Dizem que não existe esporte mais cruel que a Fórmula 1. As pressões são insuportáveis, crescendo de forma proporcional à injeção de dinheiro. E, falando de F1, é realmente muito dinheiro. São poucos os que suportam uma longa vida nesse esporte. Quando conseguem, jamais o fazem sem passar por conflitos, suspeitas e escândalos. Diante de tantos pilotos que sucumbem, Nelson Ângelo Piquet acaba de ganhar seu lugar na história.: da forma mais triste possível.
A FIA divulgou nesta quinta-feira o depoimento que Nelsinho deu à instituição no fim de julho, detalhando o plano elaborado por Flávio Briatore e Pat Symonds para que ele batesse na volta 13 do GP de Cingapura em 2008, favorecendo o companheiro Fernando Alonso. O espanhol venceu aquela corrida, e, no fim do ano, Nelsinho teve seu contrato renovado. A bomba havia sido plantada por Reginaldo Leme durante a transmissão do GP da Bélgica, e agitou o mundo da F1.
Segundo investigações posteriores da revista Autosport, foi o pai de Nelsinho, Nelson Piquet, quem repassou a informação para Reginaldo. Foi ele também quem abordou o presidente da FIA, Max Mosley, relatando todo o episódio. Foi a partir daí que a FIA iniciou uma investigação que durou dois meses, colhendo depoimentos de vários pilotos, mecânicos e dirigentes. Resumo da história: Briatore perdeu a paciência com a falta de pontos de Nelsinho e o demitiu. Em uma vendetta pessoal, os Piquets resolveram jogar a merda no ventilador.
A única desculpa que Piquet Jr usa nas quatro páginas de depoimento se restringe a apenas duas linhas: “eu estava em momento emocional e mental frágil.(...)Resolvi aceitar porque pensei que melhoraria meu momento na equipe(...)”. Alguns mais complacentes enxergaram uma honestidade categórica no depoimento do (ex?)piloto. No país que vivemos, isso já é motivo para perdoar. Em um esquema arquitetado pelo pai, provavelmente Nelsinho não será punido. Delação premiada é o nome da coisa. Alonso também se safará, sendo poupado pelo brasileiro no depoimento, pois aparentemente não sabia mesmo de nada.
A F1 é, com muitos elogios, suja. A grande maioria das pessoas que estão lá não vale muito. É um efeito colateral das montanhas de dinheiro. No entanto, esse papel sempre ficou restrito aos dirigentes, aos chamados falcões que brigavam com armas muito acima do que os pilotos poderiam fazer, sendo verdadeiras guerras com espiões e tudo que se tem direito. Nelsinho Piquet acaba de entrar na história como um piloto que sucumbiu da pior forma possível a todas as pressões. Um jovem que sempre teve tudo se viu perdido quando foi pressionado ,e teve seu caráter testado. Mostrou-se uma sombra melancólica do grande piloto que o pai foi.
A FIA não irá puni-lo e legalmente ainda poderá correr. No entanto, sua carreira estará enterrada. O esporte acabou para ele. Amigos na categoria já se dizem decepcionados e chocados. Seria uma pena ver tudo isso, se não sentíssemos um justo sentimento de “bem-feito” em relação a um homem que manchou um dos maiores sobrenomes do automobilismo. Resta a esperança de que usará sua longa vida para repensar tudo e, talvez, se arrepender e fazer algo que preste para o esporte que maculou.
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