sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nada incomoda mais que barulho de obra

A paciência do povo acabou ou Obama exagerou na dose?

Se existem algumas máximas infalíveis no mundo é a de que, para que exista qualquer melhora significativa, o processo deve ser um incomodo generalizado, necessariamente. Isso ocorre na reforma de casa, no corte de cabelo, na operação plástica e, simplesmente, na condução da maior potência econômica do planeta. Quase 1 ano após sua histórica eleição, Barack Obama passa pela sua maior provação em um país que parece estar cada mais dividido.

Em um post recente em seu blog “História Globais”, a correspondente do Estadão em Washington, Patrícia Campos Mello, conta sua pequena experiência quando foi dar uma volta com o cachorro e encontrou nas ruas da capital americana uma pequena multidão com cartazes de ódio a Obama. O título do post era “A minoria não tão silenciosa”, fazendo uma referência à expressão cunhada por Nixon que falava dos americanos que simplesmente queriam continuar com sua vida, sem se preocupar com os grandes problemas do mundo. Pois bem, parece que desde que Obama tomou posse e resolveu por em prática suas políticas domésticas, os silenciosos resolveram abrir a boca.

O presidente americano teve um início de mandato com uma das maiores aprovações da história, cerca de 70%. No entanto, esse recorde foi seguido por uma perda mais rápida de popularidade do presidente. Hoje Obama conta com apenas 42% de apoio nos EUA, apenas 8 meses depois de sua posse. A raiz do descontentamento do povo americano é bem claro, mas não é único. O plano de reforma do sistema de saúde americano, notadamente o pior dos países desenvolvidos, virou uma guerra civil de idéias que pode arranhar bem mais a imagem do presidente, mais do que qualquer guerra pelo mundo afora, capaz de causar as reações mais emocionais em apoiadores e críticos.

A idéia do plano de saúde obamista é complicada, e não é de se estranhar que os americanos estejam com medo. Seu eixo principal é transformar o Estado em um gestor da saúde do povo, provendo o Health Care (uma espécie de seguro de saúde) para qualquer cidadão americano. O problema é que hoje - como Michael Moore mostrou no filme Sicko - se uma pessoa não tiver um plano de saúde privado, e notavelmente caro, ela poderia até mesmo enfartar em frente a um hospital que, mesmo assim, não receberia atendimento. Teria arcar com todos os gastos. Com o perdão da comparação esdrúxula, Obama quer criar um SUS americano, mas obviamente melhorado. A principal crítica vem do medo que boa parte dos americanos tem em colocar o Estado entre eles e qualquer coisa. O medo da burocracia, do mal-atendimento e, vejam só, o medo do comunismo.

A grande questão que se levanta agora entre as pessoas com um pouco mais de distanciamento político nos EUA e no mundo é que talvez o país não esteja pronto para as mudanças que Obama pretende conduzir. É preciso lembrar que a direita conservadora, boa parte dela radical, ainda tem um peso significativo na condução da política americana. A audiência da Fox News, praticamente a rede porta-voz do partido republicano, saltou desde que Obama se tornou o candidato oficial do partido democrata. A noção geral é de que ainda tem muito americano que não consegue engolir o fato de um negro liberal estar no comando do país.

Por outro lado, há críticas também da própria ala liberal. Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia e partidário de Obama em sua campanha, agora lança seguidamente ataque aos planos do presidente. Krugman considera que a administração está sendo fraca na condução da retomada americana. Obama, na visão de Krugman, está em cima do muro. E as críticas liberais prosseguem da mesma forma. A paciência era curta e as expectativas muito altas para analistas. Porém, quem melhor resume a situação é Sérgio Dávila, correspondente da Folha e do UOL em Washington.

Barack Obama sabe que não ficará marcado por nenhuma guerra. Mesmo mantendo seu foco no Afeganistão, tanto lá quanto o Iraque sempre serão a herança de George W. Bush. Porém, todo presidente americano precisa deixar sua marca, que é uma exigência da historieta americana. Os sistemas de saúde e tributário precisavam ser reformados de forma urgente, e, por diversas vezes, Obama avisou o povo que transtornos seriam necessários, mas parece que poucos ouviram. A minoria deixou de ser silenciosa, o povo saiu às ruas e os próximos meses serão definitivos para pautar os três anos e 4 meses que restam do mandato. A tendência é de que a guerra ao redor da saúde se acentue ainda mais e a bola de neve cresça. Se Obama resistir, poderá entrar para a história como o presidente que solucionou o maior problema dos americanos. Se falhar, será a desilusão com a maior esperança do país desde Robert Kennedy.

2 comentários:

Rogerio Lima disse...

Parabéns,
vcs acabam de entrar para a Nanobarra do Projeto dos Nanoblogs!!
Sejam bem vindos!
Abraços

Pedro Zambarda disse...

Obrigado pelo reconhecimento, Rogério :]


Bom, Thiago, quanto ao texto: acho que a estatização que Obama propõe saudável sim. Mas isso não significa se opor às privatizações. Cair nesse jogo é acentuar a tese dos republicanos ou de democratas tradicionais.

Se é essa a mudança que Obama propõe, é isso que eu sugeriria para um americano pensar, neste momento.

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