Na próxima sexta-feira, finalmente saberemos qual cidade sediará as Olimpíadas de 2016. E o Brasil, pela primeira vez em sua história (como tudo desde 2002), tem uma chance real de ter o Rio de Janeiro como cidade escolhida. Na verdade, o Rio é, segundo a imprensa, o favorito para a disputa. E, nestes tempos de Pré-Sal, Copa do Mundo e graus de investimento, ser contra as Olimpíadas no Brasil é pior torcer pra estrangeiro na Fórmula 1. Pois bem, eu sou, e vou aqui dizer o porquê.
Bom, para que este post se justifique, algo relativamente diferente precisa ser dito. Ninguém precisa ler isso aqui para saber que, financeiramente, sediar as Olimpíadas é um absurdo. Só o orçamento da PROPOSTA até agora bate nos 116 milhões de reais. Boa parte disso vem da iniciativa pública. Os custos das obras superam a barreira dos R$ 30 bilhões! Fala-se nas famosas PPPs – parcerias público-privadas – mas até agora não se ouviu falar o nome de uma única empresa que se disponha a botar dinheiro no projeto. Enfim, com o orçamento estourado, a coisa vai sobrar para o governo público. Mas isso é chover no molhado, porque, afinal de contas, nada é inédito. O Pan 2007 está ai para nos provar.
O ponto é outro. Quando a China lançou a candidatura de Pequim aos Jogos Olímpicos de 2008, uma de suas bases foi um extenso programa de incentivo ao esporte no país que vigora desde os anos 80. Resultado disso: o país se tornou a maior potência olímpica nos últimos jogos. Com a Grécia, em 2004, o grande peso foi o retorno ao berço de tudo, algo relativamente importante, não é? Sidney, em 2000, além de uma organização orçamentária e estrutural exemplar, conseguiu a vaga novamente mostrando o esporte como parte da vida do australiano. EUA em Atlanta em 96 não foi diferente. Londres em 2012 será a mesma coisa. Agora, por favor, alguém pode me mostrar o grande atrativo do Rio de Janeiro – e do Brasil - com exceção de sua beleza natural? Por que se fosse apenas este o caso, já passou da hora de fazer uma Olimpíada na Nova Zelândia.
Os Jogos Olímpicos estão sendo vendidos aqui no Brasil como o grande salto econômico no país. Será o marco definitivo para o esporte brasileiro. Mas oras, não há algo de errado com isso? As Olimpíadas não deveriam ser a consagração do esporte no país, e não apenas a justificativa? E como esse incentivo aconteceria? Tal plano não está disposto no caderno de propostas entregue ao COI. Simplesmente o que temos são maquetes de grandes pirâmides que serão erguidas no Rio de Janeiro. E tais pirâmides, de fato, são obras maravilhosas, que deverão atender a toda necessidade que o evento demanda.
O Brasil nunca sofreu de síndrome de grandeza como sofre nos dias de hoje. Ao invés de começarmos devagar, queremos ir direto ao evento principal. Como sediar as Olimpíadas e se dizer um país de fato olímpico, quando mais de 60% das escolas publicas não tem quadras? Como se dizer um país olímpico, quando nosso esporte vive de fenômenos como César Cielo e Gustavo Kuerten? O único esporte que o país tem hoje com desenvolvimento sustentável é o vôlei, e olha lá. O futebol já faz parte do nosso DNA.
Sediar os Jogos Olímpicos pode ser um erro em todos os sentidos. Gastaremos muito dinheiro que poderia ser usado para coisas mais urgentes, mesmo dentro do esporte! Corremos o sério risco de simplesmente esquecer que nosso país tem graves problemas em meio a empolgação por sediar os dois maiores eventos do mundo em dois anos. Se o Rio for eleito, nesta sexta-feira, o Brasil será a maior potência olímpica do mundo. Teremos tudo, mesmo sem termos nada. Ganharemos todas as medalhas, quando sofremos para conseguir 10 ou 11. Seremos um celeiro de atletas, quando na verdade temos apenas pessoas esforçadas correndo em campos de terra, sem patrocínio, apoio ou remuneração. O Brasil se dividirá em dois países. Aquele que o mundo e o governo vêem, e aquele que existe de fato. Sinceramente, eu preferiria morar no primeiro.
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