quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sopa de Letras

O caldo estava apenas ameno, não completamente parado. O fluído fica estático quando o autor está sem criatividade. Dessa forma, vocês ficaram sem alguns textos e muitas idéias minhas se perderam em minha própria memória. Não preciso de nenhum apagador, minha (in)capacidade intelectual já se encarrega disso.

A sopa de hoje é direta, pois trata diretamente das letras. Afinal, quem é capaz de criticar os textos no jornalismo? Quem é capaz de analisar os textos específicos? Quem é capaz de caracterizar uma imparcialidade, um distanciamento e um equilíbrio de valores quando o próprio conceito de avaliação é falho, difuso, congruente? Nós somos nossas experiências, nossas pré-concepções experimentais, nosso pré-experimento pessoal.

A sopa de hoje é direta, porque o anonimato não o é. A sopa é concreta, mesmo sendo líquida, maleável, improvisável. A sopa não vem carregada, mas os ingredientes carregam o veneno em forma de bula medicinal. O veneno das letras é o que sufoca o anônimo: as palavras ditas ao ar parecem brisa matutina, brisa desinteressante aos homens. Justamente o que ele não espera é alguém acordado às 5 da manhã.

O prazer que alguém tem ao expressar o que não diz pessoalmente, ou grafar sem assinar o que se fala, é o mesmo de escrever em folha sulfite e fazer um barquinho de papel, é o mesmo de escrever apontamentos sem se dar conta do que se trata o assunto. É uma letra surda, muda e sem tato, é um letra com a mesma virilidade de um palito de madeira, com a mesma resistência de uma seringa oxidada. O prazer de apontar defeitos não chega aos pés do prazer de deixar que a própria pessoa diga seus defeitos: o anonimato sempre tem um motivo, sempre tem uma vergonha, sempre tem um quê de covardia.

Se eu gosto de filosofia, isso não é da sua conta. Se eu aproveito as palavras de alguém ou vejo significados que soam absurdos, isso abastece meu ego, não o seu. No entanto, quando for discutir meu gosto, faça o favor de colocar a discussão no meu gosto, não tornando o mundo um reflexo seu. Freud estava certo, mas obedecer Freud é como obedecer um especialista em terrorismo: ou você aprende a aterrorizar as pessoas com a sua falta de capacidade, ou você fica recluso e com medo, como um maricas que tem taras sexuais por um monitor. Você é o fio motor da sua crítica sem combustão, da sua bateria em curto, do seu escapamento furado.


Sopa de Letrinhas são crônicas publicadas às quintas-feiras.
Publicação em homenagem aos leitores de internet.

Falam de comunicação, de protesto e contra-protesto.

3 comentários:

Anônimo disse...

Pedro,

Você é um bebê chorão! Tem 5 anos, por acaso?

O que há?! LEVANTA ESSA CABEÇA! A vida não é um mar de rosas, muito menos um mar de espinhos! Não dê bola para o que os outros dizem!

Pedro Zambarda disse...

"No entanto, quando for discutir meu gosto, faça o favor de colocar a discussão no meu gosto, não tornando o mundo um reflexo seu".

Repense o que você mesmo fala, Telles.

Anônimo disse...

Mas a parada é a seguinte: você prefere o Yanni ou o Debussy? O Kenny G ou o John Coltrane? O André Rieu ou o George Gershwin?

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