segunda-feira, 14 de setembro de 2009

E a Pixar conseguiu de novo!

Up prova que não existem limites para a turma de John Lasseter

Quando me deparei pela primeira vez com Toy Story em 1996, lembro ter achado tudo aquilo chocante. Era bem feito demais na visão de uma criança de 8 anos. Em minha mente, tudo aquilo era perfeito. No entanto o que mais atraia era a história, e seus personagens. Com o passar do tempo fiquei surpreso em perceber que nada daquilo havia mudado, e a cada filme novo da Pixar a experiência era a mesma, apesar da total diferença entre elas. No ano passado pensei que o ciclo estava fechado ao terminar de ver uma das maiores obras-primas do cinema: Wall-e. Nossa, como eu estava enganado.

Up – Altas Aventuras, o décimo filme do estúdio mais autoral dos EUA, é um soco no estomago de 99% dos produtores de Hollywood. Em vez de peixes, carros coloridos ou um robô ultra-simpático, a estrela da vez é um velho ranzinza e viúvo. Ou seja, o personagem menos atraente para crianças que se poderia imaginar. A quebra de parâmetros permanece logo nos primeiros momentos do filme, contando a vida regressa de Carl Frederikessen com sua esposa Ellie, desde o momentos que se conheceram, ainda crianças, até a morte da Ellie. A forma como essas cenas são contadas, desde o princípio em uma antiga sala de cinema, são das mais emocionantes que a Pixar já produziu.

A espinha dorsal do filme é a parceria de Carl com o garoto Russel e sua aventura na América do Sul, depois do primeiro ter finalmente criado coragem para realizar um antigo sonho de sua falecida esposa. A sensibilidade do roteiro em mostrar que, para Carl, Ellie está sempre presente, é marcante. Confesso que gastar tempo aqui explicando a história de Up, como a cartilha das críticas recomenda, me parece algo inútil. Pois, como sempre ocorre filme do estúdio, a história principal é o que menos importa. O que mais importa é a luta interior que Carl e Russel enfrentam durante toda a produção.

O diretor Peter Docter usa e abusa dos flashbacks, mostrando a verdadeira personalidade de Carl. É um homem que amou sua esposa mais do que a si próprio, mas viu seus sonhos serem enterrados diante do cotidiano. A forma como ele se refere a sua finada esposa, olhando para sua pendurada por balões nos céus, é de simbolismo simples e tocante. A casa nada mais é, do que sua esposa ainda viva, voando entre as nuvens. Nesse saudosismo que sua relação com o jovem Russel se fundamenta. O garoto alegre e obstinado na verdade vive uma busca árdua pela aprovação própria e a de um pai que ele se nega a admitir que se foi. O fato de percebermos, só na segunda metade do filme, que Russel na verdade é órfão pode ser um choque para alguns, e até passar despercebido por outros.

Se uma palavra define essa nova obra da Pixar, a palavra certa é sutileza. Diferentemente da arte e das referências escancaradas de Wall-e, do requinte de Rattouille ou do frenesi de Carros e Os Incríveis, tudo em Up acontece de uma forma controlada e medida. O resultado é um filme que não impressiona a primeira vista – como os anteriores – mas que, quando analisado nas entrelinhas, mostra a real beleza de suas histórias e seus personagens. Beleza essa que rivaliza com as cores e paisagens exuberantes criadas pelo estúdio, ingressando melhor que nunca na era do cinema 3D.

Se tenho uma coisa dizer agora é: nunca mais darei o ciclo da Pixar por encerrado. Walt Disney, se estivesse vivo, estaria muito orgulhoso dos sonhos que John Lasseter e sua pequena empresa criaram.

2 comentários:

Roxane Teixeira disse...

O filme é mesmo maravilhoso - a sequencia inicial e a cena do álbum da Ellie me fizeram chorar... Mal posso esperar pela próxima animação da Pixar!

Pedro Zambarda disse...

Gostei da sua resenha. Engraçado como o entusiasmo faz bem para a sua crítica :]

Embora eu goste de escrever, também, quando estou insatisfeito ou indiferente...

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