quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Pequenas considerações sobre a educação no Brasil

Há tempos discute-se sobre a educação pública no Brasil: melhorias, pontos fracos e soluções. É claro que ela não é modelo para nenhum país – visto que ocupa a 76ª posição entre as 129 nações avaliadas pela Unesco no que se refere à situação da educação básica. Mas, antes de investir nela, é preciso trabalhar a mentalidade daqueles que serão o futuro deste país.

Não adianta comprar os tijolos, o cimento e começar a construir, sem antes criar uma planta e fazer o alicerce da casa. Na educação, o fundamental é a colaboração e empenho do estudante. Se ele não tem consciência de suas responsabilidades, a escola cai! Eu sempre estudei em instituições do governo e, desde pequena, percebi que não adianta ter a melhor escola e os professores mais capacitados. É preciso gostar de estudar.

Essa mentalidade ficou mais evidente no ensino fundamental, quando estava entrando na adolescência. Minhas amigas só sabiam fofocar sobre os gatinhos e, os meninos, jogar futebol e tacar papel nos professores. Tínhamos o cimento e os tijolos nas mãos, mas, como para muitos faltava a planta com o alicerce, não existia pedreiro que fizesse a obra render.

Sempre fui CDF. Gostava de aprender e compartilhar conhecimentos. Mas isso só se tornou uma vantagem quando consegui uma bolsa no Prouni (Programa Universidade para Todos) e ingressei numa instituição de ensino superior privada. Até então, sofria o preconceito dos meus amigos que me consideravam careta e sem graça. Para os meninos, eu não passava de uma garotinha sem jeito que adorava devorar os livros, ao invés de fazer isso com eles. Pobre mentalidade!

O ensino fundamental acabou e veio o médio – a última etapa da educação básica. Minha escola era considerada a melhor da região em infraestrutura e conteúdo, mas quanto aos alunos... Era uns 1,2 mil estudantes nos três períodos, sendo que destes dava para contar no dedo aqueles que realmente queriam aprender alguma coisa.

Se na pré-adolescência o foco era admirar os gatinhos para as meninas; e zoar os professores para os meninos; nessa fase a moda era usar drogas e promover orgias. A farra era tanta que três amigas ficaram grávidas com 16 anos, sem contar dois colegas presos por tráfico de entorpecentes. Ir a escola era só uma desculpa para sair de casa e colocar o papo em dia – visto que grande parte dos pais desses amigos colocavam-os de castigo depois do horário das aulas para ver se eles criavam juízo.

Enquanto eles discutiam futilidades, eu e alguns raros gatos pingados discutíamos fórmulas, teorias e ideias. Resultado: o Ensino Médio acabou com 17, dos 50 alunos que começaram a caminhada, e eu e mais alguns esforçados colegas ingressamos no Ensino Superior. E os outros? Bem, os outros estão colhendo os frutos que plantaram na adolescência. Quiseram aproveitar demais e se esqueceram que a Educação Básica é apenas o primeiro passo nessa longa caminhada que é a vida.

A culpa é da escola? Não, porque se fosse, eu, que tive a mesma educação, não estaria onde estou hoje – cursando o 3 ano de Jornalismo, na melhor faculdade da área da minha região, tendo os meus estudos pagos pelo governo e ainda trabalhando numa das maiores empresas de comunicação do Vale do Paraíba. A diferença é que eu levei a sério a escola e, além disso, busquei conhecimento em casa, além do que me era cobrado. Posso até ter perdido minha adolescência em alguns aspectos, mas agora já estou prestes a concluir a lage da minha casa, enquanto a maioria nem começou a levantar as paredes.

8 comentários:

Nadiesda Dimambro disse...

Gostei bastante da estrutura do texto e das analogias com a construção e tudo mais =)

Se não é culpa da escola, toda essa deficiência dos alunos e sua "falta de consciencia de suas responsabilidades" podem ser sanadas como? E a crítica ao ProUni?

Anônimo disse...

Concordo com voce.Não é culpa do ensino. A verdadeira culpa pode ser atribuída ao desinteresse do aluno pelo que está sendo ensinado, priorizando coisas fúteis que trazem um prazer efêmero.

Outra coisa que Eu penso é que muita gente estuda pelo método do "decoreba" e deixa de raciocinar, ou seja :"inteligência de papagaio".

E pra aprender, tem-se que ler, e ler, e ler...

Essa cultura de orkut e msn não leva a nada. Ler e se aprofundar no que lê, para não se tornar como um verbete de dicionário.

Pedro Zambarda disse...

Ler e utilizar algo disso.

That´s the difference.

Nadiesda Dimambro disse...

Olha, acho pouco sábio atribuir toda a culpa ao estudante! Fazer isso é desconsiderar toda sua conjuntura social, todo o contexto em que está inserido. Individualizar as coisas só reitera ainda mais a lógica individualista, fútil e superficial do sistema no qual estamos inseridos.
Dá para julgar essa maioria desinteressada? Chamá-los de culpados sem pensar duas vezes? Acho que não. Para mim, são vítimas.


A situação da educação no Brasil só vai mudar quando a transformação começar pela base. E projetos como o ProUni definitivamente não colaboram com isso.

Pedro Zambarda disse...

Acho interessante seu ponto, Nadiesda. Mas tenho uma crítica.

Pensar que a culpa não é individual é fugir de certas coisas. Este presente blog é fruto de um esforço individual de cada um. Não se trata apenas de sermos classe média e de termos acesso à internet.

O que faz, quase toda diferença, é o uso disso.

Ariane Fonseca disse...

Nadiesda,

Eu entendo o seu ponto de vista, mas não concordo completamente. É claro que os fatores sociais e individuais do aluno interferem, sim, no aprendizado dele. Mas eu conheço pessoas que foram abandonadas pelos pais, que passaram fome e grandes dificuldades na infância e que hoje são profissionais renomados. Exceção? Sorte? Creio que é força de vontade. É claro que o governo não é o melhor incentivador da educação no Brasil - prova disso é ter um presidente analfabeto e o Senado aprovar uma lei que tira a obrigatoriedade do diploma para jornalistas, ao invés de incentivar as pessoas a estudarem -, mas creio que a diferença está em cada um de nós. Acredito fielmente na frase: "Querer é poder", independente da sua situação na sociedade.

Quanto ao Prouni, eu não acho que ele seja uma má inciativa. Muito pelo contrário, creio que seja uma forma de oferecer mais vagas no ensino superior para pessoas que não tem condição de pagá-las.

Pedro Zambarda disse...

O problema é a falta de um incentivo equivalente, ou melhor, no ensino de base, Ari.

Marta @suco_de_uva disse...

Fantástico texto!

Eu concordo com você, apesar de refletir sobre os motivos que levam os estudantes ao desinteresse. Não creio, entretanto, que sejam vítimas, como Nadiesda disse. Pode ser apenas cultural. Minha mãe é um exemplo: quebrou o ciclo do "Estudar pra quê? Vai trabalhar que você ganha mais!" e lutou por uma condição de vida melhor.

Depende de cada um de nós e nós temos os tijolos. O que vamos fazer para fazer com que a próxima geração se interesse em aprender?

Posts mais lidos