sexta-feira, 9 de maio de 2008

Como destruir um ídolo

Ronaldo Nazário tem 30 anos, e nasceu no Rio de Janeiro. Começou a jogar bola desde cedo, como toda a criança neste país, mas ele acabou se destacando nas categorias de base do Flamengo, até seu passe comprado pelo Cruzeiro. Foi lá que Ronaldo, aos 16 anos começou a se destacar no futebol nacional, indo para a Copa do Mundo de 1994 com apenas 18 anos de idade. Um trajetória muito parecida com a de um certo jogador conhecido por Pelé.

Esta apresentação vem a ser necessária para que possamos lembrar do profissional que está coluna abordará, um profissional que o brasileiro vem fazendo questão de esquecer. Aqui vão alguns números dele: 2 dois mundiais interclubes. 2 Liga dos campeões da Europa, 2 Copas do Mundo, 12 gols marcados em Copa (maior artilheiro da historia), eleito 3 vezes o melhor jogador do mundo pela FIFA. Pouca coisa? Seu apelido é Fenômeno, recebido em 1996 enquanto jogava pela Inter de Milão. Apelido este usado até hoje, já que nunca surgiu outro como ele no futebol desde então (Sim, estou levando em conta Ronaldinho Gaúcho).

A carreira de Ronaldo nunca foi fácil. Foram pelo menos três graves contusões contando com a atual, uma controvérsia na final de Copa do Mundo em 1998 e muitas voltas por cima. E a imprensa sempre teve uma relação de amor e ódio com o craque. Ao mesmo tempo em que seu futebol nunca foi menos que genial, suas fases ruins coincidiam com romances com modelos e noitadas pelos centros europeus. Enfim, a fama de Ronaldo para a imprensa mundial acabou transcendendo o futebol e ele acabou se tornando uma “celebridade”, no melhor estilo possível. E a gota d’água para esta imprensa pegar de vez no pé do atacante foi o episodio do programa com os travestis.

Não vou me dar ao trabalho de explicar o caso, mas o que houve com a imagem de Ronaldo nos últimos dias foi um verdadeiro bombardeio público. Com direito a entrevistas em programas sensacionalistas e especulações sobre sua sexualidade, rapidamente houve quem dissesse que não existiria mais Ronaldo no futebol. Sua entrevista no Fantástico acabou se tornando alvo de chacota, sendo que nela mesmo o jogador tomou uma postura serena, apesar de ter feito algumas racionalizações que não fizeram muito sentido para ninguém. O ápice foi a capa da Veja na ultima semana com os dizeres “Ele poderia ter se tornado um Pelé, mas sua imagem se aproxima de Maradona”. Dentro da revista, uma matéria sensacionalista que não respeita em nada o que Ronaldo já fez pelo esporte deste país. País que não faz questão alguma de cultivar seus próprios ídolos. Pode-se dizer tranquilamente que o único ídolo levado a serio neste país é Ayrton Senna, isso porque ainda existe um certo culto mórbido a sua personalidade. Sim, por que Pelé, é idolatrado por muitos e esquecido por outros tantos, que não relutam em apontar Messis e Cristiano Ronaldos como superiores.

Chega a ser revoltante a recusa brasileira em respeitar seus ídolos. Em uma comparação com um país que adoramos criticar por seu patriotismo que recusamos a ter, os EUA, vemos o abismo que nos separa. Lá, não se pode pensar em falar mal de Muhammed Ali, ou brincar com os feitos de Michael Jordan e Brett Favre, pode-se sim brincar com suas figuras, mas com o limite do respeito. Não pretendo aqui fazer uma análise da necessidade de um ídolo a uma nação, mas tem algo estranho em um povo que têm síndrome de se sentir inferior e ao mesmo tempo nega aqueles que conseguem se superar em algo. Fazemos questão de desmoralizá-los, talvez como forma de trazê-los para perto de nós, pois eles estão errados em atingir o Olimpo, e não nós por não querermos sair do tártaro da normalidade. Já que tais homens chegaram ao Olimpo, que ajam como deuses e não tenham defeitos, por que se os tiverem, nós nos encarregaremos agarrá-los e transformá-los em pecados imperdoáveis. A não ser é claro, que eles partam enquanto ainda exercem seus milagres.

Um comentário:

Mônica Alves disse...

Concordo em gênero, número e grau. Pra variar, colocamos um dos nossos poucos ídolos no chão devio à mídia e sua apelação constante. E é assim que queremos nos tornar um país melhor. Humpf.

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