber como a vida seria, se o processo de crescimento fosse ao contrário. É o sonho de consumo: mente evoluída, corpo jovem. Quem nunca pensou em estacionar nos 25 anos que atire a primeira pedra.

A juventude é a fase mais preciosa da vida, e a mais irresistível também. É a fase onde milhares de portas são abertas, onde você faz as escolhas que te levaram até onde você está hoje. Bons tempos, sem chefe, sem preocupações de gente grande, sem trabalho e, o melhor de tudo: liberdade. Você pode fazer o que quiser que é justificável.

Imagine o estrago que você faria se tivesse o conhecimento de hoje, em um corpo de 20. Seja Benjamin ou Madonna, o tempo passa e, como já dizia Cazuza, ele também não para. Mas tem gente que simplesmente não consegue seguir em frente e aceitar que envelheceu, o que pode gerar uma busca doentia pelo rejuvenescimento.

É sempre bom sentir-se bem consigo mesmo, sentir-se saudável e potente. Para isso, o mais indicado é fazer aquele regiminho, ou melhor, reeducação alimentar, e praticar exercícios. Mas se mesmo assim o pneuzinho insistir em te perturbar, você vai começar a pensar em uma lipoaspiração.

Esse é o limite entre o saudável e o não saudável, para a psicóloga Gabriela Galván, “É saudável desde que não suplante todas as outras coisas. Quando vira objetivo e não tem limite, deixa de ser saudável. Uma coisa é a gordurinha pós-parto, outra é fazer lipoaspiração, puxar aqui, arrumar ali, colocar peito. É questão de cuidado, de manter o bem-estar, enquanto não tome controle da sua vida.”

O geriatra Claudio Souza fala sobre uma banalização do processo cirúrgico: “As pessoas confundem lipoaspiração com regime, esquecem que ela só funciona se você mantiver o peso depois. Não adianta fazer e não ter uma dieta saudável”. Para ele, a linha do não saudável é cruzada quando não é visada a qualidade de vida, e trata-se de mera vaidade, “se a pessoa não tiver um motivo forte, ela pode não ficar satisfeita, ela arruma o nariz e acha defeito em outro lugar, então vira um círculo vicioso.”

O medo de envelhecer, segundo os dois, vem também de um processo social, da falta de respeito, da desvalorização do antigo frente o novo e do fantasma do desemprego. “Envelhecer é muito confundido com perdas, de beleza, de encanto, de atração e de capacidade física, fora a proximidade com a morte. É uma fase carregada de simbolismos negativos. Além do que, no mundo de hoje, o espaço é limitado não só para a velhice, mas para as diferenças, para qualquer coisa que não seja perfeito, prático e rápido. Não há tempo a perder”, esclarece ela.

É por isso, também, que Benjamin é um exemplo. Sua relação com Daisy aparece pura, ele quando velho não fica com ela garotinha, e ela quando madura cuida dele como uma mãe. Eles respeitaram e aprenderam a usufruir o tempo que lhes foi concedido, em cada fase de suas vidas. Claro que não foi fácil, especialmente para ela, que tinha medo de ser vista como pedófila pela sociedade.

Esse é outro fator que leva as mulheres a procurarem aperfeiçoamentos estéticos, “O ideal social de beleza é mais cruel com as mulheres, a expectativa com relação a nós é maior. Mas isso tem mudado aos poucos, com o surgimento do homem moderno metrossexual. Mas ainda, a tolerância social é maior com os homens envelhecidos. É mais difícil ter um casal onde o homem é o mais jovem”, afirma a psicóloga.

Mas, apesar de a pressão ser maior sobre as mulheres, os homens não ficam para trás. Segundo Claudio, “O homem também entrou no mundo das cirurgias, mesmo que recentemente. Eles fazem bronzeamento artificial, plástica, tudo. Apesar de preferirem mudanças mais suaves, como arrumar a pálpebra e o nariz, também aplicam botox e fazem lipoaspiração.”

Gabriela fala de outro fator importante, que facilita o processo: “Houve uma evolução na medicina, uma mulher de 60 anos de hoje aparenta menos do que uma mulher de 60 de antes. As descobertas ajudaram a que as pessoas pudessem se manter mais bonitas e mais jovens por mais tempo.”

Motivados por vaidade, por bem-estar ou por estética, os métodos rejuvenescedores estão mais populares do que nunca, e cada vez mais acessíveis. No entanto, o médico alerta sobre a importância em tomar cuidado com a escolha do profissional, para não correr mais riscos do que o natural. Porque, se ocorrem complicações com grandes cirurgiões, quem dirá com um não tão capacitado.

Há quem cuide, há quem aceite, há quem fabrique, há quem compre. Seja por medicina, por mentalidade, comportamento ou vestimenta, o fato é um só: a juventude está na moda.

5 comentários:

Pedro Zambarda disse...

coluna bacana. Pode ser desenvolvida de outras formas. Mas tá bem atual.

Unknown disse...

Um bom texto. Só que a questão que fica, pra mim, não é o fato da juventude ser uma moda. Mas sim um objetivo natural do ser humano. O problema é que nos dias de hoje temos a tecnologia que emula tal condição. E dai surge o perigo

MissBruno disse...

thanks, Thiago.^^

Anônimo disse...

Um texto muito bom. Apesar de longo, consegue prender bem o leitor. Achei interessante como partiu da história de Benjamin Button para depois abordar um tema maior.

A única mudança que talvez pudesse ser feita seria introduzir a fala da psicóloga ou do geriatra um pouco mais cedo. Isso poderia dar mais legitimidade e força ao texto, desde a abertura.

mariane disse...

Mais um post que gostei, vou assinar o feed : )

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